Descrição de chapéu The New York Times

70% das pessoas com asma ou doença pulmonar obstrutiva crônica não são diagnosticadas

Sem o diagnóstico adequado pacientes podem ficar sem o tratamento e ter a sua vida cotidiana afetada, dizem os médicos

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Knvul Sheikh
The New York Times

Na primavera de 2020, Jazzminn Hein recebeu uma ligação eletrônica do Hospital de Ottawa, no Canadá, perguntando se ela ou alguém em sua casa havia sentido chiado, falta de ar ou outros problemas respiratórios nos últimos meses. A pergunta chamou sua atenção: apenas uma semana antes, Hein, então com 24 anos, havia saído para passear com sua sogra e seu recém-nascido quando sentiu que seu peito estava queimando.

"Percebi que tinha problemas respiratórios desde muito jovem", conta Hein. Quando criança, ela frequentemente precisava recuperar o fôlego nas quadras durante a aula de educação física. Como adulta, era frequente também precisar fazer pausas após subir as escadas até a lavanderia. No dia que recebeu o telefonema, ela apertou o "1" para falar com uma enfermeira.

A imagem mostra uma mulher sentada de perfil em uma cadeira contra um fundo roxo. Ela tem cabelos cacheados e está usando uma blusa sem mangas. A mulher está com uma mão no peito e a outra na barriga, fazendo exercícios de respiração
A asma pode ser desenvolvida em qualquer idade, dizem os especialistas - Gritchelle Fallesgon/The New York Times

Alguns meses depois, como parte de um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Ottawa, um médico a diagnosticou com asma.

Estimativas sugerem que de 20% a 70% das pessoas com asma ou outro grupo de condições chamadas DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica) que causam sintomas semelhantes, não são diagnosticadas.

Para procurar pacientes com essas doenças, os pesquisadores fizeram ligações automáticas para mais de um milhão de residências em todo o Canadá perguntando sobre problemas respiratórios. Muitas pessoas desligaram. Mas a equipe de pesquisa conversou com mais de 38 mil pessoas que estavam experimentando esses sintomas e, no final, encontrou mais de 500 pacientes, incluindo Hein, com asma ou DPOC que não foram diagnosticadas e poderiam participar do estudo clínico.

Aproximadamente metade foi orientada a fazer acompanhamento com seu médico de atenção primária e recebeu tratamento, como um inalador de ação rápida para ser usado conforme necessário. A outra metade consultou pneumologistas que frequentemente prescreviam medicamentos melhores e de ação prolongada e trabalhavam com um educador que ensinava os pacientes a usar corretamente um inalador e a evitar alérgenos, forneciam apoio para parar de fumar, aconselhamento sobre exercícios e peso, dentre outros. Essas medidas poderiam ajudar a reduzir os sintomas, explica Shawn Aaron, especialista em pulmões no Hospital de Ottawa e professor da Universidade de Ottawa que liderou a pesquisa.

Os resultados do estudo, publicados na última semana no periódico científico The New England Journal of Medicine, mostram que encontrar pessoas com doenças das vias aéreas e fornecer cuidados a elas pode valer a pena. As pessoas que "receberam o tratamento de luxo tiveram resultados muito melhores do que o grupo que apenas recebeu cuidados habituais do médico de família", incluindo menos visitas de emergência por crises no ano após o diagnóstico, diz Aaron. Mas ambos os grupos viram melhora na respiração e na qualidade de vida —sugerindo que o diagnóstico e até mesmo um tratamento mínimo poderiam fazer diferença.

Como saber se você tem asma ou DPOC?

As doenças podem se manifestar de maneira diferente de uma pessoa para outra, afirma Sonali Bose, pneumologista do Instituto Respiratório do centro Judeu de Saúde de Mount Sinai.

Pessoas com asma podem passar meses sem sintomas até estarem em uma situação de "tempestade perfeita", diz Bose, como quando alérgenos como pólen de árvores ou inflamação das vias aéreas após um resfriado comum causam uma crise. Outras podem sentir aperto no peito após o exercício, ou tossir ou chiar todas as noites.

Já a DPOC, emerge ao longo do tempo à medida que os pulmões são progressivamente lesionados pela exposição a irritantes. Fumar e poluição do ar são as causas mais comuns. Os sintomas são semelhantes aos causados pela asma, mas também podem variar ao longo do dia, da semana ou da estação.

Isso torna as doenças difíceis de reconhecer: muitos pacientes podem não se concentrar em sintomas respiratórios que surgem apenas ocasionalmente, e os médicos podem atribuir erroneamente os sintomas a outras causas, como alergias. Pode levar anos para identificar o que está causando os sintomas, explica Robert Burkes, pneumologista da clínica UC Health em Cincinnati.

Se os sintomas começarem a interferir em sua vida cotidiana, é importante informar um médico. Mencione se você tem histórico familiar de asma, ou se tem alergias ou eczema; esses fatores estão ligados a um maior risco de doenças das vias aéreas.

Como são diagnosticadas e tratadas essas doenças?

O diagnóstico de asma ou DPOC se dá pelo exame de espirometria, que ajuda a medir a quantidade de ar que você inspira e expira, e quão rapidamente você pode fazê-lo. Os postos de atenção primária nem sempre tem a capacidade para fazer esse teste, então pode ser preciso ir a um laboratório especializado de exames, motivo pelo qual muitos dos pacientes não são diagnosticados, afirma Aaron.

Mas as pessoas que permanecem não diagnosticadas correm o risco de danos progressivos aos pulmões, o que pode tornar o exercício ou as atividades cotidianas ainda mais difíceis, explica Burkes. Condições respiratórias crônicas como a DPOC são a sexta principal causa de morte nos Estados Unidos e a terceira principal causa de morte no mundo.

Em relação ao tratamento, existem hoje ferramentas que podem ajudar no controle da asma e DPOC, diz Aaron, como inaladores de ação prolongada, medicamentos injetáveis para tipos específicos de asma e outras opções de terapia podem estar a caminho.

Porém, segundo aponta o estudo, sem o diagnóstico muitos pacientes não terão esses tratamentos.

"O importante é encontrar a doença não diagnosticada, fazer o diagnóstico e depois obter tratamento", afirma. "Se fizer isso, você se beneficiará."

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