Nos anos 1970, a exploração do galeão Sacramento, navio naufragado em 1668 na Bahia, marcou a arqueologia subaquática brasileira. Os mergulhadores da Marinha estavam sob coordenação do arqueólogo Ulysses Pernambucano. A missão resgatou objetos que ajudam a contar a história brasileira e internacional.
Ulysses publicou mais de 30 trabalhos sobre preservação do patrimônio cultural. Suas pesquisas renderam achados arqueológicos como o Palácio Friburgo, residência do conde João Maurício de Nassau em Recife, e mapeamento de fortes do Nordeste. Ele também desenvolveu estudos na baía de Guanabara, no Rio de Janeiro.
Foi servidor da Fundarpe (Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco), da qual foi presidente entre 1979 e 1981, durante o governo de Marco Maciel. E se envolveu com questões ambientais na Associação Pernambucana de Defesa da Natureza (Aspan), referência nacional na defesa da fauna e da flora.
Ulysses Pernambucano de Mello, Neto —com vírgula mesmo— nasceu em 1946, no Recife. Um dos três filhos do historiador José Antônio Gonsalves de Mello com a portuguesa Ivone Sara, herdou do pai a paixão pelas pesquisas.
Cursou direito na Universidade Federal de Pernambuco e foi juiz do trabalho, mas abandonou a carreira pelo sonho da arqueologia. Especializou-se em história e em história da arte.
Durante protestos de estudantes contra a ditadura militar na capital pernambucana, em 1966, Ulysses começou a namorar Virgínia Carvalheiro de Mendonça. Ele deu abrigo para a moça ao fugirem da polícia. O reencontro com a vizinha de infância virou um casamento de mais de cinco décadas, com dois filhos.
"A gente desenvolveu uma relação muito ímpar, ele era meu melhor amigo. Para mim ele era um Indiana Jones pernambucano", afirma o filho Daniel Pernambucano de Mello, 38.
A família estava em sua tríade para aproveitar a vida além do trabalho ao qual se dedicava tanto, completavam os atos de tomar um bom vinho e comer queijos.
Ulysses passava por um tratamento contra uma leucemia descoberta ano passado, mas não deixou o trabalho. Saía da quimioterapia e pegava três horas de estrada dirigindo rumo a Areia (PE), onde desenvolveu seu último estudo arqueológico.
Morreu no último 9 de agosto, aos 78 anos. Deixa a esposa, Virgínia, 78; os filhos Ana, 46, e Daniel, 38; além de três netos.
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