Pessoas com sintomas de febre maculosa devem procurar médico, diz governo de SP

Recomendação é para quem esteve entre 27 de maio e 11 de junho em fazenda com surto da doença

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São Paulo

Quem esteve entre os dias 27 de maio e 11 de junho na Fazenda Santa Margarida, no distrito de Joaquim Egídio, em Campinas (a 93 km de São Paulo), e apresentou sintomas de febre maculosa deve buscar atendimento médico imediatamente. Além disso, a pessoa deve informar o profissional de saúde que esteve na região do surto.

O alerta foi feito nesta quarta (14) pela Secretaria da Saúde paulista. Entre os sintomas mencionados pela pasta estão manchas avermelhadas, dores pelo corpo, febre ou dor de cabeça.

Até esta quarta, houve a confirmação de que a doença matou três pessoas que participaram de uma feijoada na fazenda em 27 de maio.

Também é investigado se a enfermidade vitimou Erissa Santana, 16, que morreu nesta terça (13). Ela compareceu ao mesmo evento.

Fachada da Fazenda Santa Margarida local provável contaminação, todas as quatro pessoas que morreram estiveram no local - Denny Cesare/Código 19/Agência O Globo

Nesta quarta (15), o Devisa (Departamento de Vigilância em Saúde) de Campinas afirmou ter sido notificado de mais dois casos suspeitos de febre maculosa. As duas pacientes estão hospitalizadas.

Um deles é o de uma moradora de Hortolândia, cidade vizinha a Campinas. A mulher de 40 anos participou da feijoada organizada no fim de maio.

O outro também é de uma moradora de Campinas. A paciente de 38 anos esteve na Fazenda Santa Margarida em um show do cantor Seu Jorge, realizado no dia 3.

A apresentação musical, de acordo com Prefeitura de Campinas, reuniu de 8.000 a 10 mil pessoas. O organizador, segundo a gestão municipal, não soube precisar o público exato. A Feijoada do Seo Rosa levou cerca de 3.500 pessoas à fazenda.

Febre maculosa é uma doença infecciosa, transmitida pelo carrapato-estrela. Se não descoberta a tempo, o paciente pode evoluir para morte entre o 5º e o 15º dia após o início dos sintomas.

"Dos 12 casos confirmados da doença neste ano no estado, três foram de pessoas que estiveram nos eventos realizados no local", afirma a secretaria.

"Desta forma, é importante que todos que frequentaram a fazenda fiquem atentos aos sintomas e comuniquem ao serviço médico. Essas informações são fundamentais para fazer um tratamento precoce e evitar o agravamento da doença", diz a pasta estadual.

"Ao se aventurar em regiões de mata e cachoeira, é importante estar ciente que estamos no período de reprodução do carrapato estrela, ocorrendo o risco de transmissão da febre maculosa através de sua picada. Caso em até 15 dias após este deslocamento, você apresente sintomas deve procurar atendimento médico o mais rápido possível", afirma Tatiana Lang, Diretora do Centro de Vigilância Epidemiológica do Estado de São Paulo.

O período de incubação da bactéria, quando podem surgir os sintomas, leva até 14 dias e os profissionais precisam estar atentos para o tratamento.

"Na fase inicial, os sintomas são parecidos com diversas outras doenças, precisamos sensibilizar os profissionais de saúde para a janela de oportunidade para hipótese da febre maculosa e tratamento, pois confundem com dengue, Covid. Se não tratar nos três primeiros dias, a doença passa para outra fase e atinge todos os órgãos que têm corrente sanguínea, evolui para disfunção de múltiplos órgãos, gera lesões nos órgãos. Entre 8 e 10 dias, a partir dos sintomas, é grande o risco de morte", alertou Andrea von Zuben, diretora do Devisa, de Campinas, em entrevista coletiva nesta quarta.

A febre maculosa é reconhecida por ser muito letal. Por isso, um diagnóstico rápido para que o tratamento com antibiótico seja iniciado imediatamente é essencial.

Dados indicam que a letalidade da doença pode superar os 50%. A Covid-19, por exemplo, não ultrapassou a taxa de 7% no Brasil, mesmo antes da vacinação.

Segundo o Governo do Estado, as regiões com maior frequência de casos são as de Campinas, Piracicaba, Assis e Sorocaba.

A fazenda de Campinas é considerada o local provável de infecção, de acordo com a prefeitura, que classifica o quadro como um surto da doença.

Segundo a prefeitura, a fazenda só poderá fazer novos eventos quando apresentar um plano de contingência ambiental e de comunicação", afirmou a gestão municipal.

Nos próximos dias, Campinas publicará um decreto com regras para estabelecimentos que realizam eventos para grandes públicos e que ficam em áreas de risco ou com presença do carrapato-estrela.

O decreto vai determinar que responsáveis por eventos nestes locais precisam garantir a correta informação, comunicação e mobilização das pessoas em relação à doença, além de divulgar as formas de prevenção do contágio.

Nesta quarta passou a valer no município uma determinação para que toda área de risco para a febre maculosa tenha informações sobre a doença, com cartazes, faixas, placas e outros dispositivos de comunicação sobre o perigo.

O restaurante Seo Rosa, responsável pelo evento na fazenda, afirmou que soube da "fatalidade", mas que "não está confirmado que pegaram o carrapato no local".

Na noite desta terça, a organização da feijoada declarou, em nota publicada numa rede social, "seu profundo pesar, solidarizando-se com as famílias e amigos enlutados".

O QUE É FEBRE MACULOSA?

Doença infecciosa febril aguda transmitida por carrapatos infectados pela bactéria Rickettsia rickettsii, presente principalmente no carrapato-estrela. Os carrapatos que transmitem a Rickettsia são chamados de Amblyomma cajennense e são encontrados em todo o território nacional. Para que haja a transmissão, o carrapato precisa ficar fixado à pele por pelo menos quatro horas. Não há transmissão de pessoa para pessoa.

Segundo o Ministério da Saúde, no Brasil, duas espécies da Rickettsia estão associadas a quadros de febre maculosa: rickettsii, considerada a doença grave, registrada no norte do estado do Paraná e nos estados da Região Sudeste; e a parkeri, que tem sido registrada em ambientes de Mata Atlântica (Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Bahia e Ceará), ligada a quadros clínicos menos graves.

QUAIS OS SINTOMAS?

Os sintomas são, de início, súbitos: febre alta, dor no corpo, na cabeça, prostração, perda do apetite, náuseas, vômitos e aparecimento de manchas avermelhadas principalmente nas mãos e nos pés, do segundo ao quinto dia, que podem evoluir para petéquias (pequenos pontos avermelhados na pele que lembram picada de mosquito) e equimose (manchas roxas). A doença tem formas leves e graves, incluindo a hemorrágica, com evolução para morte. A taxa de letalidade pode ser superior a 50%.

TRATAMENTO

São administrados antibióticos —tetraciclina, doxiciclina e cloranfenicol— que evitam a proliferação de bactérias, contendo o agravamento da doença. A uso da medicação já deve ser feito mesmo antes da confirmação do resultado.

EM QUANTO TEMPO O QUADRO DO PACIENTE EVOLUI PARA A MORTE?

O indivíduo pode evoluir para morte entre o 5º e o 15º dia após o início dos sintomas. Dependerá da agilidade no diagnóstico e início do tratamento. A febre maculosa é de difícil diagnóstico por apresentar sintomas inespecíficos e que se confundem com outras doenças, como leptospirose, zika, dengue e meningite, entre outras.

QUALQUER CARRAPATO PODE TRANSMITIR A FEBRE MACULOSA?

Os principais carrapatos que transmitem a febre maculosa no Brasil são três: Amblyomma cajennense, Amblyomma cooperi (dubitatum) e Amblyomma aureolatum (carrapato amarelo do cão).

No interior de São Paulo, a febre maculosa está associada ao carrapato-estrela que, em geral, ocorre em áreas de mata silvestre e beira de rios. Em geral, homens adultos são mais acometidos, por trabalharem nessas regiões. As ninfas (formas imaturas do carrapato) são os principais estágios evolutivos envolvidos na transmissão e predominam nos meses mais frios.

COMO EVITAR A PICADA DO CARRAPATO?

Quem circula por áreas endêmicas deve usar botas, calças e blusas com manga comprida, cobrindo todo o corpo. É importante evitar locais com mato alto.

HÁ RISCO DE INFECÇÃO EM ÁREAS URBANAS?

Sim. O Amblyomma aureolatum encontrado nos cães está envolvidos na transmissão da doença nas regiões metropolitanas, principalmente nas cidades do Sudeste e Sul do país, onde ocorre o maior número de casos.

QUAIS AS ÁREAS ENDÊMICAS EM SÃO PAULO?

Jundiaí, Campinas e Piracicaba, em especial.

REPELENTES AFASTAM O CARRAPATO TRANSMISSOR DA DOENÇA?

Sim. Repelentes à base de icaridina são eficaces não só contra picadas de mosquitos mas também de carrapatos, como por exemplo o carrapato-estrela. Encontram-se disponíveis apresentações de longa duração, que variam de cinco a 12 horas.

Fontes: Tania Chaves, infectologista, professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Pará, e Marcelo Simão, infectologista, professor da Universidade Federal de Uberlândia (MG). Os dois são consultores da Sociedade Brasileira de Infectologia.

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