Descrição de chapéu Tóquio 2020

Toquio-2020 cobra menos para ingressos de provas femininas

Discrepâncias ocorrem em 5 das 33 modalidades presentes nos jogos

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São Paulo

Ingressos para algumas competições disputadas por homens nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2020, custam até o triplo na comparação com seus equivalentes femininos.

Dados levantados pela Folha na tabela oficial de preços dos jogos trazem de volta uma discussão recorrente no esporte, a dos motivos que levam a diferenças econômicas tão grandes entre os gêneros.

As discrepâncias ocorrem em 5 das 33 modalidades presentes nos jogos. Em muitas delas, não é possível fazer uma comparação entre as versões masculina e feminina, porque o mesmo ingresso dá direito a acompanhar competições dos dois sexos. É o caso de atletismo, natação, judô e ginástica, por exemplo.

Basquete feminino é uma das modalidades que terão maior discrepância entre os diferentes gêneros (Xinhua/Liu Kun)
Basquete feminino é uma das modalidades que terão maior discrepância entre os diferentes gêneros (Xinhua/Liu Kun) - Liu Kun/Xinhua

Os casos identificados com diferença nos valores nas entradas ocorrem no beisebol, futebol, rúgbi, skate e basquete, esporte com a maior, onde o ingresso mais caro para uma partida masculina de quartas de final pode chegar a 54 mil ienes (R$ 2.038), enquanto uma feminina no mesmo estágio da competição sai por no máximo 18 mil ienes (R$ 679).

O ingresso para a final feminina do basquete custa menos do que o tíquete cobrado para semifinal masculina. A presença do time dos EUA, com jogadores da NBA, entre os homens provavelmente contribui para essa realidade.

No beisebol, cuja versão feminina chama-se softball, a diferença de preços para a final chega a 164% no evento masculino. No futebol, o ingresso masculino é até 50% mais caro, e no rúgbi, a variação pode chegar a 75%.

Um dos esportes estreantes nos jogos, o skate tem diferença de valores nos ingressos para homens e mulheres nas duas categorias incluídas no evento: street e park. O valor para a competição feminina no novo parque esportivo urbano de Ariake, construído especialmente para os jogos, varia de 4.000 a 8.000 ienes (R$ 151 a R$ 302), dependendo do tipo de ingresso. 

A entrada do masculino para o mesmo evento, que ocorrerá no mesmo lugar, vai de 5.500 a 11.500 ienes (R$ 208 a R$ 434), ou 43% mais caro. Em ambos os casos, o tíquete dá direito à fase preliminar e à final.

"A precificação dos ingressos segue um padrão de interesse do público e atende a uma lógica de eventos premium, como é o caso de futebol e basquete, por exemplo", diz Mário Andrada, que foi diretor de Comunicação da Olimpíada do Rio, em 2016. "A questão do gênero é muito necessária, mas acaba ficando num segundo plano em alguns casos", declara.

Ele lembra que também houve diferenças de preços nos jogos do Rio. "A gente estava preparado para ouvir reclamação e discutir essa questão, mas acabou não havendo problema", afirma.

Segundo Andrada, o preço mais baixo dos ingressos para eventos femininos mostra que os prêmios pagos a atletas mulheres também são menores. Em alguns eventos, como o Aberto dos EUA de tênis, as premiação já é paritária.

Waleska Vigo Francisco, estudiosa de gênero e sexualidade no esporte, aponta uma relativa evolução ao longo da história das Olimpíadas, embora ainda incompleta.

"Sempre é bom lembrar que no começo dos jogos, as mulheres nem podiam participar. Depois, foram admitidas em modalidades que tinham leveza e sentido estético, e só posteriormente, em esportes marcados pela força", afirma ela, que faz mestrado sobre o tema na Escola de Educação Física da USP.

O sucesso recente da Copa do Mundo feminina de futebol, diz a pesquisadora, contribuiu muito para chamar a atenção para as disparidades de gênero no esporte.

"Foi um momento bacana, mas daí você vê meninas querendo e não conseguindo entrar em clubes de futebol e percebe uma realidade escondida", diz.

Segunda ela, o esporte ainda valoriza mais o vigor físico, duas características associadas aos homens. "Mulheres ainda têm público menor mesmo".

Uma ideia radical para atingir a plena igualdade de gênero seria "descategorizar" os esportes, ou seja, misturar homens e mulheres em competições. "Mas jogar todo mundo junto causa ainda um pânico moral muito grande", afirma.

Em Jogos Olímpicos, a única modalidade em que os dois sexos competem juntos plenamente é o hipismo, mas a organização do evento de Tóquio tem procurado inovar. Pela primeira vez, haverá competições de revezamento na natação e no atletismo com equipes reunindo homens e mulheres.

Esse é um argumento usado pela organização da Olimpíada para dizer que os jogos de 2020 serão os mais equilibrados na questão de gênero da história.

"O valor dos ingressos foi determinado com base em um número de fatores, incluindo preço e popularidade de eventos em jogos passados", disse em nota à Folha a organização da Olimpíada.

Ainda segundo a assessoria dos jogos, "o comitê organizador não considera que um número pequeno de preços de eventos reflita o valor ou viabilidade comercial de competições masculinas e femininas de modo geral".

"O preço dos ingressos para a maioria dos eventos é idêntico para atletas de ambos os gêneros", diz a nota. 

As entradas para provas da Olimpíada estão à venda desde agosto no site da Match (https://match-hospitality.com/tokyo2020/brasil/). Foram disponibilizados mais de 20 mil bilhetes para o público brasileiro. O Jogos acontecem entre 24 de julho e 9 de agosto.

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