Há quase seis anos atuando na linha de frente em comunidades brasileiras, pude vivenciar as reais mazelas sociais e ambientais de nosso país.
Do Rincão da Lagoa, comunidade periférica em Porto Alegre (RS), passando pelo semiárido nordestino de Mauriti, no Ceará, até as profundezas da Amazônia Legal, no Acre, Pará e Amapá, o que mais se evidenciou foi a necessidade de soluções de problemas diversos que assolam a parcela mais vulnerável da população.
Cada território apresenta peculiaridades próprias, que tornam desafiador o trabalho de impacto socioambiental nas mais de 13 mil favelas brasileiras. Do outro lado do muro, muitos querem ajudar e, na maioria das vezes, se oferecem para doar cestas básicas para esses locais.
Mas como entregar arroz e feijão para famílias que nem sequer têm acesso à água em casa, e, consequentemente, condições básicas para cozinhar?
No início de 2021, tivemos um estalo: e se pudéssemos ouvir de fato o que essas pessoas necessitam? E como fazer isso de forma prática, eficaz e sustentável, gerando resultados perenes e, acima de tudo, mensuráveis?
À época, pouco ou nada se falava sobre escuta ativa —termo utilizado na comunicação para se referir ao ato de ouvir com atenção e interesse—, ainda mais se atrelada às TICs (tecnologias da informação e comunicação).
Somou-se a isso a importância da captura de dados dos beneficiários nesses territórios, sempre respeitando a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais). Essa população, por vezes, passa despercebida em trabalhos de censos.
Todo esse conjunto foi motivo para o time da Florescer Brasil compilar, em aplicação própria, uma metodologia inédita de diagnóstico, monitoramento de impacto social e medição de índices de pobreza.
A plataforma de diagnóstico e monitoramento de impacto apresenta abordagem completa para as principais dores encontradas localmente. A partir da digitalização da prática de escuta ativa já validada em territórios das cinco regiões do país, propõe-se, primeiramente, a identificação das principais deficiências encontradas.
Famílias respondem a indicadores por meio de um weblink ou via tablets disponibilizados nas próprias comunidades. Depois disso, cria-se um plano de ação socioeconômico e ambiental, construindo com a pessoas ações personalizadas e focadas no impacto direto.
Por exemplo, uma empresa de saneamento básico pode direcionar a metodologia para determinada localidade a fim de solucionar o problema de abastecimento de água, com base em indicadores respondidos pelos próprios moradores.
Na prática, o projeto executa soluções e tecnologias socioambientais associadas às dores identificadas. Assim, o desenvolvimento econômico sustentável é amplamente fortalecido —tanto por cases previamente implementados como por novas possibilidades e atividades proporcionadas às comunidades.
Por fim, a plataforma permite ao beneficiário final o acúmulo de pontos caso contribua de forma colaborativa nas respostas. Eles podem ser trocados por descontos em contas de água e luz, em comércios locais ou até mesmo em cashback.
A Florescer reconhece como objetivo principal do projeto o restabelecimento e a criação de unidades territoriais fortalecidas no quesito desenvolvimento econômico sustentável local.
Isso é possível a partir da fixação do ser humano a seu território de pertencimento e da valorização de seu potencial, o que contribui, ainda, para geração de renda, emprego e empreendedorismo nas comunidades atendidas.
E, não menos importante, o mapeamento preciso e assertivo de regiões de alta vulnerabilidade social e o melhor entendimento das reais necessidades, com a metodologia, possibilitam a elaboração de ações conjuntas, como a criação de novas políticas públicas, se assim for do interesse de órgãos competentes envolvidos.
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