Mônica Bergamo

Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

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Descrição de chapéu Folhajus aborto

Ministério Público denuncia mulher por sofrer aborto após tentativa de suicídio

No Tribunal de Justiça de São Paulo, ela é apresentada como ré, e o feto, como vítima

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Uma mulher da capital paulista está sendo processada pelo Ministério Público de São Paulo por ter sofrido um aborto após tentar cometer suicídio. Ela é acusada pelo órgão de interromper a gestação em si mesma, crime previsto pelo Código Penal que estipula detenção de um a três anos.

No processo que tramita junto ao Tribunal de Justiça de São Paulo, ela é apresentada como ré, e o feto, como vítima.

À época do ocorrido, a mulher relatou à polícia que sofria de depressão. Disse ainda estar psicológica e emocionalmente abalada.

Ato em frente ao Ministério Público Federal, em São Paulo, contra juíza que tentou impedir aborto de menina de 11 anos - Bruno Santos - 23.jun.2022/Folhapress

Segundo o promotor Rogério Leão Zagallo, no entanto, ela teria assumido o risco de causar a morte do feto ao atentar contra a própria vida, "uma vez que sabia que estava grávida". A tentativa de suicídio ocorreu no final de 2016, mas a denúncia só foi oferecida pelo Ministério Público em novembro de 2020.

No despacho em que recebeu a denúncia, o juiz Adilson Paukoski Simoni afirmou que o caso apresentado descrevia "suficientemente a ilicitude criminal irrogada" pela mulher. O magistrado solicitou máxima urgência para o andamento processual.

Nesta semana, ela foi ouvida pela corte paulista em uma audiência. O Ministério Público ainda tenta localizar uma médica que prestou socorro a ela para colher seu depoimento. Há a possibilidade de que o órgão leve o caso a júri popular, que aprecia crimes que atentem contra a vida.

Procurado pela coluna, o advogado de defesa da ré, Renan Bohus, diz que ela não teve a intenção de praticar o aborto, mas de se matar, e, por isso, não deveria ser acusada pelo crime. O defensor afirma estar "estarrecido e preocupado" com a conduta do Ministério Público.

"Ela foi socorrida a tempo, a ponto de salvar a sua vida, mas cinco dias após ser internada acabou abortando o seu feto de sete meses", diz o advogado.

"Entendo que isso é uma violência institucional contra a mulher. Ela já vai ter a punição por toda a sua vida por ter perdido o filho. O fato de responder uma ação penal é uma dupla punição. O Ministério Público não deveria mover todo o aparto estatal para processar uma mulher, mas dar auxílio e ajuda psiquiátrica. O Estado tinha que atuar com ela, não contra ela", segue.

Atualmente, o aborto é legal no Brasil nos casos em que a gravidez é decorrente de estupro, quando há risco à vida da gestante ou quando há um diagnóstico de anencefalia do feto —este último foi garantido por uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) em 2012.

Em qualquer outra circunstância é considerado crime, previsto no Código Penal de 1940. A pena varia de um a três anos de prisão.

Como mostrou a Folha, o país registrou, nos últimos cinco anos, uma média anual de 400 novos processos judiciais relativos a autoaborto (artigo 124) ou aborto consentido (artigo 126).

O dado é de relatório feito pela Clínica de Direitos Humanos das Mulheres da USP em parceria com a Universidade de Columbia e com a Clooney Foundation for Justice

Pesquisa Datafolha divulgada em 3 de junho mostrou que o número de brasileiros que acreditam que o aborto deve ser proibido em qualquer caso caiu para 32%, em maio de 2022, ante 41% em outubro de 2018. Os resultados atuais mostram ainda que 39% acreditam que a lei deve se mantida como está.


ONDE PROCURAR AJUDA?

Mapa Saúde Mental
Site mapeia diversos tipos de atendimento: www.mapasaudemental.com.br

CVV (Centro de Valorização da Vida)
Voluntários atendem ligações gratuitas 24 horas por dia no número 188: www.cvv.org.br.

FIQUE ATENTO SE ALGUÉM PRÓXIMO DE VOCÊ...

  • Mostrar falta de esperança ou muita preocupação com sua própria morte

  • Expressar ideias ou intenções suicidas

  • Se isolar de suas atividades sociais e cortar o contato com outras pessoas

  • Além disso: perder o emprego, sofrer discriminação por orientação sexual ou identidade de gênero, sofrer agressões psicológicas ou físicas, diminuir práticas de autocuidado.


EM CASA

O ator Romulo Estrela como Oto, personagem que interpretará em "Travessia", em São Luís - Fabio Rocha/Globo

O ator Romulo Estrela viverá o personagem Oto em "Travessia", próxima novela das nove da TV Globo. Escrita por Gloria Perez e com direção artística de Mauro Mendonça Filho, a trama teve algumas de suas cenas gravadas em São Luís, no Maranhão, cidade natal do artista.

"Saí daqui aos 17 anos para estudar e trabalhar como ator. Voltar gravando uma novela das nove me deixa muito realizado", afirma ele. Oto, seu novo papel, será um hacker sem endereço fixo. "Ele é quase como um homem invisível", diz o ator. O folhetim tem estreia prevista para outubro deste ano.

com BIANKA VIEIRA, KARINA MATIAS e MANOELLA SMITH

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