Sylvia Colombo

Historiadora e jornalista especializada em América Latina, foi correspondente da Folha em Londres e em Buenos Aires, onde vive.

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Evo Morales continua a dividir a Bolívia

Ex-presidente alimenta discordância dentro do próprio partido enquanto sua ambição política mantém o país sob instabilidade

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Evo Morales já enganou a democracia boliviana duas vezes, em 2014 e 2016. Tentou repetir o truque em 2019 e acabou tendo de renunciar e sair do país. Agora, parece propenso a criar mais caos. Ter deixado a Bolívia em meio a uma baderna social e permitir que o poder fosse parar nas mãos de um governo sem legitimidade (sob Jeanine Áñez) mostrou ser uma imensa irresponsabilidade de sua parte. Trouxe insegurança, falta de comando e instabilidade política, além de espaço para massacres.

Agora, Morales iniciou uma guerra contra seu próprio herdeiro político, Luis Arce, tentando sabotar e esvaziar sua Presidência, além de rachar o partido popular que ele mesmo criou, o MAS (Movimento ao Socialismo).

Apesar de já ter tido sua intenção de concorrer novamente em 2025 impedida pela Corte Constitucional, Morales está longe de ter desistido de ser protagonista na vida do país.

Evo Morales durante encontro político do Movimento ao Socialismo (MAS), na província rural de Chapare, em Cochabamba, na Bolívia - Aizar Raldes - 26.mar.23/AFP

É uma pena que tenha decidido enveredar por esse caminho. Sua primeira eleição, em 2005, foi algo histórico. Num país de maioria indígena, Morales foi o primeiro a ser eleito para o cargo. E, em seu primeiro mandato, transformou o país positivamente.

Seu nome já estava inscrito na história da Bolívia. Quando assumiu, em 2006, passou a promover a inclusão de populações minoritárias e marginalizadas, transformando a Bolívia num país multicultural e gerando uma nova classe média. A economia boliviana melhorou —mantendo um crescimento médio anual de cerca de 4%— e houve uma redução da pobreza de 60% da população para 34%.

Em vez de colher esses frutos e ir viver em seu sítio no Chapare, a região cocalera onde começou sua carreira política e onde disse que gostaria de passar seus últimos tempos, Morales vem alimentando a cizânia do país, avançando contra as instituições que não mais o obedecem, e brigando com seu sucessor e ex-apadrinhado, o presidente Luis Arce, assim como fizeram em seu momento Álvaro Uribe com Juan Manuel Santos, na Colômbia, e Rafael Correa com Lenín Moreno, no Equador.

O presidente Arce, hoje, afirma que Morales se converteu em seu principal opositor e que não deixaria que o ex-mandatário continuasse agindo como "dono" do MAS. O partido agora está dividido entre "evistas" e "arcistas".

Arce anunciou na última semana uma troca de gabinete para colocar em pastas importantes aliados políticos seus, e não próximos a Morales.

A contenda interna entre os seguidores de Evo Morales e de Luis Arce teve início quando o ex-presidente retornou à Bolívia após um ano de exílio na Argentina. A partir desse momento, passou a se posicionar como crítico de Arce.

No centro da disputa imediata entre eles está a liderança do MAS, mas o cerne da questão reside na candidatura para 2025. Em outubro passado, Morales convocou um congresso em Cochabamba, seu reduto político. Durante o evento, referiu-se aos apoiadores de Luis Arce como 'traidores'."

Morales colocou de lado até mesmo Álvaro García Linera, acusando-o de ter alianças com o "império" e de, no fundo, ser "de direita". O ex-guerrilheiro, acadêmico e autor de vários livros sobre as lutas da esquerda foi o vice de Morales em todas as suas gestões e renunciou junto ao chefe.

García Linera irritou Morales porque disse que o MAS deveria se renovar, e na próxima eleição, ter como candidato Andrónico Rodríguez, também dirigente cocalero e hoje líder do Senado. O ex-vice também afirmou que era urgente que Arce e Morales resolvessem suas diferenças para não destruir o que ele considera o mais importante, a conquista de um espaço político para defender os interesses dos indígenas, e que este possa ter uma renovação.

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