Descrição de chapéu Datafolha

Enel é responsável por quedas de energia para 62% dos paulistanos, diz Datafolha

Culpa por apagões é atribuída à prefeitura por 18%; OUTRO LADO: empresa defende melhores e investimentos, e gestão municipal diz que aumentou podas de árvore

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São Paulo

Transtorno que aparece como o segundo mais recorrente na percepção dos moradores de São Paulo, as quedas de energia têm como principal culpada a distribuidora de energia Enel, segundo 62% das pessoas ouvidas na pesquisa Datafolha sobre problemas e prioridades da cidade.

A empresa detentora da concessão pública para levar eletricidade às residências e empresas paulistanas não é, porém, a única instituição sobre a qual recai a responsabilidade pelos apagões ocorridos nos últimos 12 meses. A gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) é apontada como a maior responsável pelo problema por 18% dos entrevistados.

Imagem mostra duas pessoas iluminadas por velas no interior de um prédio
Restaurante durante queda de energia em Perdizes, na zona oeste de São Paulo; apagão atingiu diversos bairros no início de novembro - Zanone Fraissat - 4.nov.2023/Folhapress

Na sequência aparecem o governo estadual de Tarcísio de Freitas (Republicanos), com 7%, seguido pela gestão federal do presidente Lula (PT), com 4%, de acordo com resultado da pesquisa espontânea —quando o entrevistador não apresenta alternativas para a resposta.

O Datafolha entrevistou 1.090 moradores com 16 anos ou mais em todas as regiões da cidade nos dias 7 e 8 de março. A margem de erro é de três pontos percentuais, para mais ou para menos, dentro de um nível de confiança de 95%.

Em nota à reportagem, a Enel defende que investiu R$ 8,34 bilhões na área da concessão em São Paulo. Para o biênio que se encerra em 2026, a companhia prevê mais US$ 3 bilhões (cerca de R$ 14,9 bilhões) em investimentos na qualidade e na resiliência da rede elétrica nas áreas concedidas de Rio de Janeiro, São Paulo e Ceará.

A cidade de São Paulo enfrenta uma série de apagões desde o final do ano passado, sendo o mais grave registrado no início de novembro. Alguns bairros ficaram mais de 110 horas sem abastecimento após uma tempestade com ventos acima de 100 km/h ter derrubado dezenas de árvores sobre cabos de energia.

A exposição negativa da empresa Enel neste episódio pode explicar a identificação da prestadora do serviço como a maior culpada pelo desabastecimento, avalia Marco Antonio Carvalho Teixeira, pesquisador do Centro de Estudos de Administração Pública e Governo da Fundação Getulio Vargas.

A empresa, em nota, diz também que tem trabalhado em melhorias. "Muitas iniciativas já estão em curso, como a modernização da estrutura da rede, a digitalização do sistema, o aperfeiçoamento e a diversificação dos canais de comunicação com os clientes, além da elevação dos graus de criticidade no planos de contingência e a mobilização de mais equipes em campo."

Ainda, a Enel afirma que os indicadores que medem o tempo em que cada unidade ficou sem energia e o número de interrupções estão melhores do que o estabelecido pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) para a área concessionada em São Paulo.

Embora seja a Enel, de fato, a responsável pela distribuição de energia, é menos comum que a população identifique claramente uma concessionária, em vez do gestor público, como o principal responsável por um problema, na visão de Teixeira.

Segunda a aparecer na lista dos responsáveis pelos apagões, a prefeitura não é incumbida de fiscalizar o serviço de distribuição de energia. Esta é uma atribuição da Arsesp, a agência reguladora do governo estadual.

A tarefa é delegada ao estado pela Aneel, ligada ao governo federal. No Brasil, produção, transmissão, distribuição e comercialização de energia elétrica são atividades de responsabilidade da União desde a Constituição de 1934.

Em nota, a Prefeitura de São Paulo diz que "questiona a qualidade dos serviços prestados pela concessionária responsável desde que as quedas de energia se tornaram comuns na cidade".

"Além de abrir negociações diretamente com a empresa e solicitar uma manifestação a respeito dos seguidos transtornos e prejuízos causados aos paulistanos, em janeiro deste ano a gestão abriu uma ação no Tribunal de Contas da União solicitando mais rigor na fiscalização federal sobre a concessionária e imediata rescisão contratual da cidade de São Paulo com a Enel, em função das sucessivas e graves falhas registradas", lembra a gestão Nunes.

Procurada pela reportagem, a Arsesp não comentou diretamente os resultados da pesquisa. A agência afirmou que "conduz, sob delegação da Aneel, processos punitivos contra os agentes".

Também procurada, a Aneel não se manifestou até o momento.

Antes da multinacional italiana Enel assumir a concessão, o serviço era prestado pela Eletropaulo. O governo paulista tinha expressiva participação na empresa até 2018, quando leiloou suas cotas, adquiridas pela atual concessionária.

É compreensível, no entanto, que parte da população atribua à prefeitura a culpa pelo transtorno devido à sua proximidade com o dia a dia do munícipe, diz Teixeira. "O [ex-governador Franco] Montoro costumava dizer que é na cidade, não no estado ou na União, que reside o cidadão. Então, ele recorre à prefeitura", comenta.

A responsabilização da prefeitura pelas quedas de energia é ainda maior entre eleitores do prefeito Ricardo Nunes, que tentará a reeleição em outubro, em relação aos entrevistados que pretendem votar nos outros dois candidatos mais bem colocados na pesquisa, Guilherme Boulos (PSOL) e Tabata Amaral (PSB).

Enquanto 19% dos eleitores de Nunes dizem que a prefeitura é a principal responsável, esse índice cai a 16% entre aqueles que pretendem votar em Tabata, cedendo ainda mais, a 13%, entre eleitores de Boulos.

A atribuição de culpa à prefeitura sobe para 27% entre aqueles que dizem votar em Marina Helena (Novo) e escala a 29% entre eleitores de Kim Kataguiri (União).

Faz sentido, porém, que o munícipe responsabilize a prefeitura quanto à queda de energia nos casos em que há relação com falhas na conservação e poda de árvores, serviços que são municipais, diz Teixeira.

Em nota, a Prefeitura de São Paulo afirma que as podas em 2023 cresceram na comparação com o ano anterior. Segundo a gestão Ricardo Nunes, foram 148.869, em 2022, contra cerca de 177,5 mil em 2023.

Entre os entrevistados pelo Datafolha que afirmaram haver algum problema no bairro onde moram, 62% citaram quedas de árvores, queixa que aparece em quinto lugar entre as 11 ocorrências questionadas aos munícipes.

Quedas de energia estão em segundo lugar neste ranking, com 78% das citações. Buraco no asfalto é o estorvo mencionado por 84% dos entrevistados, ocupando o topo da lista de problemas da cidade na opinião dos seus moradores na pesquisa estimulada —o que significa que, neste caso, o entrevistador apresentou as alternativas para a resposta.

Após a crise de novembro, um porta-voz da Enel afirmou que 95% das ocorrências de queda de energia foram provocadas por quedas de árvore.

"O prestador de serviço [Enel] fez a prefeitura cair numa armadilha quando falou que boa parte das quedas de energia se deu por ausência de manutenção das árvores, o que não está incorreto, não é? Então tem aí uma responsabilidade compartilhada", afirma Teixeira.

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