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'Ficamos totalmente à mercê', diz morador afetado por queda de árvore em SP

OUTRO LADO: Defesa Civil diz que segue em atendimentos na capital, assim como a CET; Enel diz que vai concluir atendimentos até terça-feira (7)

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São Paulo

Dois dias após a tempestade que atingiu São Paulo, moradores da capital dizem ver um "empura-empurra" das autoridades para solucionar os problemas de queda de árvores e falta de energia. Só a cidade ainda acumula neste domingo (5) cerca de 1 milhão de clientes da Enel sem energia.

"Ligamos para os [Corpo de] Bombeiros, eles disseram que quem faz a remoção é a Defesa Civil. A Defesa Civil veio e foi embora sem retirar porque informou que há fios de alta tensão e precisa que a Enel venha primeiro. Neste meio-tempo, ficamos totalmente à mercê", afirmou Walter Luís, 70, morador do bairro Planalto Paulista, na zona sul paulistana.

Ele é um dos moradores afetados pela queda de duas árvores enormes na avenida Piassanguaba, na altura do número 2.658, esquina com a rua Campina da Taborda.

Árvores caídas na avenida Piassanguaba, no Planalto Paulista, zona sul de São Paulo; moradores reclamam que estão há dois dias sem luz - Ana Bottallo/Folhapress

Ali, a falta de energia já passa de 60 horas. Além disso, uma das árvores, cujo tronco caiu sobre duas casas, quebrou um encanamento da Sabesp, provocando um vazamento na sarjeta. Se já estava difícil passar na calçada estreita, com vários fios dependurados, a água escura que percorre pela valeta da rua dificulta ainda mais.

No momento de visita da reportagem, uma mãe tentava passar com sua bebê, que estava no carrinho, sem sucesso. O terreno desregular e os paralelepípedos que acumulavam água atrapalham ainda mais o caminho. O trecho da rua Campina da Taborda que vai em direção à avenida José Maria Whitaker estava interditado.

"Eu falei com um rapaz da Enel ontem [sábado], lá em Osasco, na região. Eles falaram que a previsão aqui para se normalizar é de dois dias, até segunda-feira, porque eles vão ter que reconstruir a rede elétrica para alimentar as casas. Senão, não vai ter jeito. Vai voltar, mas vai apagar novamente", afirma Luan Costa Silva, 37, também morador da avenida Piassanguaba.

Enquanto falavam com a reportagem, alguns moradores notaram um carro da Polícia Militar passando bem na esquina do acidente. Questionados sobre por que as árvores ainda não foram removidas, os policiais responderam que a Defesa Civil já havia passado e não retornaria até que a Enel completasse o atendimento.

Um idoso de 85 anos, cuja casa está sem luz há dois dias, classificou a situação como lamentável e disse que os responsáveis "jogam um para o outro".

A falta de energia ali se estende por toda a região, até a estação de metrô São Judas, na avenida Jabaquara. A reportagem também notou que vários semáforos ali na região permanecem queimados.

A reportagem entrou em contato novamente com a Enel, nesta segunda-feira (6), que disse que está enviando equipes para dar o atendimento com urgência aos moradores da região ainda hoje.

Em nota enviada à Folha no domingo (5), a empresa afirmou que "devido à complexidade do trabalho para reconstrução da rede", a recuperação ocorria "de forma gradual".

"Em atuação conjunta com Corpo de Bombeiros, Prefeitura e outras autoridades, a companhia tem priorizado os casos mais críticos, como serviços essenciais e a conexão das escolas onde seriam aplicadas as provas do Enem [Exame Nacional do Ensino Médio]", completou a nota.

Como mostrou a Folha, porém, alguns locais de provas do exame estavam sem fornecimento elétrico até por volta das 15h30 deste domingo (5).

Em relação à Defesa Civil, o órgão enviou uma nota no último sábado (4) em conjunto com a Secretaria Municipal de Segurança Urbana em que afirmou que registrou 44 atendimentos na capital entre 7h da sexta-feira (3) e 7h deste sábado (4), com 38 quedas de árvores, sendo 13 na zona leste, 3 na zona norte, 12 na zona sul e 10 no centro-oeste, e que as equipes seguem em atendimentos na cidade.

Já a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) disse, em nota, que registrou 99 endereços com queda de árvores com ocupação total ou parcial por conta da chuva. Disse ainda que, desde a 0h de sábado (4), 371 semáforos foram consertados e que às 7h30 deste domingo (5) 265 cruzamentos permanecem apagados por falta de energia e 27 apresentam outras falhas.

Segundo a companhia, as equipes de manutenção estão nas ruas para "restabelecer o funcionamento dos equipamentos o mais brevemente possível".

Detalhe da casa que foi atingida por uma queda de árvore, no Planalto Paulista, zona sul de São Paulo
Detalhe da casa que foi atingida por uma queda de árvore, no Planalto Paulista, zona sul de São Paulo - Ana Bottallo/Folhapress

Uma das casas afetadas pela queda das árvores é a de uma aposentada de 96 anos, com problemas de saúde, segundo Walter Luís. Ela não consegue sair de casa e um vizinho tem levado mantimentos e água pela sua garagem.

"Eu moro naquela casa, do portão verde, mas não consigo nem entrar nem sair com o carro. Sorte que não foi atingida, mas as árvores caíram em outras duas casas que não sabemos nem se há algum dano interno. E caiu também no prédio, que pegou fogo e tinha uma senhora lá dentro, e por isso os bombeiros vieram", conta Vanessa Sales, 46, apontando para a casa em trecho onde a prefeitura passou uma fita de isolamento de área.

Árvores caídas na Avenida Piassanguaba, no Planalto Paulista, zona sul de São Paulo; moradores reclamam que estão há dois dias sem luz
Árvores caídas na Avenida Piassanguaba, no Planalto Paulista, zona sul de São Paulo; moradores reclamam que estão há dois dias sem luz - Ana Bottallo/Folhapress

De acordo com um dos moradores ouvidos pela reportagem, que não quis dar o nome para não trazer exposição e eventualmente sofrer com retaliações, ele já havia informado o canal 156 da Prefeitura de São Paulo para remoção de uma das duas árvores que caíram.

Segundo ele, um engenheiro havia feito uma avaliação e afirmado que a árvore estava saudável.

Além das queixas em relação à falta da manutenção das árvores e espaços verdes, os moradores também afirmaram que as fiações ali formavam um emaranhado, embrenhando-se nos galhos, o que sempre acabava provocando estalos durante tempestades.

"Teve um transformador que estourou aqui três vezes, mas dessa vez veio tudo abaixo. A gente reclama sempre, faz ligação, mas eles nem sequer respondem. Preocupação, eles falam que tem, mas eu tenho dúvidas", completou Luan Costa Silva.

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