Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

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Vaivém das Commodities
Descrição de chapéu alimentação

Com problemas nas safras brasileira e vietnamita, café mantém alta

Preços aumentam 96% em 12 meses nas lavouras, e consumidor paga mais pela bebida

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Após um período recorde na última safra, as exportações brasileiras de café canéfora (conilon e robusta) deverão continuar aquecidas neste segundo semestre. A oferta desse tipo de grão continua escassa no mundo.

A safra vietnamita, que começa no último trimestre, não se apresenta como se esperava. Com isso, o Brasil deverá ganhar espaço novamente nas exportações deste ano.

A imagem mostra uma grande quantidade de grãos de café torrados, com diferentes formas e tamanhos, dispostos de maneira aleatória sobre uma superfície. Os grãos têm uma coloração marrom escura, com algumas áreas mais brilhantes e outras mais opacas.
Grãos de café colhidos em fazenda na Indonésia - YT Haryono/Reuters

O problema é que a safra brasileira também vem apresentando restrições e está abaixo do esperado. A expectativa era de uma safra de 23,3 milhões de sacas de café canéfora, mas novos números da Safras & Mercado indicam recuo para 20,7 milhões.

Os bolsões de calor de setembro e de novembro começaram a mostrar de forma mais clara os efeitos sobre a safra brasileira, que está em andamento, segundo Gil Barabach, consultor da Safras.

No recente corte, a consultoria reduziu a produção total brasileira de café para 66 milhões de sacas, 4 milhões a menos do que na projeção anterior.

Enquanto a quebra no café conilon deverá ser de 2,6 milhões de sacas, a do café arábica fica em 1,4 milhão. No primeiro, a perda ocorre mais no Espírito Santo; no segundo, no sul de Minas Gerais, devido à queda de rendimento provocada pelo clima.

Para Barabach, apesar do avanço da safra, esses números, principalmente os do café conilon, poderão ser revisados para baixo.

O comportamento dos preços do café ainda depende de vários fatores, que passam tanto pela menor oferta de robusta no mundo, que puxa também o arábica, quanto pelas dificuldades logísticas no mar Vermelho, o que encarece o produto que vai à Europa.

O preço do café recebe ainda a influência do comportamento do produtor, que faz vendas dosadas. Ele espera definições do mercado, que pode apontar oferta menor do produto neste e no próximo ano.

Além dos fundamentos reais do setor, o financeiro, que ajudou a pressionar os preços das commodities, está cooperando para uma retração, segundo Barabach. As commodities subiram muito e estão se realinhando. Isso faz o fundo de investimento reduzir a sua participação no mercado.

O dólar pressionado no Brasil também afeta a Bolsa de commodities de Nova York e é um fator de baixa. A moeda brasileira desvalorizada incentiva as exportações, uma vez que o exportador vai receber mais reais por dólar.

O mercado começa a ficar mais interessante para o exportador, e aparece mais café no mercado. "O dólar alto joga contra o café na tela da Bolsa de Nova York", diz o consultor. A pressão do dólar, no entanto, não permite uma queda dos preços em reais internamente.

A oferta de café arábica é melhor do que a do conilon, mas Barabach ainda vê as exportações brasileiras neste ano com reserva, após o recorde da safra anterior.

O estoque de passagem é muito baixo, e há uma expectativa de o país não conseguir repetir os volumes da safra anterior.

Na safra passada, que teve início em julho de 2023 e terminou em junho de 2024, o Brasil exportou o recorde de 43,7 milhões de sacas de café, segundo o Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil). Esse volume foi incrementado pelas exportações de café robusta, que atingiram 8,3 milhões de sacas.

No primeiro semestre deste ano, as exportações totais de café verde somaram 22,4 milhões de sacas, com aumento de 57% em relação às de igual período de 2023.

O destaque fica para as vendas externas de café robusta, que, segundo o Cecafé, subiram para 4,3 milhões de sacas de janeiro a junho deste ano, 464% a mais do que em igual período de 2023.

De julho a outubro deste ano, Brasil e Indonésia ainda vão estar bastante presentes no mercado mundial de café robusta.

A safra do Vietnã que vem a partir do último trimestre poderá não ir totalmente ao mercado, uma vez que o produtor vietnamita vai segurar o produto à espera de preços melhores, apostando na oferta internacional menor, afirma o consultor da Safras.

A procura pelo café brasileiro fez o arábica subir 73% nos últimos 12 meses para o produtor brasileiro. Neste mês, a média de preços é de R$ 1.420 por saca, segundo o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).

A alta do robusta foi maior ainda, com evolução de 96% no período, segundo o Cepea. O valor da saca desse tipo de café se aproximou do do arábica, subindo para R$ 1.270.

O consumidor sente essa evolução de preços no campo e gasta mais com a bebida quando vai ao supermercado. O café em pó teve alta de 12% no primeiro semestre em São Paulo.

O dados são da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), que aponta o fato de a pressão da bebida ser mais forte neste ano do que no anterior, uma vez que o acumulado da alta de 12 meses (julho de 2023 a junho de 2024) é de 6%.

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