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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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'Mercado de viagem internacional dá sinais de aquecimento', afirma companhia aérea

Gonzalo Romero, da Air Europa no Brasil, diz que passagens voltaram a ser compradas com antecedência

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São Paulo

Pela primeira vez desde o início da pandemia, o diretor-geral da Air Europa no Brasil, Gonzalo Romero, diz ver uma mudança importante no comportamento do passageiro de voos internacionais. As passagens voltaram a ser compradas com antecedência superior a três meses, e há mais crianças nas filas de embarque, o que pode ser um sinal de retomada nas viagens de lazer em família, segundo ele.

A empresa, que reabrirá as partidas diárias de São Paulo a Madri no fim de março, aposta que os voos para fora começaram a se reerguer. As rotas do Nordeste ainda não voltaram.

Diretor-geral da Air Europa no Brasil, Gonzalo Romero - Divulgação

Pelos dados setoriais da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), o número de passageiros transportados em voos internacionais no mercado brasileiro em dezembro ainda ficou 50% abaixo do mesmo mês em 2019. No mercado doméstico, esse desfalque já é bem mais leve, em torno de 13%.

Essa volta dos voos diários de São Paulo a Madri que a Air Europa acaba de anunciar é um sinal de esperança na retomada do internacional, que ainda patina enquanto o doméstico reagiu antes? A programação é feita à medida que a demanda vai solicitando. É sinal de que estamos conseguindo enxergar uma boa demanda reprimida pós-pandemia que tanto estamos esperando com muita ansiedade. Hoje, realmente, o sinal é bom. Hoje, temos cinco voos semanais, e volta a ser diário em março, que é a mesma oferta que tínhamos no pré-pandemia em São Paulo.

Como está a ocupação? Hoje está muito bem. Fechamos dezembro acima de 91%. Janeiro estamos em torno de 87%. Para março já estamos em 87% e ainda faltam duas semanas de vendas. Para abril, já com frequência diária, estamos em torno de 60% e ainda faltando mais de um mês de vendas. Então, realmente, a demanda está aquecida.

Já estamos enxergando uma coisa que não víamos no ano passado, que é a compra com antecipação. O passageiro está programando, o que é um bom sinal, porque as vendas feitas em 2021 era para viajar em 30, 60, no máximo 90 dias. Agora, já estamos enxergando vendas para junho, julho, agosto. Isso não vinha acontecendo.

As pessoas estão mais confortáveis para programar a compra da viagem? É reflexo de que o passageiro está mais confiante para programar férias.

Eu fui acompanhar as nossas operações no aeroporto de Guarulhos. E vi um grande volume de famílias, pais e filhos viajando de férias. Dá para ver na porta do avião que tipo de passageiro está embarcando hoje. São famílias já viajando por lazer, se programando. E isso vem, principalmente, da flexibilização das restrições dos países da Europa. Isso está aquecendo o mercado.

Outro sinal muito bom é o nosso canal de atendimento. A quantidade de ligações, emails e perguntas que recebemos por dia cresceu muito no último mês. São passageiros querendo remarcar data, trocar voucher. Está acontecendo uma movimentação em outros setores da empresa, não só na demanda.

E preço? Vão ter que fazer promoção para ajudar a impulsionar essa demanda? Nossa principal recomendação para o passageiro sempre é tentar se planejar para conseguir o menor preço. Mas estamos permanentemente estimulando essa demanda. Além de promoção, estamos oferecendo troca de data sem penalidade até sete dias antes do embarque. Então, estamos estimulando a retomada, não só com tarifa, mas com flexibilizações e parcelamento. Estamos trabalhando forte nisso para tentar recuperar o mais rápido possível.

O cenário da pandemia no Brasil oscilou muito. Temos um governo que não apoia a vacina. No pico da segunda onda, em março, o presidente da Latam dizia que o Brasil seria um dos últimos a retomar liberdade de fronteiras nos voos. Como o turista brasileiro tem sido visto hoje? De início, foi um pouco mais difícil para nós, mas depois, já com a vacina, o Brasil avançou. Tem mudado esse conceito que você falou que tínhamos no início. Hoje, o mercado brasileiro é fundamental para essa recuperação do turismo na Europa. Quase 95% dos países da União Europeia já aceitam o brasileiro como turista seja com vacinação ou só PCR. É um sinal de que o Brasil conseguiu se posicionar com o assunto da vacinação e transmitiu um pouco mais de confiança aos países da Europa.

Como está a situação financeira da empresa? Chegou a perder metade do valor em negociação para venda? Antes da pandemia, a Air Europa sempre foi uma empresa super rentável, eficiente, com custo baixo e com equipamentos modernos. Antes da pandemia, não pela situação da empresa mas por oportunidade de negócio, se tentou vender. Mas depois, a decisão terminou.

A Air Europa mantém e continua com o seu próprio plano de retomada. Achamos que a principal estratégia foi tomar decisões como unificação de frota. Os equipamentos mais antigos têm no máximo 4,5 anos. São super novos. E isso gera mais eficiência, melhor consumo de combustível e nos ajuda muito a sair da pandemia.

Desde outubro, a Air Europa conseguiu bom ingresso de caixa, nos deu confiança para continuar sozinhos com o nosso plano de negócios. A companhia está tentando se recuperar do impacto da pandemia que atingiu toda a indústria.

Qual é a importância do mercado brasileiro para vocês? O Brasil é dos nossos principais mercados internacionais, junto com Estados Unidos e a própria Espanha, que é o nosso principal mercado nacional. É prioritário. Por isso, estamos aumentando a frequência diária em São Paulo e esperamos retomar a rota no Nordeste neste ano.

Aquele projeto de entrar em voos domésticos no Brasil avançou? Foi um negócio pensado muito antes da pandemia, em 2018. Enxergamos uma possibilidade no momento de explorar o mercado nacional mas depois, com diferentes oportunidades de negócio e diferentes acordos internacionais e a chegada da pandemia, ficou um pouco de lado. Hoje, o foco no Brasil é o negócio internacional para recuperar a frequência.

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Avião decola no aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, com o Pão de Açúcar ao fundo - Eduardo Anizelli -27.ago.18/Folhapress

Como analisam a devolução do Galeão pela concessionária anunciada? Nós e as concessionárias de aeroportos permanentemente lidamos com custos. Temos grandes desafios com custos operacionais muito grandes e a demanda que não ajudou muito, além do custo do combustível.

Entrega de concessão, com certeza, é preocupação. É sinal de que, na pandemia, a indústria de aviação ainda não conseguiu se recuperar totalmente.

Eu sempre falo que o potencial aqui é gigante. E 2019 tinha um cenário muito bom de voos e passageiros. Se colocarmos foco em tentar recuperar minimamente a oferta que tínhamos na época, acho que as companhias aéreas e as concessionárias ficarão um pouco mais tranquilas com o dia a dia.

Raio-x

Com atuação há quase 20 anos no setor de aviação, o executivo é diretor-geral da Air Europa no Brasil desde setembro de 2018. Trabalhou em países como Argentina, Bolívia e Chile. Está no Brasil desde 2015, onde ocupou, antes, o cargo de diretor-geral Brasil da Aerolíneas Argentinas

Joana Cunha com Andressa Motter e Ana Paula Branco

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