Reinaldo José Lopes

Jornalista especializado em biologia e arqueologia, autor de "1499: O Brasil Antes de Cabral".

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Falácias sobre a pandemia viraram lugar-comum; aprenda a se defender contra algumas delas

'Lockdown não funciona', 'máscara faz mal': veja o manual contra essas mentiras

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Raiva e revolta são, neste momento, reações perfeitamente compreensíveis diante da condução desastrosa do combate à pandemia no Brasil. Quem não está com vontade de sair por aí chutando porta é muito desinformado ou muito desumano. Mas essa reação visceral não vai nos levar muito longe sem um pouco de clareza nas ideias.

O genocídio em curso no país se alimenta de ignorância, de mentiras e de falhas brutais de lógica. Nesta coluna, gostaria de oferecer, como pequena contribuição, uma lista de antídotos contra algumas das falácias mais comuns que têm nos arrastado para o buraco. Espero que seja útil, de alguma forma.

1) Está provado que ‘lockdowns’ não funcionam: pois é, teve até conselho de medicina dizendo isso para governador por aí. Bem, para começo de conversa, o fato é que nunca houve um lockdown sequer no Brasil, o que atrapalha um pouco na hora de testar a eficácia da medida por aqui (para dizer o mínimo).

As medidas de distanciamento e restrição da circulação por aqui nunca duraram mais do que algumas semanas; raríssimos brasileiros correram risco de multa ou prisão ao sair de casa por razões não essenciais; barreiras severas a viagens entre cidades e estados jamais foram impostas; e, é claro, a medida nunca teve efeito nacional. Simplesmente não dá para comparar nossas medidas chinfrins com as da Itália ou da França, países que de fato pararam entre março e maio do ano passado (dois meses de lockdown, note bem).

Funcionou? No caso dos lugares que fizeram a coisa direito, sim, embora os efeitos positivos sejam temporários enquanto não há vacinas (aquelas que o governo federal tem enrolado para adquirir).

2) Nosso restaurante/academia/igreja/hotel está “seguindo todos os protocolos”: OK, e daí? Numa situação como a das últimas semanas e das próximas, “todos os protocolos” e “nada” são rigorosamente a mesma coisa em ambientes fechados. Os clientes ou fiéis podem tomar banho de álcool em gel a cada 5 minutos, mas isso não vai mudar o fato de que a Covid-19 é uma doença que se espalha primordialmente pelo ar, de pessoa para pessoa.

Aliás, o mesmo vale para o “teatro da higiene” de desinfetar ruas e prédios, que não passa de um desperdício brutal de dinheiro público. Delivery de comida, aparelhos de ginástica ou cultos ao ar livre, com pouca gente e todo mundo usando máscara PFF2/N95 (a que mais protege) o tempo todo? Pode até ser, mas ficar em espaços fechados com desconhecidos sem essa proteção é, neste momento, tremendamente temerário.

3) Máscara faz mal: não, não faz. Praticamente não há contraindicações para o uso. Se você não é uma criança pequena, não há desculpa nenhuma para não usá-la o tempo todo, sem exceção, fora de casa, inclusive para se exercitar. Chega de mimimi, como diz o presida, aquele luminar.

4) Até que o Brasil não está tão mal, morreu muita gente porque a população brasileira é grande: essa falácia ignora dois fatores cruciais. Primeiro, a nossa pirâmide etária: temos muito mais jovens do que os europeus e os EUA (e a Covid-19, por enquanto, ainda mata principalmente os mais velhos).

Conforme esse critério, 95% dos países do mundo se saíram melhor que nós no combate à pandemia. Em segundo lugar, temos uma variável desgraçada chamada tempo: quanto mais ele passa sem que controlemos a transmissão, mais gente vai morrer. Ainda dá para piorar muito antes de melhorar.

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