Como é o Museu da Comida Nojenta, com vinho de bebê de rato e larva de besouro

Em Berlim, espaço mostra iguarias incomuns ao redor do mundo e oferece saco de vômito no lugar dos bilhetes

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Berlim

Turismo e gastronomia são atividades tão intrinsecamente ligadas que não é estranho ouvir declarações como a do comediante americano Jim Gaffigan, que diz que viajar é simplesmente comer em lugares diferentes de casa. A busca por comidas deliciosas e diferentes justifica, para muitos, uma viagem.

Daí o estranhamento causado por um museu de Berlim que é dedicado a alimentos, mas usa como ingresso não um bilhete tradicional, e sim um saco de vômito daqueles de papel distribuídos em aviões. A atração ali não é necessariamente o que é gostoso, mas o que é estranho e até nojento.

Globo ocular de ovelha embebido em suco de tomate
Globo ocular de ovelha embebido em suco de tomate - Divulgação

Exagero e pantomima à parte, o Disgusting Food Museum (DFM) foi criado originalmente na Suécia e reúne uma exposição de comidas do mundo que são tidas como bizarras. A mostra é montada com fotos, vídeos, maquetes, descrições e amostras de cheiros e sabores que exploram o mundo de alimentos que podem soar estranhos a diferentes culturas, causando choque, nojo e repulsa.

A proposta tem um lado pop ancorado na fama de programas de TV dos anos 2000, como o Bizarre Foods, de Andrew Zimmern, em memes que circulam desde antes dos tempos de redes sociais na internet com listas das comidas mais estranhas do mundo e em canais do Youtube populares atualmente, como o Best Ever Food Review Show. Mas tem também um viés mais sério, quase antropológico, de mostrar que muito do que vemos como estranho pode ser familiar para outras culturas.

O museu defende que a função evolutiva do nojo é ajudar-nos a evitar doenças e alimentos não seguros, e que se trata de uma emoção universal, mas que frequentemente os alimentos que achamos nojentos não o são por si mesmos, e parecem assim por conta da nossa forma de pensar. "O que é delicioso para uma pessoa pode ser revoltante para outra", diz a exposição.

Essa característica é especialmente importante em tempos pós-pandêmicos. No início da propagação da Covid-19, a suspeita de que uma sopa de morcegos havia sido a origem do novo coronavírus gerou uma onda global de preconceito e repulsa a hábitos alimentares pouco conhecidos no Ocidente, mas comuns em outras partes do mundo.

É assim que o museu reúne iguarias estranhas ao Ocidente, como bebidas alcoólicas com cobras, bebida fermentada com bebês de ratos, sangue de vaca, ovo fecundado cozido e diferentes órgãos de animais. Mas apresenta também alimentos ocidentais que podem ser estranhos para outras culturas, como queijos maturados, foie gras e mesmo o twinkie, o bolinho industrializado dos EUA que é famoso por "nunca estragar".

O DFM é informativo e divertido, mas a pequena oferta de experiências reais com as comidas pode ser um tanto frustrante. A maioria dos alimentos apresentados aparecem apenas em forma de fotografias e modelos em 3D, e é preciso ler a descrição em texto para entender do que se trata —o que não é muito melhor do que ver programas de TV ou memes sobre o assunto.

A parte mais interessante da visita são as poucas comidas em que é possível sentir o cheiro em potes que são colocados fechados ao longo do museu, bem como a degustação de uma pequena seleção das comidas tidas como nojentas oferecida ao final do passeio.

É assim que um ocidental pode ter a primeira chance de conhecer de perto o durião, fruta que parece uma jaca e que é famosa (infame?) mundialmente por causa do seu cheiro forte. No DFM é possível experimentar o que costuma ser descrito como "uma mistura de abacaxi com cebola", e que tem sabor mais suave e menos desagradável do que o cheiro faz parecer.

Ruim de verdade é o hakarl, tubarão comido tradicionalmente na Islândia que tem textura de borracha e cheiro de amônia. Ainda pior é o aroma do surstromming, latas de arenque fermentado populares na Suécia que têm um cheiro de podre que pode, de fato, fazer querer usar o saco dado como ingresso do museu.

Como a ideia geral é fazer as pessoas deixarem de lado os preconceitos, a melhor parte dessa degustação é poder experimentar insetos, apresentados como uma possível fonte importante de proteínas para o mundo futuro.

Porquinho-da-índia assado, típico do Peru
Porquinho-da-índia assado, típico do Peru - Divulgação

O museu permite experimentar larvas de escaravelho-vermelho (que tem textura borrachuda e sabor levemente defumado), pupas de bicho-da-seda (crocante e levinha e parecendo um salgadinho frito), grilos e gafanhotos (sequinhos e com sabor que lembra camarão salgado), e larvas de besouros (que poderiam passar por flocos de cereais, crocantes, mas sem muito sabor).

Não é uma atração para quem tem estômago fraco, e requer um tanto de curiosidade e espírito de aventura. Mas vai além da simples apresentação de curiosidades e de fato pode ajudar a superar preconceitos. Como Berlim oferece grandes opções realmente gastronômicas (mais por seu caráter cosmopolita do que por uma tradição culinária marcante), pode ser um bom passeio para gastar o tempo entre uma refeição e outra.

Disguting Food Museum
Schützenstraße 70, 10117 Berlim, Alemanha. Sex. a ter., das 12h às 18h, @disgustingfoodmuseum

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