Nova desconfiança sobre doping pode tirar Rússia de Tóquio-2020

Agência exige explicação para desaparecimento de testes com resultado positivo

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Tariq Panja
Nova York | The New York Times

A Agência Mundial Antidoping (Wada, na sigla em inglês) deu três semanas à Rússia para que explique como diversos testes de drogas com resultados positivos foram excluídos de um banco de dados enviado à autoridade regulatória do combate mundial ao doping. O fato se deu durante a investigação de um dos maiores escândalos de trapaça na história do esporte internacional.

Qualquer punição provavelmente incluiria a exclusão da Rússia da Olimpíada do ano que vem, em Tóquio, mas pode se estender a qualquer esporte cuja organização governante seja signatária do código de doping da Wada, o que inclui a Copa do Mundo de futebol, os campeonatos mundiais de atletismo e dezenas de outros eventos esportivos.

O presidente-executivo da agência antidoping russa, Yury Ganus, se recusou neste final de semana a descartar a possibilidade de que os dados enviados do laboratório de Moscou à Wada e que têm papel central no escândalo de doping de 2015 tenham sido manipulados.

Yuri Ganus, presidente-executivo da agência antidoping russa
Yuri Ganus, presidente-executivo da agência antidoping russa - Maxim Shemetov - 19.jun.19/Reuters

Em mensagem de texto na segunda-feira, Ganus se declarou "frustrado" com essa possibilidade e disse que as potenciais consequências para todos os esportes russos "serão mais que sérias".

"Creio que essa é a situação mais séria desde que a crise do doping começou", ele disse.

A promessa russa de entregar um banco de dados com milhares de registros sobre atletas foi um fator chave na decisão da Wada, no final de 2018, de suspender a suspensão imposta à agência antidoping russa. Essa determinação pôs fim a três anos de suspensão impostos depois da descoberta de um dos esquemas de trapaça mais audaciosos e sofisticados da história do esporte, que corrompeu diversos grandes eventos esportivos internacionais, entre os quais diversas olimpíadas.

O escândalo significou que os atletas russos não puderam competir sob a bandeira de seu país na Olimpíada de Inverno de 2018 em Pyeongchang, Coreia do Sul, e a nova investigação provavelmente significará que um grupo de atletas russos submetidos a controles de doping independentes só poderão competir como neutros no Mundial de atletismo que começa sexta-feira (27) em Doha, Qatar.

Cresceram as especulações, nos últimos dias, sobre os dados submetidos pela Rússia. Em uma reunião do conselho executivo da Wada, segunda-feira em Tóquio, os integrantes do órgão foram informados de que uma equipe de investigação da agência havia encontrado diferenças entre dados fornecidos à organização por um denunciante em 2017 e as provas obtidas do laboratório de Moscou em janeiro.

"Houve resultados positivos que foram excluídos, e a pergunta é por quê", disse em Tóquio Jonathan Taylor, presidente do comitê da Wada encarregado de fiscalizar o cumprimento das sanções pela Rússia.

Taylor acrescentou que a Rússia teria de "tirar um coelho da cartola", se deseja evitar novas penalidades, o que, sob novos regulamentos, geraria um processo que as organizações esportivas seriam forçadas a respeitar. Ele acautelou, porém, que era importante não julgar prematuramente antes que as autoridades russas dessem sua resposta final.

"Vamos lhes dar a chance de explicar", disse Taylor.

Sebastian Coe, presidente da federação internacional de atletismo; Rússia deve ficar fora do Mundial de Doha
Sebastian Coe, presidente da federação internacional de atletismo; Rússia deve ficar fora do Mundial de Doha - AFP

O comitê que ele preside terá uma reunião, provavelmente por telefone, em 23 de outubro para determinar se o conselho executivo da Wada será informado de que a Rússia descumpriu o acordo. Caso o conselho aceite a recomendação, o caso provavelmente será encaminhado de modo expresso ao Tribunal Arbitral do Esporte para uma decisão final.

Embora no passado cada esporte tivesse o poder de decidir se sancionaria ou não a Rússia, regras novas adotadas em abril de 2018 significam que uma decisão negativa para a Rússia no tribunal poderia resultar em suspensão automática do país. Nos termos dessa suspensão, equipes e atletas russos seriam inelegíveis para concorrer em eventos esportivos internacionais, e o país não poderia sediá-los, até que a suspensão pela Wada seja revogada.

Isso pode resultar em que a delegação russa fique fora da Olimpíada de Tóquio, e poderia colocar em risco a participação da seleção russa de futebol nas eliminatórias para a Copa do Mundo de 2022, no Qatar.

"A situação é muito séria", afirmou o presidente do Comitê Olímpico Russo, Stanislav Pozdnyakov, em comunicado, segundo a agência de notícias Associated Press. "As perspectivas da delegação olímpica russa de participar dos jogos de Tóquio no ano que vem podem estar sob ameaça".

Ganus, o presidente da agência antidoping russa, conhecida pela sigla Rusada, admitiu em entrevista ao The New York Times na semana passada que não descartava a possibilidade de que os dados russos tenham sido manipulados antes da transmissão à Wada.

"Gostaria de esperar o melhor, mas vivo em um país no qual temos de estar prontos para todas as situações possíveis", ele disse.

A Wada afirmou em comunicado na segunda-feira que havia enviado à Rusada e ao Ministério do Esporte russo cópias de relatórios preparados por especialistas forenses que "detalham as incompatibilidades em questão". As autoridades russas, disse a Wada, "receberam um prazo de três semanas para fazer seus comentários e responder a uma lista de perguntas específicas".

Tradução de Paulo Migliacci

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