Renata Mendonça

Jornalista, comenta na Globo e é cofundadora do Dibradoras, canal sobre mulheres no esporte.

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Cabeças de técnicos rolam mais que a bola no futebol brasileiro

Nos dois primeiros meses do ano, cinco treinadores da Séria A já foram demitidos

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O Carnaval passou, e o ano finalmente pode começar no Brasil, como costumamos dizer. Mas no futebol brasileiro ele já começou faz tempo. E em menos de 60 dias, cinco clubes da Série A do Campeonato Brasileiro trocaram de técnico: Sport, Botafogo, Ceará, Atlético-GO e Atlético-MG. 

Os números e os jogos mostram que, no futebol brasileiro, cabeças (dos treinadores) costumam rolar mais até do que a bola dentro de campo. No Nacional de 2019, 17 dos 20 times mudaram de comando ao longo da competição. 

Um levantamento feito pela Uefa em 2017 mostrou que o Brasil é o sexto país que mais demite técnicos no planeta. O índice de demissões por aqui é de 90%. Não é mera coincidência o fato de que os países dos melhores times do mundo tenham um índice muito abaixo desse. Inglaterra tem 40%, Espanha tem 50%. 

Nem toda demissão é injusta. Mas um índice desse tamanho não pode ser ignorado. Até porque, se essa fosse uma estratégia certeira, teríamos um nível de futebol por aqui muito acima do que é a nossa realidade. Ao contrário disso, nos acostumamos a aceitar um desempenho pífio em termos de qualidade de jogo, contanto que o resultado viesse. A pressão sobre os treinadores tem uma influência direta na limitação técnica que os clubes daqui (não todos, mas a maioria nos últimos anos) apresentam em campo. Não há como desenvolver um trabalho em menos de dois meses de emprego. Nem em uma empresa, e muito menos em um clube de futebol.

Planejamento e processo. São duas coisas que parecem não fazer parte do vocabulário da maioria dos times no Brasil. Quando se contrata um treinador, não há um planejamento estratégico do que se espera dele --em termos de filosofia de jogo, não só de resultado. Ganhar todo mundo quer, mas cada campeonato tem apenas um campeão. Isso significa que 99% dos times que disputam um título terminarão sem ele. Por isso é simplista demais querer “só” troféus. O planejamento é essencial para que eles venham. Assim como é o processo.

Depois de escolher o técnico que mais condiz com o que se quer para o time, é preciso entender que nada vem do dia para a noite. Há um processo de construção desse trabalho e, sem passar por ele, é impossível atingir os objetivos. Se olharmos o que fez a Atalanta na Itália, dá para entender a importância do desenvolvimento de um projeto para conseguir os resultados.

O venezuelano Dudamel comandou o Atlético-MG em somente dez partidas nesta temporada antes de ser demitido
O venezuelano Dudamel comandou o Atlético-MG em somente dez partidas nesta temporada antes de ser demitido - Carl de Souza - 28.jun.19/AFP

O clube de Bérgamo tem hoje uma folha salarial que representa 10% da paga pela Juventus, por exemplo. E, mesmo com investimentos limitados, está perto das quartas de final da Champions League e em quarto lugar no Italiano. O que só se explica pelo planejamento feito na última década, envolvendo o desenvolvimento de uma filosofia de jogo aplicada em todas as categorias do clube. Com o tempo, os resultados começaram a vir. 

Considerando apenas os quatro grandes de São Paulo, nos últimos quatro anos eles tiveram uma média próxima a dois treinadores por ano ou mais. O São Paulo teve 13 trocas desde 2016 (média de 3 por ano), o Palmeiras teve 10, o Santos teve 9 e o Corinthians 7. 

Não é que nenhuma dessas trocas tenham sido positivas, mas quanto mais frequentes elas são, mais difícil é desenvolver um trabalho consistente à frente dos clubes. Pela capacidade técnica dos nossos jogadores, o Brasil poderia apresentar um nível de futebol nacional muito melhor do que tem hoje. Com planejamento e paciência, os resultados poderiam surpreender até mesmo os torcedores mais céticos. 

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