Mônica Bergamo

Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Mônica Bergamo
Descrição de chapéu Folhajus

British Petroleum apura conduta de seu presidente que agrediu juíza auxiliar de Fachin

Petrolífera diz reconhecer o compromisso do Brasil com a democracia

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

A petrolífera britânica British Petroleum (BP) abriu uma investigação para apurar a conduta do chefe da empresa no Brasil, Adriano Bastos, após ele ser acusado de agredir verbalmente a juíza federal Clara da Mota Santos Pimenta Alves. A magistrada atua no Supremo Tribunal Federal (STF) como auxiliar do ministro Edson Fachin.

Como revelou a coluna, Alves registrou um boletim de ocorrência, notificou o compliance da petrolífera e deve entrar com uma ação cível após supostas declarações xenofóbicas feitas pelo executivo.

A juíza federal Clara da Mota Santos Pimenta Alves, que auxilia o ministro Edson Fachin no STF - Tribunal Regional Eleitoral do Mato Grosso/Reprodução

"A BP adota robustas regras de compliance no desenvolvimento de suas atividades e preza pelo respeito à diversidade e inclusão em todos os países nos quais atua", diz a empresa, em nota.

"Reconhecemos o compromisso do Brasil com a democracia e reforçamos que estaremos ao lado do governo brasileiro para produzir soluções em energia para o país. A companhia informa que está apurando o ocorrido", afirma ainda.

O episódio teria ocorrido em uma pizzaria de Cuiabá, na sexta-feira (4). A magistrada, que é baiana, estava acompanhada de suas duas filhas pequenas, que haviam acabado de fazer uma apresentação escolar. Outros pais também estavam no local participando da confraternização.

À Polícia Federal, ela afirmou que um advogado teria se aproximado de sua mesa e proferido acusações, sem provas, de que as eleições deste ano foram fraudadas. Alves defendeu o sistema eleitoral, e uma colega afirmou que ela exercia a função de juíza e atuava no STF.

Segundo o relato da juíza aos policiais, foi então que o chefe da BP no Brasil, Adriano Bastos, também teria se aproximado de sua mesa e dado início às agressões verbais. No boletim de ocorrência registrado, ela diz que o executivo teria atribuído a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Bahia, estado que "não produz nada" e "não possui PIB".

Bastos, segue a magistrada, ainda teria dito que o eleitorado do petista é formado por "assistidos", além de "funcionários públicos" que "não trabalham, não fazem nada".

À polícia, a juíza federal afirmou que o chefe da BP no Brasil sabia de sua origem baiana e de sua ocupação, já que suas filhas convivem juntas há mais de dois anos.

"Frise-se que a senhora Clara e suas filhas eram as únicas pessoas de origem baiana no recinto e que a senhora Clara era a única funcionária pública, não havendo quaisquer outros possíveis destinatários das ofensas, proferidas em público, no ambiente de um restaurante, em mesa na qual estavam sentadas cerca de 12 pessoas", disse a defesa da juíza em notificação enviada ao compliance da empresa britânica.

No documento, a magistrada afirma que a suposta postura do executivo fere o código de conduta e os princípios éticos da petrolífera em que trabalha —e pede que ele seja responsabilizado.

Alves também diz que os xingamentos relatados podem configurar injúria qualificada por conter elementos referentes à sua origem regional.

"O Brasil vive, atualmente, um ambiente de crise democrática em que setores da sociedade, notadamente ligados à extrema direta, questionam o resultado das eleições em que foram derrotados bem como à legitimidade do voto daqueles que votaram no candidato vencedor", disse a notificação enviada à BP.

"Nesse contexto, e em linha com seus códigos de conduta, a companhia deve, por meio de seus canais internos de denúncia e compliance, adotar as medidas cabíveis para interromper episódios discriminatórios e prevenir novas investidas do seu 'head of country' [chefe nacional] no Brasil", afirmou.

Na segunda-feira (7), um grupo de magistradas se reuniu no gabinete do ministro Edson Fachin e prestou solidariedade à juíza federal por causa do episódio.

com BIANKA VIEIRA, KARINA MATIAS e MANOELLA SMITH

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.