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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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Copa América não pode ser vestibular para Tite

Trabalhar quatro anos ininterruptos até o Mundial é como estudar para uma prova

Homem em pé ao fundo, com dois homens em primeiro plano, borrados. Todos estão em gramado
Tite durante treino da seleção brasileira no estádio MK, na Inglaterra, em novembro - Lucas Figueiredo/CBF

Tite debateu com Casagrande durante a gravação do programa Grande Círculo, do SporTV. Julga que sua seleção foi uma das quatro melhores da Copa do Mundo em qualidade. Casão argumentou a favor do resultado. Se a Inglaterra esteve nas semifinais, foi melhor, para o comentarista.

Mas Tite defende que a seleção jogue diferente dos ingleses. Também não quer a seleção jogando como a França. Em outro programa, o Visão FOX, o técnico mostrou os franceses marcando atrás do meio de campo e contra-atacando com a velocidade de Mbappé.

Não é isso o que deseja. Prefere troca de passes para achar o espaço e infiltrar-se. Também mostrou como quer os meias flutuando atrás dos volantes, o que chama de entrelinha —entre as linhas de meio de campo— e defesa. A ideia é deixar o zagueiro indefeso. Se sair na marcação do meia, abre o corredor para o ponta. Se ficar, o meia destrói a defesa e chega ao gol. O sonho é ver o Brasil jogando bem.

Jogou mal contra Uruguai e Argentina, mas tratou de construir com a bola no pé todo o tempo. Difícil seria ver o técnico da seleção defender a ideia de que a seleção teria de atrair o adversário e jogar em contra-ataques. Se dissesse isso, apanharia de todos os críticos.

Chamávamos Lazaroni e Parreira de retranqueiros. A seleção de 1994 era chata de se ver, mas retrancada não era. Mesmo assim ficou com a pecha. Imagine se Tite quisesse defender em vez de atacar...

A contradição poderia estar em Tite querer a seleção jogando de uma maneira que os times do Brasileiro não jogam. Poderia, mas não está. Porque ninguém em sã consciência quer a seleção jogando o futebol que se pratica internamente no país. A seleção sempre teve o ataque por vocação. Então, Tite busca em 2019 o que o Brasil inteiro quer: a seleção jogando bem.

Apesar de o treinador afirmar que houve equipes que tentaram construir o jogo no Brasileiro, como Ceará, Flamengo e Grêmio, julga que outros times não trabalham assim, porque seus técnicos não têm segurança no emprego e preferem esticar uma bola, ganhar pelo alto e dominá-la mais perto do gol.

E se o técnico da seleção não tiver segurança no emprego? A seleção vai jogar no esticão também? Se os treinadores de clube estão sujeitos à política mesquinha dos clubes, isso não precisa acontecer com a seleção brasileira.

Mas a segurança de Tite está ligada ao sucesso na Copa América, que será disputada em junho. Ninguém na CBF condiciona a permanência no cargo ao título. Quem faz isso somos nós mesmos, torcedores e comentaristas.

De 2002 para cá, a seleção perdeu Copas com ciclos completos de quatro anos de trabalho com Parreira (2006) e Dunga (2010) e com ciclos incompletos de Felipão (2014) e Tite (2018). Os campeões tiveram trabalhos de quatro anos com a Alemanha de Löw (2014) e a França de Deschamps (2018), mas a Espanha de Del Bosque (2010) e a Itália de Lippi (2006) tiveram só dois anos com o mesmo treinador.

Há casos de sucesso dos dois jeitos, mas trabalhar quatro anos ininterruptos até o Mundial é como estudar para uma prova. Você não vai aconselhar seu filho a não estudar e apostar que mesmo assim vai se dar bem.

Trabalhar certo é o caminho mais curto. Feliz 2019!

O incrível Klopp

O Liverpool mostra que não há só um jeito de vencer. O time trocou 723 passes contra o Newcastle, longe dos mais de 900 usuais do City. É o terceiro em posse de bola e arrisca mais passes longos. Mas joga bem, ao seu estilo, e nunca foi tão favorito ao título inglês desde seu último, em 1990.

São Paulo forte

Hernanes, meia do tri brasileiro, volta e junta-se a Pablo, maior ambição do mercado antes de sua contratação. Além de tudo, vendeu Rodrigo Caio por R$ 22 milhões para o Flamengo. O negócio vai ser bom para todos. O São Paulo acaba com o desgaste, e o Fla terá um bom zagueiro.

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