Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

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Mão do governo argentino na pecuária favorece o Brasil

Medida terá pouco efeito porque a alta de preço se deve à menor oferta de gado

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Prepare o bolso para o próximo churrasco. A suspensão das exportações de carne bovina na Argentina coloca pressão ainda maior no produto brasileiro.

Os argentinos exportam 50 mil toneladas por mês, e 74% desse volume vai para a China. Dependentes dessa proteína, os chineses vão intensificar as compras no Brasil, pelo menos enquanto durar a suspensão argentina.

Os brasileiros, embora também passem por uma redução de bois para abate, ainda têm produto para colocar no mercado externo. Além disso, o preço da tonelada é semelhante ao que os argentinos oferecem aos chineses.

No primeiro trimestre deste ano, as exportações argentinas somaram 147 mil toneladas. Deste volume, 109 mil foram para a China, ao preço médio de US$ 3.356 por tonelada, um dos menores valores recebidos pelos argentinos. Os alemães pagaram US$ 10 mil por tonelada.

A Argentina deveria colocar 770 mil toneladas de carne bovina no mercado externo neste ano, o quinto maior volume mundial, segundo estimativas do Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos). O Brasil lidera com 2,7 milhões, seguido de Estados Unidos, Austrália e Índia.

Na outra ponta, a China importará 3,1 milhões de toneladas em 2021, bem acima do volume dos Estados Unidos, o segundo maior importador: 1,3 milhão de toneladas.

Bois em curral, com senhor idoso ao lado
O agricultor cuida de rebanho bovino na cidade de Valdes, sudoeste de Buenos Aires, na Argentina - Enrique Marcarian-26.mai.2012/Reuters

Luciano Vacari, da Neo Agro, afirma que a ação do governo argentino tem efeito curto porque a demanda mundial de carne está acima da oferta. Daí essa evolução forte dos preços no mundo, afirma.

Os argentinos têm os mesmos problemas dos brasileiros: demanda externa forte e redução na oferta de gado pronto para abate. A diferença, segundo Vacari, é que a carne bovina é assunto de interesse nacional no país vizinho.

“Por aqui, os brasileiros, conforme perderam renda, saíram da carne bovina e passaram para a suína e de frango. Lá, não. E a proteína pesa muito na inflação deles.”

O problema dessa medida do governo argentino é o desdobramento sobre o setor. “Já vimos esse filme antes, e o resultado é um colapso na pecuária”, afirma ele.

Os produtores estão engordando boi, e tendo custos, com base em preços de exportação. Já os frigoríficos têm contratos externos assumidos, que devem cumprir. O resultado, segundo Vacari, será um grande desinvestimento no setor.

Ruim para os argentinos, que devem viver sobre as amarras do governo, bom para o produtor brasileiro. O boi, que estava em queda desde a semana passada, voltou a subir nesta terça-feira (18), atingindo R$ 307,4 por arroba, conforme pesquisa do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada). Na segunda-feira (17), estava em R$ 304.

Assim como na Argentina, a carne bovina mudou de patamar de preço também no Brasil e retirou parte da população desse mercado.

Dados de inflação divulgados pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), nesta terça-feira, indicam altas de até 6% no setor nos últimos 30 dias. Esse aumento fica ainda mais pesado para o bolso do consumidor porque a proteína vem obtendo altas constantes há pelo menos dois anos.

Os argentinos, que sempre estiveram entre os principais consumidores de carne bovina no mundo, estão com um consumo per capita inferior a 50 quilos atualmente.

A ação do governo argentino não deverá representar alívio aos preços, pois o rebanho do país vizinho, que era de 55 milhões de cabeças em 2019, está em 53,8 milhões.

Além disso, o abate de fêmeas, devido à demanda internacional intensa por carne, vai retardar a recomposição do setor.

Crédito para pequeno produtor é um desafio, afirma CNA

A inclusão do pequeno produtor no sistema de crédito rural é um desafio. E esse é um dos temas que a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) leva, nesta quarta-feira (19), para a ministra da Agricultura, Tereza Cristina.

A entidade avalia também, junto ao ministério, a revisão dos limites de receita bruta do Proagro e do Pronaf, quer uma revisão de custos administrativos e uma otimização dos gastos do governo. Tudo isso, em busca de um aumento na oferta de crédito para o pequeno produtor.

Para Fernanda Schwantes, assessora técnica de Política Agrícola da CNA, é preciso, no entanto, entender melhor o pequeno produtor e a sua participação no crédito rural.

Em busca de resposta, a CNA realizou uma pesquisa com 4.336 produtores atendidos pelo programa de assistência técnica e gerencial do Senar. Esses produtores atuam em 14 estados e em 727 municípios.

Boi pastando na grama, com casinha ao fundo
Fazenda de produtor rural em Matelândia, no interior do Paraná - Zanone Fraissat-4.set.2017/Folhapress

Apenas 27% deles contrataram crédito rural em 2020, e a principal fonte de financiamento para 84% deles foi instituições financeiras.

A pesquisa indicou que o Pronaf Custeio foi a principal linha contratada pelos produtores. A maior parte que acessou o crédito rural, porém, não contratou ou não conhece o Proagro e o seguro rural.

Schwantes diz que isso mostra o quanto é necessário o desenvolvimento de um roteiro de informações para esses produtores. “Ao contrário dos grandes, que se dedicam mais à atividade gerencial, o pequeno se dedica à atividade final. Ou seja, à produção.”

Burocracia e garantia que devem ser dadas na obtenção do crédito também são fatores que reduzem o interesse dos produtores pelo crédito.

Para a assessora, é preciso aproximar mais o pequeno produtor do mercado de seguro, com informações fundamentais e transparentes, além de reduzir a burocracia. ​

Essa discussão de crédito vem em um momento em que as taxas de juros estão subindo, assim como os insumos básicos para a produção. Sofrem mais as cadeias que atuam apenas no mercado interno, que não têm o benefício das exportações, incentivadas pelo dólar elevado.

Do total de produtores pesquisados, 70% têm renda bruta de até R$ 100 mil; 20%, de até 300 mil; e outros 10%, acima deste último valor.

Cana A produção de cana-de açúcar deverá cair para 628 milhões de toneladas na safra 2021/22, com queda de 4% em relação à anterior. Essa redução ocorre devido ao recuo de 2% na área e na produtividade.

Cana 2 Os dados são da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), que fez a primeira estimativa desta safra. A produção de açúcar recua 6%, para 38,9 milhões de toneladas, e a de etanol cai para 30,5 bilhões de litros, com retração de 7%.

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