Sylvia Colombo

Historiadora e jornalista especializada em América Latina, foi correspondente da Folha em Londres e em Buenos Aires, onde vive.

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Descrição de chapéu Venezuela

Antichavismo se movimenta

Oposição programa primárias enquanto regime cerceia principais nomes

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Em meio a tantas decisões complicadas que devem ser resolvidas na América Latina nas próximas semanas —a saber, a definição do resultado da eleição do Equador e a eletrizante votação da Argentina—, conhecer a luta da oposição venezuelana para escolher o candidato que irá enfrentar a hercúlea tarefa de disputar contra Nicolás Maduro o pleito presidencial de 2024 pode parecer algo menor. Até porque é difícil imaginar que a eleição não terá, como de costume, altas doses de fraudes, ficção e desencanto, como aconteceu nas votações mais recentes.

Ainda assim, os opositores estão jogando todas as suas fichas em sua primária, que ocorre no próximo dia 22 de outubro e da qual participam apenas os não-chavistas.

Nicolás Maduro, de camisa vermelha com costura e botões brancos, apoia o antebraço esquerdo em púlpito. Fundo é vermelho com uma faixa vertical azul no centro
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, em evento em Caracas - Fernandez Viloria - 1º.mai.2023/Reuters

Um clima parecido a este se viveu em 26 de julho de 2017, quando um referendo convocado pela Assembleia Nacional, então de maioria opositora, levou mais de 7 milhões de pessoas às urnas, rejeitando a proposta do chavismo de promover uma votação para uma Assembleia Nacional Constituinte. As ruas, naquele tempo, fervilhavam com protestos.

O regime, então, ignorou as urnas e impôs a votação da ANC, com reconhecidas ações de fraude e o não reconhecimento de seu resultado por mais de 50 países. O órgão acabou substituindo a Assembleia Nacional de maioria opositora, eleita pelo voto popular.

Maduro tem dito em fóruns internacionais e em diálogo com líderes que agora lhe oferecem amizade, como Lula e Petro, que as próximas eleições serão limpas e democráticas.

A farsa já se desmonta diante da quantidade de obstáculos para que isso ocorra, às vésperas da primária opositora.

Os dois candidatos favoritos, Henrique Capriles e María Corina Machado, lideram o pleito. Porém, ambos estão inabilitados para concorrer em 2024. Os demais são nanicos.

"Espera-se que María Corina, especialmente, tenha uma alta votação. Ela se transformou na principal candidata da oposição e vem angariando apoios dentro e fora da Venezuela", diz à coluna o economista e diretor da Datanálisis Juan Vicente León, que costuma divulgar as pesquisas mais certeiras no país.

As sondagens até aqui dão ampla vantagem à veterana opositora. Corina tem 68% das intenções de voto, contra 11% de Capriles, enquanto 67% dos eleitores têm disposição de participar do pleito.

"O fato de Corina estar inabilitada para a eleição de 2024 não quer dizer nada. Se ela obtiver uma votação contundente na primária, será um instrumento de pressão ao regime para que a deixe participar, além de grande recurso para sua campanha eleitoral, nacional e internacionalmente", diz León. "Além disso, vai ser difícil Maduro explicar ao mundo por que a candidata mais votada está inabilitada", conclui.

Outro obstáculo que o regime está usando é dizer que, como não se trata de uma votação organizada pelo CNE (Conselho Nacional Eleitoral) e sim pelos partidos de oposição, os lugares de votação podem ser interditados. A organização do pleito ainda não tem certeza de onde serão instalados muitos dos centros de votação, e o regime tem forças para intervir neles.

Por outro lado, Maduro deve fazer com que esses impedimentos não sejam tão evidentes, uma vez que permitir as primárias cairia bem num momento em que negocia a queda de sanções contra seu regime.

Tanto ataques como ameaças têm sido dirigidos aos comitês de campanha de Capriles e de Corina. Para um país que se jacta de ter "eleições até demais", não se trata de uma foto muito alentadora.

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