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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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Descrição de chapéu corinthians

Tática não é estática

Há 50 anos, o Corinthians preparava-se para pegar o Santos e quebrar o tabu de 11 anos

Fábio Carille ressuscitou o 4-2-4 depois de cinquenta anos sem o futebol brasileiro ter um time que jogasse assim. Mas o Corinthians, de verdade, também não joga assim. Basta entender que a vitória sobre o Palmeiras, no sábado (24) construiu-se no meio de campo. Dois volantes, dois pontas e dois atacantes, meias de origem. Contra o Millonarios, no segundo tempo, havia só Mateus Vital no ataque.

A rotatividade permitia ter sempre quatro homens no meio. “A ideia era 4-4-2 sem a bola e 4-2-4 com ela”, disse Fábio Carille.

A explicação faz mais sentido do que ler Guardiola, ao escrever que os sistemas táticos parecem números de listas telefônicas. Não são números. São nomes. Os sistemas táticos recebem nomenclaturas, mas a maioria inclui números para nominar a formação inicial —exceção do WM. 

Como a tática não é estática, os sistemas em movimento passaram a ser chamados de esquemas.

Sistema tem nome (4-4-2, 4-2-4, 3-5-2). Esquema é isso em movimento, a estratégia. Atacar o lado mais frágil do rival com um de seus meias mais avançado.

É justo que Carille distinga a forma de jogar com a bola e sem ela. Na prática, o Corinthians jogou suas últimas duas partidas com duas linhas de quatro homens e liberdade para os dois da frente.

O rival corintiano no clássico deste domingo (4) é o Santos, que executou o mais perfeito 4-2-4 da história do Brasil. O Santos de Pelé jogava assim, de verdade, com a bola e sem ela, mas os jornais o escalavam no velho WM: Gilmar, Lima, Mauro e Dalmo; Zito e Calvet; Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe. 

Fábio Carille durante o treino no CT Joaquim Grava, na zona leste da cidade de São Paulo
Fábio Carille durante o treino no CT Joaquim Grava, na zona leste da cidade de São Paulo - Daniel Augusto Jr./Ag. Corinthians/Divulgação

Os jornais nunca se preocuparam em reproduzir o desenho do campo. Daí a dificuldade para definir quando começou a prevalecer um sistema sobre outro. 

Na segunda-feira, 4 de março de 1968, exatos 50 anos atrás, o Corinthians preparava-se para enfrentar o Santos e quebrar o tabu na quarta-feira (6). Fazia 11 anos que não vencia o rival. Era dirigido por Luis Alonso Perez, o Lula, técnico responsável pela formação do melhor time da história no 4-2-4: o Santos de Pelé.

Com o êxodo e times mudando de elenco a cada semestre, talvez hoje fosse o Santos de Lula, não de Pelé. Diríamos que Lula inventou o 4-2-4.

O Corinthians jogou com Diogo, Osvaldo Cunha, Ditão, Luís Carlos e Maciel; Tião e Rivelino; Buião, Paulo Borges, Flávio e Eduardo. O sistema era o mesmo que Lula adotava no Santos, ainda que Paulo Borges ajudasse o meio de campo.

O Santos, escalado por Antoninho, tinha Cláudio, Carlos Alberto, Ramos Delgado, Joel Camargo e Rildo; Lima e Negreiros; Kaneko, Toninho, Pelé e Edu. 

O sistema, com linha de quatro na defesa, dois no meio e quatro atacantes já estava morrendo. João Saldanha fez assim o Brasil das eliminatórias, mas, em 1970, Zagallo montou com três no meio e todos atrás da linha central quando perdiam a bola.

O Cruzeiro escalou Piazza, Zé Carlos, Dirceu Lopes e Tostão, em 1969. O apelido Quadrado Mágico faz parecer que todos eram meio-campistas. Não! Eram quatro gênios.

O Corinthians não escala um 4-2-4. Seu time jogou os últimos jogos no 4-4-2, com preferência por escalar os melhores jogadores. Quase sempre dá certo. 

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