Caixa tem poder para vetar naming rights da Arena Corinthians

Exploração do nome é vista como crucial pelo clube desde a construção do estádio

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São Paulo

Inaugurada em 2014, a Arena Corinthians ainda não conseguiu negociar o seu naming rights. Com dificuldade para vender o nome do estádio, o clube precisa de uma aprovação da Caixa Econômica Federal caso ache um interessado. Segundo o contrato assinado para o financiamento da obra do estádio, o banco estatal tem poder de veto sobre o assunto.

A garantia é para o banco evitar riscos e analisar se a empresa parceira não corre risco de falir durante a vigência do contrato com o estádio corintiano.

Pelo modelo de financiamento imaginado por Corinthians e Odebrecht, a propriedade que garante uma empresa compradora expor a sua marca e definir um nome para a arena sempre foi um ponto-chave do projeto. O atual presidente, Andrés Sanchez, que estava à frente do clube na época do contrato, disse repetidas vezes que não venderia por menos de R$ 400 milhões por um acordo de 20 anos.

​A Caixa se torna parte interessada na questão também porque as arrecadações em jogos na Arena, assim como outros eventos, são destinados à Arena Fundo de Investimento Imobiliário. A finalidade desse fundo é pagar as parcelas do empréstimo feito pelo BNDES, que teve a Caixa como banco repassador, e reembolsar o dinheiro investido pela Odebrecht.

O Corinthians considera resolvida a parte da dívida com a construtora. O débito caiu, segundo documento mostrado por Sanchez a conselheiros, de R$ 1,030 bilhão para R$ 160 milhões parcelados.

Pessoas envolvidas na negociação, ouvidas pela Folha, afirmam que o acordo não está sacramentado. Primeiro porque Corinthians e Odebrecht não resolveram que garantias serão dadas pela agremiação para o pagamento do valor. E como a OPI (Odebrecht Participação e Investimentos, braço do grupo responsável pela obra do estádio) está em recuperação judicial, é preciso que o acordo seja aprovado em assembleia de credores.

Na minuta do contrato inicial do acordo entre as duas partes, ao qual a Folha teve acesso, o dinheiro do naming rights seria destinado a cobrir os empréstimos para a construção da arena. Por meio da Caixa, o BNDES liberou R$ 400 milhões para a obra.

Consultado pela Folha, o Corinthians informou que não vai se pronunciar. O clube alega que termos de confidencialidade do contrato não permitem pronunciamentos.

Procurada na manhã desta segunda (11), a Caixa não se pronunciou até a publicação da reportagem. 

​"Dificilmente o clube vai aceitar um valor menor do que acredita que possa receber. Antes, o estádio era uma promessa. A empresa compraria o naming rights sem saber como seria o estádio. Agora é uma realidade e o clube tem dados para mostrar que recebe mais de 30 mil torcedores por jogo, que o estádio é bem avaliado, entre outras formas de determinar o valor da propriedade ", afirma Ivan Martinho, professor de pós-graduação nos cursos de marketing da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing).

Por falta de pagamento das parcelas, a Caixa pediu à Justiça a execução de R$ 536 milhões referente à dívida. Neste ano, o Corinthians pagou apenas duas parcelas de R$ 5,7 milhões cada. E com atraso. Do total exigido pelo banco, R$ 48 milhões seriam de multa. Para o clube, o valor correto do débito seria de R$ 470 milhões.

Em 13 de setembro, um dia após a execução, Sanchez pediu uma audiência com o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, mas o encontro não aconteceu. Houve reuniões técnicas entre dirigentes do clube e funcionários da instituição. De início, o Corinthians queria reformar o acordo para parcelas de R$ 3 milhões, que estariam dentro da arrecadação líquida do estádio. A Caixa não aceitou.

O banco aceita alongar o perfil da dívida, que originalmente venceria em 2028. Há negociação para que seja esticado até 2031, mas o Corinthians pede que as prestações sejam menores do que os R$ 5,7 milhões atuais.

A questão do naming rights esbarra também no desgaste da imagem do Corinthians e da Odebrecht, por causa das dívidas, execuções e no hábito que as pessoas já tem em chamá-lo por outro nome, segundo o professor da ESPM.

“A empresa interessada na propriedade vai ter de fazer um investimento maior para promover o nome. Quanto mais tempo leva para vender, maior será essa dificuldade."

Entre os estádios das equipes que disputam a Séria A do Campeonato Brasileiro, apenas dois possuem naming rights: o Allianz Parque, do Palmeiras, e a Itaipava Arena Fonte Nova, utilizada pelo Bahia.

Para colocar seu nome no estádio alviverde, a empresa de seguros desembolsa R$ 15 milhões por temporada, em um contrato de 20 anos, assinado em 2013. Já a cervejaria paga R$ 10 milhões por ano, em acordo assinado também em 2013, com vínculo até 2023.

Em 2005, o estádio do Athletico-PR foi um dos pioneiros no Brasil a ter o seu naming rights vendido. A empresa japonesa Kyocera Corporation firmou parceria com o clube, que durou até 2008, batizando o local de Kyocera Arena. Por ano, a equipe paranaense recebia R$ 5,2 milhões (R$ 11,6 milhões, em valores corrigidos).

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