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Julia Louis-Dreyfus acha que a juventude é superestimada

Atriz de Seinfeld e apresentadora de podcast, Louis-Dreyfus quer ampliar presença de mulheres mais velhas na cultura

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Jancee Dunn
The New York Times

Quando Julia Louis-Dreyfus completou 60 anos, ela teve uma realização: ela queria ouvir o que tinham para dizer mulheres mais velhas.

A estrela de "Seinfeld" e "Veep", que tem quase uma dúzia de Emmys, estava no "segundo ato" de sua vida, mas já contemplando o terceiro. Julia Louis-Dreyfus afirma que ansiava pela sabedoria que só vem com a idade. Sim, ela recebia conselhos de sua mãe, mas onde estavam todas as outras mulheres dessa mesma faixa etária?

"Certamente não temos o hábito de ouvir as mulheres mais velhas que têm experiência de vida", lembra Louis-Dreyfus, agora com 63 anos. "Quer dizer, eu diria que nossa cultura está mais inclinada a ouvir a sabedoria dos homens mais velhos, especificamente dos homens brancos mais velhos."

Ilustração da atriz Julia Louis-Dreyfus
Julia Louis-Dreyfus quer que você comece a ouvir as mulheres mais velhas e não apenas porque elas são convidadas em seu podcast. - Diego Mallo/The New York Times

Seu podcast, "Mais Sábias Que Eu", estreou em abril passado e foi nomeado o programa do ano da Apple Podcasts para 2023. Nele, Louis-Dreyfus e mulheres renomadas, incluindo autoras, atrizes, cantoras, compositoras e ativistas, discutem as alegrias e as tristezas do envelhecimento.

A primeira temporada teve convidadas como Carol Burnett (90), Isabel Allende (81) e Darlene Love (82). A segunda, que começou em 27 de março, inclui Julie Andrews (88), Patti Smith (77) e Ina Garten (76).

Louis-Dreyfus, que é casada há 36 anos e tem dois filhos adultos, é uma entrevistadora habilidosa. Suas perguntas são diretas. Ela perguntou à escritora Isabel Allende em um episódio do ano passado: "Você se sente sexy?".

"Agora?" Allende respondeu. "Eu nunca me fiz essa pergunta há muitos anos. Mas sim," ela acrescentou. "Sim, eu me sinto."

Louis-Dreyfus continuou, perguntando se a vida sexual de Allende havia mudado. "Claro que mudou", respondeu Allende. "E também tenho um marido de 80 anos. Não somos mais jovens aqui."

"Então, será que a idade gera sinceridade? Louis-Dreyfus acha que sim. 'Com essas mulheres é assim, quem se importa? Aqui está a verdade', conta a atriz e apresentadora.

Você disse que fazer este podcast foi um divisor de águas para você. Me conte como.
Acho que foi Ruth Reichl quem disse, sabe, você tem que fazer coisas que te assustam. Você tem que fazer coisas que você não sabe fazer. E esse é o caso deste podcast. Eu sempre fico nervosa fazendo isso.

Por quê?
Por que eu não quero estragar! Eu não quero perder a oportunidade. E todas essas mulheres são pessoas que eu admiro.

Quero dizer, minha perspectiva mudou por causa do seu podcast.
Como? Estou curiosa.

Você disse que foi para terapia com sua mãe quando tinha 60 anos. Eu me perguntei se deveria fazer isso também.
Não é engraçado? Minha mãe disse algo como: 'Ah, eu gostaria que tivéssemos podido fazer terapia para falar sobre esses problemas quando você era mais jovem.' Eu disse para minha mãe: 'bem, espere um minuto. O que nos impede?' E nós fizemos isso. Aliás, vá fazer isso com sua mãe. Quero dizer, qual é o lado negativo? Estou muito feliz por ter feito isso.

Jane Fonda disse que fez uma auditoria de vida aos 60 anos esse é o processo de examinar onde você esteve para descobrir para onde está indo. Isso é algo que você consideraria?
Gosto da ideia desse tipo de reflexão. Embora, vou ser honesta, há uma certa quantidade de olhar para trás que não me sinto confortável em fazer. Eu recuo um pouco às vezes, pensando no que eu disse. Às vezes, fico um pouco envergonhada.

Há algo que alguém disse que te surpreendeu?
Bem, vamos ver. Jane disse: 'As pessoas acham que é difícil ser velho, mas é tão difícil ser jovem.' Penso quando estava nos meus 20 anos. Meu Deus, aquilo foi difícil. E as pessoas falam sobre isso como se fosse a melhor época da sua vida: você tem sua juventude! Tudo é possível! Bem, também há um lado negativo nisso.

Ah, espera, sabe o quê? Rhea Perlman estava falando sobre Thich Nhat Hanh, o monge budista. Estávamos falando sobre luto e finais —por que, é claro, todas essas mulheres viveram perdas— e ela falou sobre como a filosofia dele era que não é tanto que as vidas terminem, é apenas que elas mudam.

Então você pode ter um relacionamento com essa pessoa que costumava estar viva, mas ainda tem o relacionamento depois que ela se foi. Acho que isso pode ser reconfortante a se considerar em uma perda.

Outros temas que surgem muito em seu podcast são a importância de nutrir suas amizades e manter seu corpo forte e flexível. Você mencionou que começou a nadar novamente.
Eu faço treinamento intervalado e faço trilhas, mas sinto uma sensação física diferente depois de nadar. As primeiras, digamos, 20 voltas parecem intermináveis e pesadas. E, então, de repente algo muda e entro em ritmo, e, quando saio da água, é como se tivesse tomado algum tipo de remédio. É como um medicamento relaxante. É simplesmente incrível.

Qual foi sua década favorita até agora?
Estou realmente gostando dos meus 60 anos, mas eu diria que meus 50 anos. E, a propósito, sabe o quanto eu amei isso? Eu tive câncer de mama nos meus 50 anos e ainda amei. Eu geralmente me sentia mais confiante sobre quem eu era como ser humano.

Você mencionou que estava orgulhosa do episódio de "Seinfeld" chamado "A Competição", onde os personagens veem quem consegue ficar mais tempo sem se masturbar. Por que isso foi importante para você?
Bem, é importante para mim porque acho que foi algo muito sutil e ao mesmo tempo radical. Acho que foi uma mensagem feminista no melhor sentido. Tenho muito orgulho disso.

No podcast, você disse que conceitos como ambição ou feminismo ainda são termos carregados para mulheres mais velhas e até para mulheres na meia-idade.
Não é uma pena? Precisamos desestigmatizar essas palavras para nós mesmas. Feminismo, com toda certeza. Eu gostaria de reivindicar essa palavra.

Você faz essa pergunta no podcast: O que você diria para o seu eu de 21 anos?
Três coisas. Confie nos seus instintos. Vai ficar tudo bem. E, use protetor solar. Eu pensava que tinha uma compleição oliva, então não usava protetor solar quando era mais jovem. Resistia completamente, como uma idiota.

Qual é a melhor coisa sobre envelhecer?
Parece que cada vez mais é possível. Estou animada para tentar coisas novas no trabalho. Estou animada para viajar para lugares e ler livros que não li. No ano passado, fiz uma grande viagem de caminhada nos Dolomitas. Nunca tinha ido lá. Há uma excitação nisso, e também uma urgência. Não é como: Ah, vamos adiar isso. Bem, faremos isso em alguns anos. Há esse sentimento como: Ei, vamos fazer isso. O que está nos impedindo? Gosto disso.

E pessoas mais velhas vão te dizer para viajar enquanto você pode.
Sim. Mexa-se! Mexa seu traseiro. Vamos lá!

Esta entrevista foi editada e condensada para maior clareza.

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