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Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

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Descrição de chapéu América Latina

Haddad diz que classe dominante tentará envernizar o bolsonarismo em 2026

Ministro diz que não pode se desconcentrar para pensar em candidatura a presidente

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O Ministro da Economia, Fernando Haddad, durante entrevista à Folha, em escritório da pasta localizado em São Paulo Marlene Bergamo/Folhapress

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirma que o PT terá candidato à Presidência da República mesmo depois que Lula não puder, ou não quiser, se candidatar.

Apesar de aliado a outras forças políticas, ele acha que a legenda não abdicará de sua "própria construção", e por isso lançará um nome.


Vídeo - Haddad: 'O Brasil é um país truculento'


Questionado se ele seria esse nome, diz que está concentrado em seu próprio trabalho e que não pode ter preocupações que não sejam "as atuais".

Na segunda parte da entrevista concedida à coluna, ele afirma ainda que o Brasil precisa liderar a América do Sul e explica os elogios de Lula à Venezuela: "Ele pode ajudar com a autoridade de quem teve a coragem de se aproximar".

Leia, abaixo, os principais trechos da entrevista.

ELEIÇÕES DE 2026

Estamos vivendo, provavelmente, o último período de Lula no poder, que pode durar até 2026, ou mais oito anos, caso ele se reeleja uma vez mais. Quem vai incorporar o projeto do governo depois disso?
Não é razoável imaginar que o PT não tenha candidato.

Um partido que ganhou cinco eleições presidenciais, e só não ganhou a sexta [em 2018] porque as condições eram muito desfavoráveis, vai abdicar da sua própria construção?

É muito difícil isso acontecer, assim como é difícil pedir para a oposição não ter candidato. Vai ter candidato.

Não sei a força que o [Jair] Bolsonaro vai ter até 2026, mas provavelmente um candidato ungido por essa força mais de extrema direita tenha chance de protagonizar com o PT.

O senhor concorreu em 2018 e hoje é ministro central do governo. É candidato à sucessão de Lula?
Estou num cargo desafiador. Muitas equações têm que fechar para tudo dar certo. Se eu me desconcentrar, aí é que não dá certo mesmo, entendeu?

Não posso ter outras preocupações que não sejam as atuais. Eu tenho muita coisa para resolver.

Agora, se o projeto continuar caminhando bem, é natural que Lula se apresente ou que apresente alguém.

Do PT?
Mas qual seria a alternativa?


Veja a íntegra da entrevista de Fernando Haddad


O ministro da Justiça Flávio Dino, que é do PSB, por exemplo.
No PT, fora do PT, no PSB? E se o [vice-presidente Geraldo] Alckmin quiser ser o candidato do PSB? Você percebe? É uma equação difícil de fechar.

Eu não estou falando aqui de condições pessoais —tem muita gente qualificada. Estou falando de política. De forças sociais concretas.

Quando eu disse, há muitos anos, que a extrema direita estaria no segundo turno em 2018, eu falava de uma força social que vi nascer da minha janela de prefeito de São Paulo [referindo-se aos protestos de 2013]. Eu não falava de um personagem.

O que o senhor vê hoje de sua janela de ministro da Fazenda?
A extrema direita ainda é e será um desafio. Ela encontrou um canal de comunicação com as pessoas. Sabe usar e abusar disso. E não vai se dissipar com facilidade.

A classe dominante tentará envernizar essa força e dizer: "Agora que o Bolsonaro está inelegível, o que restou do bolsonarismo é uma coisa respeitável".

Na minha humilde opinião, é a fábula do escorpião. Uma vez extremista, você não domestica com muita facilidade assim, não.


Vídeo - Haddad: 'É justo cortar Bolsa Família para manter isenção dos ricos que só existe em paraíso fiscal?'


PROJETO DE PAÍS

Uma das bandeiras de Lula é trazer o país à normalidade democrática e reestruturar programas interrompidos pelo governo anterior. Posto isso, não falta até agora um projeto claro de país, uma ambição maior a ser apresentada aos eleitores?
Em julho de 2003 [referindo-se ao primeiro mandato presidencial do PT] também não estava claro para a sociedade a que veio o Lula.

Ele falava em acabar com a fome e em transformar o Brasil em um país de classe média.
Se depender de mim, na semana passada eu apresentei para o presidente um plano de transição ecológica que tem uma dimensão ambiental, social e energética, e que pode transformar o Lula num líder para além do que ele já é no mundo.

A impressão que a gente tem é a de que Lula tem um projeto claro para o mundo, mas não para o Brasil.
É que isso vem ao encontro do que o Brasil pode de melhor, pela matriz energética, pelo potencial de produção de biocombustíveis.

Ninguém mais quer colocar tudo [investimentos] em um país só, como aconteceu com a China nos últimos 40 anos.

As empresas estão repensando em como investir, veem a questão muito mais regionalizada do que globalizada, e o Brasil pode se beneficiar.

O Brasil precisa liderar a América do Sul, não para hegemonizar, mas para puxar o debate com seus vizinhos.


Vídeo: Haddad se diz centro-esquerda e afirma que Carf era 'absurdo patrimonialista'


VENEZUELA

E como o senhor vê os elogios de Lula à Venezuela?
O Lula sempre está dois passos na frente. Ele quer normalizar as relações no continente.

Ele disse que o conceito de democracia é relativo e foi muito criticado por isso.
Existem países mais e menos democráticos. Isso está na literatura, não é binário. Nisso Lula tem razão.

Mas eleições livres são uma pedra fundamental do sistema democrático.

O mundo, com razão, está preocupado. Se a Venezuela não demonstrar que vai conseguir patrocinar um pleito absolutamente livre, incontestável, com acompanhamento internacional, vai ficar difícil. O embargo contra ela não vai ser levantado.

Então eu torço para que o país pavimente esse caminho.

Lula fez o gesto de buscar aproximação com a Venezuela. Ele sabe o que está em risco lá. E vê com preocupação.

Ele age no sentido de trazer a Venezuela para perto para depois poder ajudar com a autoridade de quem teve a coragem de se aproximar.

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