Sylvia Colombo

Historiadora e jornalista especializada em América Latina, foi correspondente da Folha em Londres e em Buenos Aires, onde vive.

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Sylvia Colombo
Descrição de chapéu Eleições na Venezuela

Chavismo arma narrativa para obter apoio de empresas dos EUA

Maduro critica imperialismo americano em público, mas negocia com empresários do país no privado

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O governo dos Estados Unidos já expressou claramente seu apoio a uma eleição livre e democrática na Venezuela. Durante sua gestão, ainda que com travas por parte dos republicanos no Congresso, Joe Biden conseguiu aliviar a entrada legal de um maior número de fugitivos do regime.

Na última quinta-feira (25), John Kirby, porta-voz da Casa Branca, afirmou que "a repressão política e a violência são inaceitáveis", referindo-se à expressão "banho de sangue" usada pelo ditador Nicolás Maduro.

Simpatizante segura cartaz do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, durante comício de encerramento da campanha eleitoral em Caracas - Li Muzi - 25.jul.24/Xinhua

Mas a posição do governo dos EUA é uma coisa, e a de muitos empresários americanos é outra. Principalmente aqueles que têm investimentos nas áreas de petróleo e mineração, que vêm mostrando preferência por uma continuidade da relação com o chavismo à incerteza de uma troca de governo.

Se, em público, Maduro ataca o imperialismo americano, de modo privado tem conversado e recebido diretamente as comitivas de empresários que visitam Caracas em busca de negócios. A eles pede que façam lobby junto à Casa Branca para a redução das sanções contra a Venezuela em troca de mais licenças para a exploração de recursos.

A um alto empresário da Chevron Maduro disse recentemente que somente ele "garantiria estabilidade, paz e uma relação 'win-win'".

Editoriais de jornais econômicos de renome internacional têm refletido o sucesso dessa narrativa comum a vários empresários, entre eles o Wall Street Journal e o Financial Times.

Numa reunião recente em Londres, sem a presença de políticos venezuelanos, um empresário americano teria dito que Maduro era "um demônio, mas um demônio conhecido" e que a vitória da oposição causaria uma "transição incerta, possivelmente violenta" e que, portanto, seria melhor "continuarmos com esse cara [Maduro] por mais seis anos".

Outro deles declarou que seria "preferível apostar em um avião que passa por turbulências do que jogar as fichas no que pode ser uma aterrissagem desastrosa".

Alguns fundos de dívida estrangeiros também compartilham essa interpretação e foram registradas visitas a Maduro da London’s Ashmore (Reino Unido) e da Greylock Capital (EUA), juntamente com empresas interessadas em fazer negócios.

Pode parecer estranho que essa versão tenha se imposto entre um setor do alto empresariado internacional, uma vez que a Venezuela é um país em penúria financeira, endividado e que assusta investimentos estrangeiros nas mais variadas áreas. Porém, para esse ramo da economia, pouco parecem importar os abusos de direitos humanos, a pobreza e a saída do país de 25% da população.

De fato, tem havido uma redução da inflação, e uma precária dolarização fortalece esse discurso da normalização.

Em conversa com a coluna, um líder opositor hoje baseado em Washington diz que os próprios republicanos, que no passado haviam apoiado abertamente a fracassada empreitada de Juan Guaidó, hoje prefeririam não se arriscar em apostar fichas em um outro líder opositor —inclusive teriam temor do retorno de alguns deles hoje exilados.

Uma possível volta de Donald Trump à Casa Branca poderia significar uma relação totalmente diferente com Nicolás Maduro. O ex-mandatário, que havia inclusive considerado durante sua gestão uma invasão para derrubar a ditadura, agora estaria avaliando uma relação mais amistosa com o ditador, que também tem evitado criticar Trump nominalmente em público.

Duas eleições em dois países que ameaçam a democracia e os direitos humanos nas Américas.

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