Renata Mendonça

Jornalista, comenta na Globo e é cofundadora do Dibradoras, canal sobre mulheres no esporte.

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Estrangeiros no futebol brasileiro

Três técnicos de fora podem nos lembrar a essência do nosso próprio futebol

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O Corinthians de 2017 e o Palmeiras de 2016 e 2018: o que esses times têm em comum além do fato de terem sido campeões brasileiros nesses anos?

Todos tinham times muito seguros defensivamente e, ao mesmo tempo, eram muito eficientes ofensivamente. Esse é um estilo que não é exatamente parecido com o chamado "jogo bonito" ou "futebol arte" pelos quais os brasileiros ficaram mundialmente conhecidos algumas décadas atrás. Mas suas características foram e são dominantes há muitos anos na principal competição nacional.

Não por acaso, técnicos como Fernando Diniz soam quase como uma aberração por aqui. Como assim um treinador quer priorizar o ataque à defesa?

O técnico português Jorge Jesus assumiu o Flamengo em junho
O técnico português Jorge Jesus assumiu o Flamengo em junho - AFP

Curioso que esse é o estilo que nos fez encantar o mundo inteiro nas décadas de 1970 e 1980, mas desde que o "resultadismo" nos picou (talvez justamente após a decepcionante derrota na Copa do Mundo de 1982), ele passou a ser tão raro no futebol dos clubes brasileiros que vira notícia quando ressurge em alguma equipe mais ousada.

Neste ano, três técnicos vieram para ser notícia constante por aqui. Jorge Sampaoli, Jorge Jesus e Pia Sundhage.

A chegada desses três treinadores ao Brasil pode marcar uma virada importante nos rumos do nosso futebol. Uma nova maneira de pensar e enxergar o jogo, resgatando a essência do nosso futebol e mostrando o quão bonito e prazeroso ele pode ser.

Não é que nenhum técnico brasileiro tenha esse tipo de filosofia (já citamos Fernando Diniz, há também Renato Gaúcho, Tiago Nunes e, no futebol feminino, Arthur Elias, do Corinthians). Mas o olhar estrangeiro sobre o futebol brasileiro tem nos feito um bem danado.

Isso porque paramos para nos questionar se realmente não haveria outros caminhos a serem explorados que ficaram esquecidos no nosso medo de perder. Aqui vale uma defesa também para os técnicos daqui, afinal dá para entender o receio da derrota quando duas ou três delas podem significar o fim da linha para o trabalho deles. Mas esses três técnicos talvez nos façam elevar de vez o nível daquilo que nos satisfaz no futebol.

O Flamengo precisava de um empate sem gols para passar pelo Grêmio e voltar à final da Libertadores após 38 anos. Mas o time de Jorge Jesus jogou pela vitória. Mais: jogou pela goleada.

Fez cinco gols e poderia até ter feito mais. O time não recuou, atacou o tempo todo, mostrando todo seu prazer por aquela que sempre foi a essência do jogo: o gol. O futebol, afinal, nasceu para ele.

 

O objetivo é (ou deveria ser) botar a bola na rede, e não impedi-la de entrar. Claro que uma boa defesa --como é a do Flamengo, aliás-- é de extrema importância, mas priorizar não tomar gols a fazê-los se tornou uma mania chata que aprendemos a aceitar por aqui.

O Santos, com um elenco muito mais limitado, perdendo seus principais jogadores com relação ao time do ano passado, já ultrapassou a pontuação do Campeonato Brasileiro de 2018 com mais de dez rodadas de antecedência sob o comando de Jorge Sampaoli.

O trabalho de Pia Sundhage na seleção brasileira feminina ainda está só começando e, apesar das vitórias, é nítido que há muito para evoluir. Ela traz a esse time, no entanto, conceitos importantes de organização tática e, principalmente, de desempenho coletivo que faltam muito no nosso futebol.

Chega a ser irônico que precisemos de técnicos estrangeiros para nos lembrar a essência do nosso próprio futebol.

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