Bares e restaurantes revelam passado paulistano; roteiro mostra 20 casas
Para celebrar os 456 anos de São Paulo, o Guia percorreu bares, restaurantes e casas noturnas da cidade e encontrou 20 estabelecimentos que ocupam locais históricos, alguns tombados, outros com mais de cem anos. Entre eles, lugares como a igreja onde está o badalado clube Glória, no Bexiga; o primeiro sobrado da avenida Angélica, que abriga o bar Salommão; e a choperia Joan Sehn, em Moema, funcionando ininterruptamente desde 1937.
Jefferson Coppola/Folha Imagem |
Primeira unidade da 1900 Pizzeria (foto) foi instalada em 1983, onde funcionava em galpão |
1900 Pizzeria
No sobrado entre as ruas Botucatu e Estado de Israel, foi instalada em 1983 a primeira unidade da 1900. Antes funcionava ali um galpão que fazia a manutenção dos bondes que circulavam pela rua Sena Madureira. O desenho dos janelões e da porta imponente de entrada continua igual.
1900 Pizzeria - r. Estado de Israel, 240, Vila Clementino, região sul, São Paulo, SP. Tel.: 0/xx/11/5575-1900. 240 lugares. Seg. a qui. e dom.: 18h às 24h. Sex. e sáb.: 18h à 1h. Valet. (R$ 8). Reserva (seg. a qui.). Entrega em domicílio pelo tel. 0800-151900. Classificação etária: livre.
O Alemão
No casarão tombado de 1864, fica o discreto bar que serve pratos da culinária alemã. A fachada é a mesma, com as janelas originais. A proprietária Fátima Zoppi conta que os porões do imóvel estão intocáveis. "Dizem que era uma família que vendia escravos", fala Zoppi. Para comer, vale provar o Completão do Alemão (R$ 98,90), com joelho de porco, salsichas, batatas, chucrute e costeleta, que serve até cinco pessoas.
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Almanara
A entrada acanhada, de toldos esmaecidos, esconde a bela matriz do restaurante árabe, que se instalou ali há 60 anos. O salão mantém o charme, com seu balcão de mármore branco e as maçanetas em formato de lua. As peças de prata que decoram a mesa dão o sinal dos tempos. A porção de charuto de uva (R$ 28,95) e o quibe cru (R$ 22,60) são os mais pedidos pela clientela.
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Bar Brahma
Na esquina cantada por Caetano Veloso, o bar tornou-se reduto da boêmia durante o regime militar, aonde iam intelectuais, artistas e estudantes. Fundado em 1948, fechou as portas nos anos 1990 e reabriu em 2001. As marcas do passado estão lá: os lustres de cristal da década de 1940, os espelhos originais nas paredes e os brasões. O espaço Brahminha conserva a estrutura original, desde o balcão de madeira até as lamparinas.
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Bar do Museu
Cansado de ser expulso dos bares por conta do horário, um grupo de intelectuais notívagos achou a solução: abrir seu próprio estabelecimento em 1959. Fundado por artistas envolvidos com a criação do Museu de Arte Moderna, o bar mudou para o atual endereço em 1979. Foi reduto de boêmios das artes, cujas reuniões atravessavam a madrugada regadas a saraus e cantorias, com visitantes como Paulo Autran, Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti, Vinicius de Morais e outros.
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Bar Pompeia
Construído na década de 1930 pelo avô de José Luiz Figueiredo, atual proprietário, o estabelecimento começou como um empório. Naquela época, as donas de casa precisavam levar seu próprio recipiente para comprar óleo de cozinha a granel. Passados 30 anos, deu espaço a uma loja de calçados e, depois, ao comércio de brinquedos. Desde 1999 funciona como um bar, e um mural com a imagem do empório atesta a história do local, sempre tocado pela mesma família.
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Cacilda
Perto do teatro Cacilda Becker, fica o bar e restaurante que também adotou o nome da atriz. A construção de 1911 era uma mercearia que pertencia a uma família italiana. Até que o argentino Daniel Garcia resolveu comprar o imóvel e instalar ali o Cacilda. O galpão é decorado hoje com fotos antigas e peças da coleção pessoal do proprietário, como sifões para fazer água gaseificada e ventiladores.
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Cantina Capuano
Inaugurada em 1907 na rua Major Diogo, a cantina da família Capuano é uma das mais antigas de São Paulo. O restaurante passou às mãos de Angelo Mariano Luisi em 1961 e foi transferido para a rua Conselheiro Carrão, no Bexiga, onde está até hoje. A casa antiga abriga um salão para 80 pessoas, com toalhas de mesa quadriculadas e fitas penduradas no teto da cores da bandeira da Itália. O fusili e o cabrito são servidos há cem anos.
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La Casserole
As mesas próximas às janelas, de frente para a banca de flores no largo do Arouche, são as mais disputadas do bistrô, um dos pioneiros da cidade com mais de 50 anos. O ambiente aconchegante tem placas com o nome dos clientes fiéis, um mapa da França no balcão e dois abajures dignos de antiquário. As panelas de cobre penduradas na parede servem de decoração. A perna de cordeiro com feijão branco é uma das receitas clássicas de Roger Henry.
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Casa Godinho
Na caderneta do empório aberto em 1888, até Assis Chateaubriand pendurou a conta. Pioneiro no comércio de bebidas e embutidos mais refinados, o negócio do português José Maria Godinho fez a fama por conta da venda do bacalhau, peixe que caiu no gosto paulistano da época. Resistiu ao tempo como as suas prateleiras de madeira, as mesmas há 122 anos.
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Charlô Jockey Club
Conversar com o ascensorista que leva o visitante do jóquei ao Charlô já é uma viagem no tempo. Ele tem história e adora contá-las. A porta de entrada, de ferro branco e vidro, com a insígnia do clube, é portentosa. O restaurante fica num salão de pé-direito alto, piso escuro, paredes com detalhes em dourado e cortinas enormes. A dica é ir nos dias de páreo, ficar no terraço e acompanhar a corrida comendo um boeuf bourguignon com nhoque de semolina (R$ 29).
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Choperia Joan Sehn
O bonde passava na av. Ibirapuera quando Antônio Pavão, 67 anos, comprou o bar do austríaco Joan Sehn. Era 1965 e não havia luz nos arredores, nem prédios ou ruas asfaltadas. As pessoas bebiam cerveja em cima de barris e comiam frios. O espaço apertado, inaugurado em 1937, um dos mais antigos da cidade, se tornou um salão amplo. O cardápio de hoje é mais incrementado: os pratos alemães, como o joelho de porco, são bem pedidos.
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Glória
O profano tomou conta dessa igreja, construída em 1963. Foi a primeira Pentecostal Unida de São Paulo, até dar lugar a um teatro. No local, foram encenadas peças ousadas, como as do dramaturgo Zé Maria Santos, com críticas à ditadura. Boate com pinta GLS desde 2006, sua atual vocação causa polêmica: a inscrição da fachada "casa de oração para todos os povos" incomoda alguns religiosos.
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Itamarati
Reduto dos estudantes de direito do lgo. São Francisco, o restaurante assistiu à evolução do tradicional "pindura" no dia 11 de Agosto, data comemorativa da inauguração da faculdade. Há 40 anos, o proprietário, Adriano Diniz dos Santos, 85, convidava os alunos e fechava o local com exclusividade. Após a profusão das faculdades de direito, o convite se tornou inviável. Aqui, os estudantes já entraram até com um jegue, durante uma recepção aos calouros.
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Kylix
As marcas deixadas por fogareiros no chão do andar superior foram feitas pelos moradores da antiga pensão. Esse casarão da década de 1910 também abrigou um sebo, uma videolocadora de filmes pornôs e hoje é um "wine-bar". Ao consultar a planta original, é possível verificar que a avenida Angélica elevou ao menos 2 m desde sua criação. A fachada e anteriores foram recuperados após reforma em 2006.
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Pandoro
Quando o bar chique de 1953 foi fechado, os clientes revoltados se reuniram na calçada clamando por sua reabertura, o que ocorreu em março de 2008. As três jabuticabeiras do jardim continuam lá, a varanda segue lotada e o garçom Guilhermino dos Santos não deixou de servir o caju-amigo, drinque que acompanha a história do bar. As luminárias retrô e as fotos antigas coladas nas paredes espelhadas tentam conservar seu legado.
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Salommão
Após a proposta para lecionar no Liceu de Artes e Ofícios, o artesão Franz Hermsdorfe deu adeus à Alemanha, em 1889. Habilidoso -trabalhou no escritório de arquitetura de Ramos de Azevedo --construiu artesanalmente sua residência e o primeiro sobrado da região em 1895. Um dos raros exemplares de arquitetura germânica na época, a casa encanta pelos afrescos delicados das paredes internas. Funciona como bar desde 2007, restaurado de forma primorosa.
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Santa Tereza
Os fornos da padaria Santa Tereza despejaram os primeiros pãezinhos em 1872, mas em outra rua, responsável pelo nome do estabelecimento. Transferida para a pça. João Mendes em 1947, é "point" de políticos e advogados frequentadores dos fóruns vizinhos. Nesse balcão, até Ulysses Guimarães sentou para tomar um cafezinho em copo americano.
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Terraço Itália
Com uma vista a 160 m de altura, serve de cenário perfeito para os pedidos de casório -são, em média, cinco por dia. Em 43 anos de funcionamento, o restaurante protagonizou cenas inusitadas, como a de um rapaz que bebeu champanhe no sapato da namorada e o pulo de um paraquedista. Seu requinte é atestado com a visita da rainha Elizabeth 2ª.
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Veridiana
Charmosa, a casa de 1903 manteve o ar de "antigamente". O espaço foi ocupado por famílias até a década de 1920, quando sediou a primeira clínica cardiovascular da cidade. A propriedade dos fundos também mexeu com o coração de muita gente. Ali funcionou o João Sebastião Bar, um dos berços da bossa nova e onde Chico Buarque fez suas primeiras apresentações.
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Livraria da Folha
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