Os brasileiros que estão sitiados na Faixa de Gaza podem deixar o território conflagrado no sábado (14). A expectativa foi confirmada à coluna por fontes do Ministério das Relações Exteriores.
O ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta, também confirmou a informação à coluna. "Está tudo certo com o Egito, que não se opõe à saída", afirma.
Faltaria, apenas, que o governo de Israel permitisse a passagem em áreas que controla perto da fronteira com o país árabe. E que se comprometesse a não bombardear os brasileiros.
Segundo a coluna apurou, Israel sugeriu que a travessia até a fronteira do Egito, país com o qual o Brasil vem negociando a operação, seja feita em um comboio internacional.
Com isso, a chance de conseguir passar pela fronteira aumenta: o Egito está sob pressão de diversos países que também querem tirar seus cidadãos de Gaza. Se todos chegarem juntos à fronteira, a organização para a evacuação seria facilitada.
O Egito já estaria disposto a abrir as fronteiras no sábado, das 12h às 17h no horário local (das 6h às 11h de Brasília). A operação é considerada de altíssimo risco. Os repatriados sairiam por uma região do Egito que também é conflagrada e dominada por rebeldes.
O Brasil já estaria fornecendo, segundo a mesma fonte, os nomes de todos os brasileiros e as placas dos carros nos quais eles devem se locomover.
"Se Deus quiser, tudo está se desenhando para eles serem retirados amanhã e passarem a fronteira do Egito", afirma um diplomata à coluna, em condição de anonimato. "Amanhã à noite vai terminar o pesadelo. Pelo menos, para esses brasileiros", acrescenta.
Os apelos de outras nações se intensificaram nas últimas horas com os ultimatos de Israel para que os palestinos evacuem a região norte do país, indicando que haverá um bombardeio em massa no território e milhares de mortos.
Neste momento, um grupo de cerca de 30 brasileiros está acolhido na escola católica Rosary Sisters School, em Gaza. O espaço, arranjado pela diplomacia brasileira, era considerado seguro até o Exército israelense dar um ultimato para que todos os palestinos se desloquem do norte para o sul da região.
O prazo para a evacuação, duramente criticado pela ONU (Organização das Nações Unidas), se esgota nas próximas horas.
Bombardeios e tiroteios já são ouvidos pelo grupo que se refugia na escola —os confrontos armados se estendem pelas ruas e quadras do entorno da instituição católica, segundo relatos.
De acordo com integrantes do Itamaraty que prestam assistência aos brasileiros, o governo israelense está ciente de que a escola abriga cidadãos que deverão ser repatriados pelo Brasil.
Embora esteja no meio do fogo cruzado, a avaliação é de que a escola segue sendo a opção mais segura enquanto os brasileiros aguardam socorro.
Mais cedo nesta sexta-feira (13), como mostrou a coluna, um ônibus foi designado para retirá-los do local e levá-los até a cidade de Khan Younes, mas um bombardeio na via principal da cidade de Gaza fez com o que plano fosse adiado.
A expectativa, agora, é que os brasileiros saiam da Faixa de Gaza até a noite de sábado, encerrando o que tem sido chamado por membros da diplomacia de "pesadelo".
Na quinta-feira (12), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conversou ao telefone com o presidente de Israel, Isaac Herzog. O petista afirmou que agradeceu ao apoio na retirada de brasileiros que estavam no país, que declarou guerra ao Hamas após a facção terrorista lançar ataque em território israelense no sábado (7).
"Reafirmei a condenação brasileira aos ataques terroristas e nossa solidariedade com os familiares das vítimas. Solicitei ao Presidente todas as iniciativas possíveis para que não falte água, luz e remédios em hospitais", escreveu, nas redes sociais.
O clima entre aqueles que tentam sair da faixa conflagrada é de pavor, como registrado em vídeo pela brasileira Shahed al-Banna, de 18 anos de idade.
"A gente achava que a escola era um lugar seguro para nós, mas agora não é um lugar seguro. Eles vão entrar no país e vão acabar com todo mundo. Os prédios, as árvores, crianças, pessoas, bichos, tudo vai ser morto", afirmou ela, em relato compartilhado com a coluna.
Ao menos 22 brasileiros aguardam uma oportunidade para deixarem Gaza. Deles, dez são crianças, sete são mulheres e cinco são homens. Nem todos, contudo, estão abrigados na escola: 12 brasileiros estão na cidade de Khan Younes, ao sul da Faixa de Gaza.
com BIANKA VIEIRA, KARINA MATIAS e MANOELLA SMITH
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