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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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Neymar tem múltiplas personalidades, mas não é Batman nem Coringa

Documentário revela que atacante pensa ser o herói de sua família e o vilão para quem não o conhece de perto

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Há duas leituras sobre o documentário "Neymar – O Caos Perfeito", lançado nesta semana pela Netflix. Uma é a comparação com "Last Dance", distribuído em oito episódios em 2020. O doc de Michael Jordan é melhor, porque exerce de maneira primorosa nossa profissão, meio fora de moda: jornalismo.

O episódio sobre o assassinato do pai do astro do basquete, com a imprensa predeterminando ter sido o crime motivado pelo vício em jogos, para só depois haver a apuração rigorosa, é aula deste nosso ofício.

Mesmo que não seja uma obra-prima, como "Last Dance", o documentário sobre Neymar tem o mérito de apresentá-lo por dentro.

A parte que mais chama a atenção é a conversa desafiadora com o pai. Neymar diz não concordar com a maneira como o pai se relaciona com as pessoas e ouve como resposta que a arrogância se dá quando não se escutam outras opiniões. Que se preocupa quando percebe que o filho já não presta atenção ao que lhe dizem.

Mas a parte mais reveladora sobre a alma de Neymar é saber que ele pensa ser o Batman de sua família e o Coringa para quem não o conhece de perto.

Ele não é super-herói nem vilão. Está magoado com a parte do Brasil que o critica.

A ideia de ser o super-herói da família se explica no último episódio. Neymar apresenta o Instituto NJR, que atende 7.000 pessoas há oito anos, a metros da casa de um cômodo onde morava na infância, ao lado de um aterro sanitário. O terreno onde hoje fica o instituto era um campinho que Neymar e seus amigos invadiam para jogar bola.

Dar à família o primeiro milhão de reais, aos 14 anos, ganhar R$ 11 milhões quando recebia vinte vezes menos como salário, no Santos, tudo isso dá a Neymar a noção de ser o Batman. Por receber críticas em função de suas baladas, pensa ser visto como o Coringa: "A galera fica um pouco revoltada por eu ser o Neymar assim, focado em campo, mas também levar a vida. Ninguém conseguiu fazer isso bem. Eu faço".

Quem disse que Sócrates, Zico, George Best e Messi não levaram a vida?

Nem o craque do Paris Saint-Germain nem o mundo atual parecem entender que jornalistas tratam dos fatos, informações e análises com base no que acontece. Se Neymar vai para a balada, vira notícia. Se há uma acusação de estupro, é notícia. Se há um processo de sonegação, também é.

Verdade que, muitas vezes, torna-se pé de página o arquivamento do processo de Najila Trindade, por estupro, ou a suspensão das multas por sonegação no Brasil. Por isso, Neymar reage de maneira feroz quando acusado de ser mau cidadão.

Quadro com Neymar retratado como Batman e Coringa aparece em documentário da Netflix
Quadro com Neymar retratado como Batman e Coringa aparece em documentário da Netflix - Reprodução/Netflix

O documentário conta seu choro e o apoio de Messi, na saída de uma partida contra o Athletic Bilbao. Na opinião do craque, marcou seu ponto de virada para o sucesso no Barcelona. Ao mesmo tempo, apresenta em detalhes o dia em que a torcida do PSG o xingava, num jogo contra o Strasbourg, e um gol de bicicleta fez o Parque dos Príncipes explodir em aplausos. O episódio confirma que não há só no Brasil quem não goste dele. Em Paris, também.

Ao mesmo tempo, a soma das duas histórias, do abraço de Messi e da resposta aos ultras parisienses, indica que Neymar tem este ano para domar seus sentimentos.

Nem Batman nem Coringa.

Craque nascido em Mogi das Cruzes, filho de pai jogador –e depois pedreiro–, viveu na pobreza em Praia Grande, virou ídolo do Santos, campeão da Champions League pelo Barcelona, pop star em Paris. Neymar tem essas múltiplas personalidades.

Se trabalhar muito, ganhar a Champions League pelo PSG e a Copa pela seleção, entrará para a eternidade. Nesse caso, Neymar será maior do que Batman.

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