Morre Bettina Orrico, precursora do jornalismo gastronômico no Brasil

Consultora e pesquisadora, teve receitas conhecidas pela eficácia em mais de quatro décadas de carreira

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Morreu neste domingo (29) Bettina Orrico, culinarista e uma das precursoras do jornalismo gastronômico no Brasil, aos 89 anos.

Formada na Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia, ela começou, em 1974, a trabalhar como estilista de culinária na editora Abril, que havia inaugurado um estúdio e uma cozinha experimental para testar receitas. Antes disso, Bettina passou três anos na Europa dedicando-se ao estudo de pintura em países como Itália, Portugal e Suíça —onde também aprendeu sobre comida.

"Ela era artista plástica, começou com arte naïf e fazia estamparia. Mas sempre se interessou por gastronomia, até colecionava revistas", diz Maddalena Stasi, sobrinha de Bettina e dona do restaurante Mercearia do Conde, em São Paulo.

Foto mostra uma senhora de vestido azul com mãos cruzadas em frente ao corpo
A culinarista e consultora gastronômica Bettina Orrico - Jade Gadotti/Divulgação

De produtora de fotos de pratos, Bettina começou a tomar conta da cozinha durante os testes, depois a criar receitas, até que se tornou consultora gastronômica da revista Cláudia, explica ela em um vídeo publicado em 2016 no Youtube que presta homenagem a mais de quatro décadas de trabalho na área.

Suas receitas são conhecidas por leitores pela eficácia, didatismo e padronização, que ela creditava ao processo de testes aos quais eram submetidas.

"A Bettina tornou acessível a cozinha que antes era de grandes chefs de forma simples e fácil", afirma a chef e pesquisadora Ana Luiza Trajano no mesmo vídeo.

Mara Salles, chef do restaurante Tordesilhas, também dá seu depoimento na gravação, em que afirma que Bettina "abriu o caminho para a desmistificação da cozinha brasileira".

"Ela abriu caminho quando não teve medo nem vergonha de falar dos nossos pratos como eles são. E aí um monte de gente veio seguindo essa trilha", completa Mara, uma das referências no cenário da cozinha nacional.

Pesquisadora de gastronomia, Bettina também deu aulas de culinária e escreveu livros. Nascida Elisabetta Luzia Robatto Orrico em Salvador, teve entre as publicações "Os Jantares que Não Dei" (ed. BEĨ; 2009; 172 págs.), em que elaborou menus imaginários dedicados a personalidades para quem gostaria de cozinhar, como Oscar Niemeyer (1907-2012), Chico Buarque e Tomie Ohtake (1913-2015).

Mas a vocação para cozinha não era restrita ao ambiente de trabalho, lembra Maddalena.

"Ela era super criativa. Tenho lembranças dela na praia: ela via um polvo e já preparava um arroz, achava uma raia na feira e fazia uma receita, não tinha medo de errar", diz.

Em 2019, Bettina participou de um festival dedicado à mandioca na Mercearia do Conde. "Ela deu uma palestra [sobre a raiz] e fez um super sucesso. Ela pesquisava muito a nossa cozinha, em especial a mandioca", diz.

Bettina também costumava realizar um ritual de fim de ano cozinhando com as crianças da família "o bolo da vida", conta Maddalena.

De acordo com a sobrinha, Bettina foi hospitalizada recentemente depois de se sentir mal e teve um infarto. "Todas as gerações da família estavam emocionadas no velório porque era uma farra estar com ela", diz.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.