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Projeto em SP leva música e arte a pessoas com deficiência intelectual durante a pandemia

Luz, Música e Inclusão foi realizado pelo Instituto Olga Kos em parceria com a Enel

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São Paulo

Em São Paulo, um projeto aliviou as consequências do distanciamento físico causado pela pandemia de Covid-19 e levou a arte, a música e o mundo digital para perto de 34 pessoas, entre crianças, jovens e adultos com deficiência intelectual, durante três meses.

Trata-se do projeto Luz, Música e Inclusão, do Instituto Olga Kos em parceria com a Enel Distribuição São Paulo, que uniu promoção de saúde, bem-estar, arte e inclusão.

A entidade atende cerca de 3.000 pessoas na capital paulista com deficiência física, intelectual ou em situação de vulnerabilidade social.

As inscrições para as atividades do próximo ano já estão abertas. Há vagas para oficinas gratuitas nas áreas de música, dança, arte, esporte (karatê e taekwondo) e outros projetos que estão em andamento.

Vinícius, 11, foi um dos alunos do projeto Luz, Música e Inclusão, do Instituto Olga Kos. O projeto leva música e arte a pessoas com deficiência intelectual
Vinícius, 11, foi um dos alunos do projeto Luz, Música e Inclusão, do Instituto Olga Kos. O projeto leva música e arte a pessoas com deficiência intelectual - Danilo Verpa - 17.dez.2020/Folhapress

O isolamento havia privado Vinícius Alves Guimarães, 11, morador na região de Campo Limpo (zona sul), de encontrar os amigos. Segundo a mãe Francine Alves Nascimento, 53, há três anos, o filho, que tem síndrome de Down, participa ativamente dos projetos oferecidos pelo instituto.

“O movimento, a interação e o contato com os colegas é importante para o desenvolvimento dele”, diz Nascimento.

A pandemia causada pelo novo coronavírus obrigou o instituto a reinventar o formato do Luz, Música e Inclusão.

Os encontros com os colegas e a equipe multidisciplinar (instrutores de música e artes, pedagogo, psicólogo e fotógrafo) foram virtuais, através da plataforma Zoom.

Além das aulas de música e artes plásticas, os oficineiros e as famílias puderam adquirir o conhecimento de ferramentas virtuais. É o caso da padlet, que reúne o material produzido nas oficinas, os vídeos e as fotos.

“Eles aprenderam a colocar textos e vídeos na ferramenta, e atitudes como fechar o microfone e esperar o colega falar. Essa nova forma de se comunicar, movimentar e expressar é muito grandiosa. A casa dos participantes se transformou num novo espaço de aprendizado neste momento de pandemia”, afirma Silvia Liz, coordenadora do Departamento de Cultura do Instituto Olga Kos. .

Os encontros ajudaram os alunos a se adequarem à nova forma de comunicação. “Hoje em dia, todo mundo se comunica remotamente. As pessoas se superaram ao entrarem nas plataformas disponibilizadas e elas podem levar isso para o dia a dia. A maioria só tinha contato com WhatsApp”.

No Luz, Música e Inclusão, os alunos aprenderam a confeccionar instrumentos musicais, tocá-los e cantar a música que norteou a ação, “Sinta”, composta pela instrutora de arte e música Débora Hatner.

Entre as propostas de trabalho, todos produziram chocalhos com materiais recicláveis e objetos disponíveis, mas o instituto emprestou um instrumento musical a cada participante.

Além disso, na ferramenta virtual padlet foram disponibilizados vídeos para que os oficineiros realizassem tarefas.

Vinícius fez dois chocalhos com potes de iogurte e rolos de papel toalha. Ele é apaixonado por música e a família sempre o estimulou positivamente. O menino tem em casa instrumentos musicais de brinquedo como violão, guitarra, flauta, gaita e um pandeiro, que quebrou de tanto ser tocado.

Música e arte são ferramentas importantes de inclusão social. Além do alívio do estresse pelo confinamento, a ação impactou na melhora de aquisições motoras e cognitivas.

“Pra quem a música não faz bem? O Vinícius trabalhou o cognitivo, estimulou a fala, a memória, o foco e a imaginação; melhorou a dicção e aumentou o vocabulário. As oficinas ajudaram Vinícius a melhorar o ritmo, o equilíbrio e a criatividade ao ouvir e cantar a música”, diz Nascimento.

“A oficina também permitiu aprender sobre o mundo da internet, ocupar o tempo e a mente, e aproximar o Vinícius dos colegas de forma protegida”, completa.

“Com a pandemia, perdeu-se a vida social e a fonte de socialização e de desenvolvimento através dos encontros. Agora virtuais, eles permitem trabalhar a parte social e emocional dos participantes, ao conseguir rever ou conhecer outras pessoas e restabelecer vínculos na nova forma de se expressar”, explica Kátia Pereira, psicóloga da entidade.

Para Pereira, a arte também incorporou alguns ganhos. O curso proporcionou o desenvolvimento da criatividade, do poder de escolha e autonomia, a partir da construção do instrumento —como criá-lo e com quais objetos. Também houve aproximação da família num novo contexto e nas propostas diferentes, uma vez que assistiram às aulas e ajudaram a produzir o instrumento musical.

Monica dos Santos Rocha, 26, moradora no Capão Redondo (zona sul), também tem síndrome de Down e é tão atuante no instituto que se tornou uma das instrutoras de taekwondo. Nos eventos realizados na entidade até a pandemia, era ela a recepcionista. Articulada e extrovertida, Mônica gosta de dançar, cantar e fazer lives e vídeos no TikTok.

A mãe Jildete Pereira dos Santos Rocha, 60, conta que, durante a pandemia, a Monica tornou-se uma pessoa introspectiva, ansiosa e passava a maior parte do tempo trancada no quarto. “Ela estava tão desanimada que não tinha vontade de fazer nada”, diz Rocha.

Com a participação no projeto o cenário mudou. “As aulas a distraíram muito. Não sei o que seria se a Monica continuasse parada. Ela aprendeu a tocar instrumentos, cantar e melhorou a voz. Todo dia foi uma superação diferente. Tinha coisas que eu não sabia que ela era capaz de fazer, como desenhar, por exemplo. Com muita facilidade ela aprendeu a mexer nas novas ferramentas e pode ajudar os outros que estavam com dificuldade”, relata Rocha.

“A ideia é mostrar que temos a possibilidade de satisfazer o interesse de cada participante e que isso pode acontecer em qualquer espaço e situação, evidenciando a autonomia, liberdade e o respeito à diferença. Aquilo que eu sei pode não ser a mesma coisa que você sabe, mas quando unimos isso conseguimos transformar numa linguagem artística e de grande representatividade. É o que aprendemos com todas as diferenças que encontramos no caminho”, ressalta Liz.

Todo o processo que envolveu o projeto Luz, Música e Inclusão foi reunido num documentário com depoimentos, a criação dos instrumentos e a interação com a família. O vídeo, bem como os encontros, estão disponíveis no canal do YouTube do instituto.

Informações e inscrições para as oficinas, práticas esportivas e projetos estão disponíveis no site do Instituto Olga Kos. Interessados também podem enviar email para contato@institutoolgakos.com.br

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