Tatiana Prazeres

Executiva na área de relações internacionais e comércio exterior, trabalhou na China entre 2019 e 2021

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Descrição de chapéu China Ásia COP26

China, maior emissor global de CO2, quer ser protagonista na COP26

Pequim tem discurso pronto, mas ignora contradição para liderar transição climática mundial

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A bola está no campo da China. Foi assim que, em mais de uma ocasião, o britânico Alok Sharma, que presidirá a COP26, tratou das chances de sucesso do encontro em Glasgow.

O país asiático é o maior emissor de CO2 do mundo, com cerca de 28% do total. Matematicamente, sem a China, não há acordo climático global que justifique esse título.

Mas Pequim pretende ser protagonista em Glasgow pelos bons motivos. O país quer aproveitar a COP26 para dar credibilidade à pretensão de liderar a transição climática global.

Estrada durante o dia sob nuvem de poluição em Pequim - Carlos Garcia Rawlins - 13.fev.21/Reuters

Glasgow terá inevitavelmente uma etapa de concurso de beleza, em que os países se empenham em sair bem na foto, ressaltando as maravilhas que fazem pelo clima (enquanto o planeta esquenta).

Para esse momento, a China tem o discurso pronto. Apenas neste ano, lançou o maior mercado de crédito de carbono do mundo e se comprometeu a parar de financiar usinas a carvão no exterior. O país está à frente em energia eólica e solar. Investe em hidrogênio verde.

Além disso, a China sabe que precisa de energia nuclear. Enquanto muitos hesitam em tomar esse rumo, Pequim pisa no acelerador, com 11 usinas nucleares em construção hoje. Sairá na frente. Outros devem segui-la, porque a transição climática global dificilmente prescindirá de energia nuclear.

Glasgow terá também seus momentos de ringue de boxe, em que países se acusam mutuamente de não fazer o bastante pelo planeta. O problema é sempre o outro. Aqui, a China também tem protagonismo, sendo criticada por quem lhe cobra mais ambição, sem deixar de apontar o dedo para quem historicamente emitiu mais, ou para quem hoje tem maiores emissões per capita.

Para se cacifar como líder, no entanto, a China teria que ser capaz de assumir mais compromissos climáticos e de dar credibilidade às suas metas. A pergunta é se Pequim poderia antecipar prazos para começar a reduzir emissões ou atingir a neutralidade climática, previstos para 2030 e 2060, respectivamente.

Além disso, a postura da China nas negociações de Glasgow importa. Sobre a mesa estão principalmente questões ligadas a financiamento para ajudar países em desenvolvimento na transição climática, além de parâmetros para um mercado internacional de carbono. O risco é o de que negociadores –de diferentes países– recorram à lógica clássica: oferecer quase nada e querer muito dos demais.

Se for assim, Glasgow será palco desse misto de teatro e jogo de pôquer, em que os países fazem de conta que realmente estão negociando, mas no fundo blefam para ver se o outro lado pisca. No mundo real, todos perdem. A China precisaria ajudar a evitar esse cenário.

As ambições chinesas de liderança se beneficiam das fragilidades da posição americana. Há forças no Congresso carcomendo as pretensões climáticas de Joe Biden. Além disso, a inconsistência da posição dos EUA ao longo do tempo abala sua credibilidade na agenda do clima. Com o trumpismo à espreita, o negacionismo segue preparado para voltar —e o mundo sabe disso.

A China tem lá seus pés de barro. Não apenas pelos níveis altos de emissão, mas porque a atual crise energética no país evidencia a dependência brutal em relação ao carvão e põe em questão a credibilidade das metas chinesas.

Cálculos geopolíticos também tendem a enfraquecer as ambições ambientais chinesas (e americanas), em prejuízo do planeta, mas também de uma posição de liderança da China nessa agenda.

Em 2017, a China já dizia querer ser "participante, contribuidora e líder" nessa agenda. Para Pequim, não há contradição entre ser o maior emissor de CO2 do mundo e liderar a transição climática global.

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