Chef tibetano serve trunfos típicos como as 'trouxinhas' recheadas e o pernil ao molho de cravo

No Rio Grande do Sul, Ogyen Shak apresenta sua cultura natal à clientela

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Três Coroas (RS)

Foi aos pés da montanha na cidade de Três Coroas, no Vale do Paranhana, interior do Rio Grande do Sul, que o tibetano Ogyen Shak, de 42 anos, construiu um restaurante. Isso há dez anos, quando Ogyen resolveu fazer o que mais ama, ou seja, cozinhar e passar adiante um pouco da cultura tibetana aos clientes que topam, sem hesitar, provar novos sabores e aromas.

Situado próximo ao maior templo budista tibetano da América Latina —o Chagdud Gonpa Khadro Ling— o Espaço Tibet, fica às margens da rodovia ERS 115, a apenas 100 quilômetros de Porto Alegre.

Aos turistas com pouca fome, vale apreciar a decoração caprichada do jardim, assinada pelo próprio Ogyen com apoio da mulher, a gaúcha Adriana da Rocha Shak, 48.

Todo florido, com esculturas budistas espalhadas pelo gramado e fontes de águas, o jardim também tem mesas disponíveis para almoço ao ar livre, inclusive na companhia de pets.

Ogyen Shak, 42, e a mulher, Adriana da Rocha Shak, 48, tocam o restaurante Espaço Tibet - Luciano Nagel

Engana-se quem pensa que tibetanos são completamente vegetarianos. O povo, que vive na região do planalto ao norte do Himalaia se alimenta de carne de iaque, um boi selvagem asiático, ou de ovelha, ou de cordeiro.

A tsampa, que consiste na farinha de cevada moída, também está presente na culinária regional, assim como os queijos frescos do leite de cabra e as especiarias, como a semente de mostarda.

Ogyen Shak conta que o gosto pela culinária veio quando ainda era criança. “Aos seis anos fui viver com o meu tio. Sou filho de fazendeiros e sempre tive contato com o campo, com animais, ajudava minha mãe a tirar leite dos iaques’’, lembra.

Quando completou 16 anos, com incentivo de seus pais, Ogyen fugiu a pé do Tibete na companhia de dois irmãos menores com destino à Índia, para tentar uma vida melhor. O país havia sido ocupado por militares chineses.

Atravessou o Himalaia, enfrentou tempestades de neve, viu a morte de perto e viveu no Nepal por um tempo como refugiado, antes de finalmente morar em território indiano.

Há 15 anos no Brasil, ele sugere aos clientes um prato que sua mãe preparava para a família ainda no Tibete. Degustados em ocasiões especiais, os momos tibetanos são preparados e fechados manualmente um a um.

Muito similares às ‘’trouxinhas’’ de massa, podem ser recheados com carne, batata, legumes ou cogumelos shimeji frescos. São cozidos no vapor e salteados na manteiga para ficar com uma casquinha crocante por fora e suculenta por dentro.

Os momos podem levar molho de manjericão com castanhas de caju picadas, molho de mostarda e mel, ou o tradicional shoyu.

O prato racha é servido no Espaço Tibet, no Rio Grande do Sul, e leva pernil de cordeiro ao molho de cravo - Luciano Nagel

Outro prato recomendado é o racha, feito à base de pernil de cordeiro ao molho de cravo ou anis e decorado com gergelim branco e sálvia, acompanhado por arroz branco flambado na manteiga, castanha de caju picada, ervas finas, gergelim preto, batatas cozidas e cenoura caramelizada.

O prato predileto do chef é o shatok, uma porção de legumes crocantes com carne ou cogumelos e um brando pão tibetano cozido no vapor em formato de caracol. Os tibetanos costumam desenrolar o pão com as mãos e mergulhar no molho antes de levar à boca.

Como encerramento, vale provar o shintok tse, um purê de banana com uvas passas, castanhas de caju picadas e decorado com ganache de chocolate belga, culê de goji berry e um leve toque de cassis.

Antes de cair na estrada e seguir viagem, uma boa pedida é o po cha, uma mescla de chá preto, água, sal e manteiga de iaque. Aos menos ousados, Ogyen serve chá de limão com gengibre.

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