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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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Aos 70, Maracanã deve ser símbolo de um novo futebol brasileiro

É mais justo pensar no que o melhor estádio do planeta ainda representa

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Está fazendo 70 anos a maior instituição do futebol brasileiro depois de Pelé. E é preciso pensar nele para o aniversário de cem anos.

Não basta ser o mais carismático estádio do planeta, localizado na cidade mais bonita e no país do futebol. Porque na última década quase só se falou do Maracanã do ponto de vista de suas perdas.

É mais justo pensar no que ele ainda representa, como mostrou a torcida do Flamengo em 2019. Um povo capaz de produzir a maior média de público do futebol brasileiro desde 1983.

Como diz o historiador Luiz Antonio Simas, há uma reação. Simas fala sobre a reação à elitização. Discordo que exista um processo real de rejeição ao povo, embora seja verdade que, no passado, os ingressos eram bem mais baratos e, nas grandes finais, o estádio recebia todas as camadas sociais.

Mas há um contraponto importante para se projetar o futuro do melhor estádio do planeta. Pegue o Brasileiro de 1983 como exemplo. A maior média de público de um campeonato no Brasil e o maior número de espectadores em um só jogo da história do torneio: 155.523.

No dia da decisão, o ingresso do setor da geral custava Cr$ 200, o equivalente a R$ 4,75 hoje. A arquibancada era mais cara, o equivalente a R$ 19.

Dos 40 jogos disputados no Maracanã naquele Brasileiro, quatro tiveram mais de 100 mil espectadores, dois receberam mais de 80 mil, quatro mais de 50 mil, 14 acima de 20 mil, 6 tiveram entre 10 mil e 20 mil e dez partidas ficaram abaixo de 10 mil espectadores.

Quer dizer que houve 10% dos jogos acima de 100 mil e 25% abaixo de 10 mil. A geral estava lá, democraticamente aberta. E o estádio, vazio.

Zico, Júnior, Leandro e Roberto Dinamite estavam lá quase todas as quartas e domingos. Os craques não viviam no exterior, moravam no Maracanã. Podia-se vender 155 mil ingressos, mas em 85% das partidas havia menos de metade da capacidade ocupada.

É preciso ter o meio do caminho, entre a fidelização do sócio-torcedor, que confirma presença uma semana antes de os portões se abrirem, e a democracia das catracas abertas ao povo que ama o futebol —mas nem sempre está lá, mesmo com ingresso barato.

É necessário estudar, abrir mão dos dogmas, construir um novo e forte futebol brasileiro, do qual o Maracanã terá de ser símbolo. Fazê-lo voltar a ser a casa da seleção e que ela jogue no seu templo pelo menos uma vez por ano. Tudo isso fará o Brasil redescobrir o seu palco.

João Máximo, raro brasileiro que esteve na inauguração em 1950 e na reinauguração em 2013, deu o mais afetivo e desprendido depoimento sobre o presente do estádio.

No domingo 2 de junho de 2013, Brasil 2 a 2 com a Inglaterra, perguntei a todos os colegas cariocas o que tinham achado da reforma. Quase todos gostaram, menos dois.

Paulinho comemora com os braços erguidos seu gol no amistoso da seleção brasileira contra a Inglaterra em 2013
Paulinho comemora com os braços erguidos seu gol no amistoso da seleção brasileira contra a Inglaterra em 2013 - Marcio Mercante-2.jun.13/Ag, O Dia/Folhapress

Imaginei que João, por ter estado na inauguração de 1950, diria que lhe furtaram a velha casa. Mas ele respondeu: “Eu gostei. É como se eu tivesse um novo irmão".

Falou com toda a paz de quem sabe que o tempo e a vida mudam as coisas.

O Maracanã precisa ser inclusivo, como foi concebido, mas também precisa lotar todas as vezes que abrir seus portões monumentais.

Isso implica fazer o Brasil se lembrar de que há poucos prazeres maiores do que assistir a um jogo no mais carismático palco de futebol do planeta.

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