Descrição de chapéu alimentação

Cresce a procura por ovos orgânicos, caipiras e 'cage free'; entenda a diferença

Saiba como identificar produtores que seguem regras relacionadas produção, rotulagem e comercialização

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

O brasileiro come, em média, 242 ovos por ano, segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). Só que mudou o jeito de comprá-los. Se cor e tamanho eram o que importava no passado, hoje o consumidor também quer saber onde as galinhas vivem e como são tratadas.

A demanda faz crescer o número de embalagens com imagens de galinhas ciscando em paisagens bucólicas e, na carona, surgiram novas classificações. Além das, digamos, oficiais – orgânico, cage free e caipira – é fácil encontrar termos como "ovos de galinhas felizes".

Imagem mostra dez galinhas andando livremente na grama. Há uma cerca ao fundo e uma árvore no canto direito da imagem
Criação de galinhas no sistema orgânico da Raiar - Divulgação/Raiar Orgânicos

O movimento começou tímido, no fim dos anos 1980, com iniciativas voltadas para um público alternativo. Desta geração são o Sítio Yamaguishi Orgânicos, de Jaguariúna (SP), e a Korin, que surgiu nos anos 1990 como um centro de pesquisa da Igreja Messiânica.

De lá para cá, o setor se agigantou. Com produção de 3,4 bilhões de ovos por ano, a Ovos Mantiqueira se lançou no segmento convencional, mas não demorou a enxergar o potencial dos ovos especiais.

Divididos nas linhas Happy Eggs (que engloba os cage free e os caipiras) e orgânica, eles já representam 30% das vendas. Em 2020, a empresa deixou de investir em novas granjas convencionais e, em 2023, adquiriu a produtora orgânica Fazenda da Toca.

"Já usamos a mesma tecnologia das granjas convencionais para garantir segurança alimentar na produção artesanal. A colheita dos ovos acontece sem contato manual e as galinhas, que vivem em temperatura controlada, ouvem música clássica", conta o diretor comercial, Murilo Pinto.

Fundada em 2020, a Raiar Orgânicos já chegou ao mercado com os dois pés fincados no setor de orgânicos e produziu 25 milhões de ovos em 2023. Localizada em Avaré (SP), a empresa começou com 80 mil galinhas e, até o fim deste ano, pretende chegar a 320 mil.

"Dizem que galinhas soltas produzem menos, mas fechamos o primeiro ciclo com produção 15% maior, além de galinhas que vivem 20% mais", diz Luiz Barbieri, sócio da Raiar.

Ovos especiais custam caro – até o dobro, no caso dos orgânicos. A despeito do preço, o consumo, concentrado nos grandes centros urbanos do Centro-Sul do país, não para de subir. Nos supermercados do grupo GPA (Pão de Açúcar e Extra), 43% dos ovos vendidos, em 2023, eram orgânicos, caipiras ou "cage free". Até 2028, a companhia promete deixar de vender os convencionais.

Apesar de aquecido, trata-se de um segmento que ainda carece de regras claras para produção, rotulagem e comercialização. Com exceção dos ovos orgânicos, que passam por rígido processo de certificação compulsória, demais sistemas de criação são pouco regulados, o que dá margem para muita confusão – sem contar as fraudes.

Receita de ovos beneditinos do Rodrigo Lodetti, Botanikafé, para livro de receitas da Raiar. - Carol Gherardi/Divulgação

Não por acaso, os produtores têm apostado em canais diretos de venda. Empresas como Label Rouge, Turma do Ovo e as próprias Mantiqueira e Raiar já fazem vendas diretas, avulsas ou por assinatura. A Korin planeja iniciar a operação no e-commerce nos próximos meses.

A produção de conteúdo didático, pelas redes sociais, ajuda a derrubar mitos. A cor da casca, por exemplo, nada tem a ver com a forma de criação das galinhas, apenas à raça do animal. Gemas muito amarelas também não são garantia de aves bem alimentadas. "Muito produtor convencional põe corante para enganar o mercado. Com produto químico, se faz até gema azul", alerta Fernando Bicaletto, diretor comercial da Raiar.

Já a casca pode, sim, ser azul – e até verde, como descobriu a sócia do Criatório Quié, Natália Monteiro. Em seu sítio, em São Luiz do Paraitinga (SP), ela mantém 150 galinhas e investe na raça Azur, que põe ovos de casca azulada. Através de cruzamentos, chegou a um arco-íris que vai do creme ao roxo, passando pelo cinza e pelo cor-de-rosa.

A caixa, vendida a R$ 20 na feira de produtores da cidade, tem feito sucesso. "Quem tem parentes na roça bate o olho e reconhece esses ovos como caipiras, de galinhas criadas em sítio", afirma. "A cor funciona como um atestado de autenticidade."

Galinheiro fechado, com luz artificial e superlotação, cheio de galinhas no chão e empoleiradas
Galinheiro fechado em sistema cage free da Mantiqueira - Divulgação/Ovos Mantiqueira

Entenda as principais classificações:

Ovos orgânicos

Criadas em ambiente protegido, mas arejado e com luz natural, as galinhas têm acesso a área aberta com vegetação. No galpão, são permitidas seis aves por m², que não podem ter os bicos cortados e devem ser vacinadas e tratadas com homeopatia. Além da alimentação natural (capim, folhas e sobras de colheitas), ingerem grãos orgânicos. Para obter o selo, o produtor passa por auditorias.

Ovos caipiras

A ração não pode conter corantes sintéticos e as galinhas têm acesso a área externa. Nos galpões, são permitidas sete galinhas por m². As regras foram definidas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), mas não é obrigatório segui-las. Uma das formas de fugir de fraudes é procurar pelos selos da Associação Brasileira da Avicultura Alternativa (Aval) ou do Instituto Certified Humane Brasil.

Ovos cage free

O termo em inglês, que significa "livre de gaiola", identifica criações onde as galinhas vivem soltas – o que não significa que elas tenham acesso ao ar livre. As granjas mantêm os animais em galpões, com até 11 galinhas por m². Os selos da Aval e do Instituto Certified Humane Brasil identificam produtores que seguem regras relacionadas a alimentação e não administram antibióticos ou promotores de crescimento.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.