O Brasil perdeu para o Uruguai a terceira colocação na lista dos países menos corruptos nos negócios da América Latina.
É o que mostra o novo levantamento feito pelo escritório norte-americano de advocacia Miller & Chevalier Chartered.
EUA e Chile estão no topo como os mais amigáveis para negócios livres de propinas entre 17 nações pesquisadas.
No sentido contrário, países como Venezuela, Nicarágua e Bolívia são apontados como os mais corruptos.
Os dados foram coletados por 14 escritórios de advocacia da região. No Brasil, o Demarest Advogados ouviu 239 executivos dos 1.070 que participaram da pesquisa no continente.
De acordo com a pesquisa, quatro em cada dez empresas no cone Sul acreditam que perderam negócios para concorrentes que fizeram operações ilegais. Quase metade dos entrevistados (46%) afirmam que a corrupção foi um obstáculo significativo para fechar negócios.
Partidos políticos e governos locais foram apontados como os setores mais corruptos.
Para o Demarest, o Brasil perder a terceira colocação para o Uruguai foi uma surpresa, uma vez que o vizinho sul não aplicou leis anticorrupção em grandes casos nos últimos quatro anos.
Para os entrevistados, a corrupção está "solidamente enraizada" na região, mesmo com o aumento de esforços do poder público no combate a práticas ilegais no ambiente de negócios e na política.
Eloy Rizzo Neto, sócio do Demarest na área de investigações corporativas e responsável pela pesquisa no Brasil, afirma que o resultado mostra um cenário ainda "assustador", porém com avanços em relação aos levantamentos de 2008, 2016 e 2020.
Na pesquisa de 2008, 60% dos entrevistados relataram perda de negócios devido à corrupção, índice que foi de 52%, em 2016, de 47%, em 2020, caindo para 41% neste ano.
Por outro lado, no Brasil, a sensação de impunidade aumentou. Quatro anos atrás, 86% dos executivos acreditavam que pessoas que praticavam algum ato de corrupção seriam processadas. Neste ano, o índice caiu para 71%.
Essa percepção também contaminou a credibilidade das leis anticorrupção. Em 2020, 74% dos executivos consideravam que elas ajudam a mitigar riscos. Hoje, só 50% pensam dessa forma.
Os brasileiros também demonstram pouca confiança nos órgãos de acusação e apontam o vazamento de informações como o principal motivo para não denunciarem casos de corrupção.
"Certamente o resultado está relacionado ao esfacelamento da Lava Jato, a equívocos que diversos órgãos cometeram durante a operação e, mais recentemente, às anulações de multas e punições às empresas que aconteceram na Justiça", diz Rizzo Neto.
Enquanto o problema com a corrupção se expande, as empresas aplicam mais práticas de compliance e due diligence, contratam mais serviços de auditorias e adotam procedimentos anticorrupção.
"O Brasil é considerado o país da América Latina com programas de compliance e integridade mais sofisticados, assim como os EUA, até em razão das obrigações assumidas pelas empresas ao longo da operação Lava Jato e de problemas enfrentados no dia a dia."
Com Diego Felix
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