Descrição de chapéu cracolândia drogas

Após dispersão da cracolândia, usuários de droga ocupam 16 pontos no centro de SP

Levantamento mostra que dois meses após operação policial na praça Princesa Isabel, dependentes químicos se espalharam pela região

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São Paulo

Ao menos 16 pontos do centro de São Paulo foram ocupados por usuários de drogas ao longo dos dois últimos meses, após a ação policial que esvaziou a praça Princesa Isabel, onde funcionava a cracolândia.

Integrantes do LabCidade (Laboratório Espaço Público e Direito à Cidade, ligado à USP) têm percorrido a região e mapearam os pontos de concentração de dependentes químicos, e a quantidade de pessoas vista em cada local.

Usuários de drogas ocupam a rua dos Gusmões esquina com avenida Rio Branco, no centro de São Paulo
Usuários de drogas ocupam a rua dos Gusmões esquina com avenida Rio Branco, no centro de São Paulo - Danilo Verpa - 5.jul.22/Folhapress

"Identificamos os lugares onde o fluxo tentou se fixar em alguns momentos, mas foi impedido pela polícia", diz o pesquisador Giordano Magri, que foi chefe de gabinete da Secretaria municipal de Direitos Humanos na gestão de Fernando Haddad (PT), e trabalha atualmente no gabinete do vereador Eduardo Suplicy (PT). "Antes, o impacto social da cracolândia atingia quatro quarteirões no entorno da praça Júlio Prestes, agora afeta um perímetro quase oito vezes maior", continua.

Em nota, o secretário-executivo de Projetos Estratégicos, Alexis Vargas, se referiu ao estudo como um "panfleto ideológico-partidário" sem dados que permitam embasar as conclusões publicadas. "Entre os autores estão a "Craco Resiste" e o chefe de gabinete de um vereador do PT", escreveu.

O secretário se refere a integrantes do grupo de pesquisadores de diferentes entidades que elaborou o mapa: Aluízio Marino, pesquisador do Labcidade; a antropóloga Amanda Amparo e o mestrando Ariel Machado Godinho do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da USP, Daniel Mello, militante d’A Craco Resiste, Giordano Magri, pesquisador da FGV, o fotojornalista Luca Meola e Raquel Rolnik, professora da FAU-USP e coordenadora do LabCidade.

Vargas reforçou que houve ampliação no atendimento dos dependentes químicos e redução do fluxo de pessoas consumindo drogas nas ruas. Segundo ele, atualmente, a concentração de usuários tem ficado em torno de 200 pessoas, "eventualmente, chegando a 400", uma redução em relação às 4 mil pessoas que frequentavam a cracolândia em 2016, antes do programa Redenção, lançado em 2017.

A dispersão de usuários passou a ocorrer de forma mais frequente no início de 2020, quando a prefeitura fechou os centros de acolhida e outros equipamentos voltados ao atendimento dos usuários de drogas perto do fluxo – como é chamada a aglomeração de frequentadores e traficantes, e se acentuou após a ação policial.

O mapeamento identificou a rua dos Gusmões na esquina com a avenida Rio Branco, na Santa Ifigênia, como o ponto de maior aglomeração, onde foram contabilizadas mais de 400 pessoas nos últimos 15 dias.

A maior parte dos pontos concentra grupos menores de usuários, o que reforça a tese de espalhamento da cracolândia. Dos 16 lugares mapeados, 6 tinham entre 20 a 40 pessoas e outros 4, de 100 a 120 indivíduos.

"O mapa desmonta a falácia da prefeitura que diz ter diminuído a frequência de usuários de drogas no centro da cidade após a ação policial. Não ter mais um ponto único que os reúne não quer dizer que a cracolândia diminuiu, apenas que está espalhada", diz Magri.

As gestões do prefeito Ricardo Nunes (MDB) e do governador Rodrigo Garcia (PSDB) defendem a dispersão como uma estratégia eficiente de enfraquecer a relação entre dependentes químicos e traficantes e, assim, convencer mais pessoas a buscar tratamento.

"Nós temos muito menos dependentes químicos [na região] hoje do que tínhamos no começo do ano. É uma luta permanente", disse o governador na última quinta-feira (7).

O pesquisador do LabCidade critica a falta de métricas por parte da prefeitura que estabeleça a efetividade das ações praticadas nos últimos dois meses. "Não tem como analisar o acompanhamento dessas pessoas. Sem isso, não existe atendimento efetivo", diz Magri.

O prefeito anunciou para as próximas semanas a inauguração de mais dois Caps (Centro de Assistência Psicossocial) na região central. As unidades são voltadas ao tratamento de pacientes psiquiátricos.

Conflitos no centro

O deslocamento constante de usuários de drogas pelo centro tem provocado atritos com moradores e trabalhadores.

Na última quarta-feira (6), houve confronto entre comerciantes da região da Santa Ifigênia e usuários que estavam no fluxo da rua dos Gusmões.

​Vídeos gravados com câmeras de celular mostraram funcionários dos estabelecimentos comemorando a dispersão após alguns dependentes terem sido atingidos por paus e pedras. No dia seguinte, lojistas organizaram um protesto pedindo mais segurança.

Atos semelhantes, porém sem violência, foram articulados por moradores do bairro Campos Elíseos.

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