Descrição de chapéu F1

No ano do hepta, ativismo de Hamilton provocou mudanças na F-1

Inglês liderou protestos contra o racismo na categoria, atraindo apoios e críticas

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São Paulo

"Não vou parar, não vou desistir". Esse foi o recado de Lewis Hamilton à FIA (Federação Internacional de Automobilismo) quando a entidade desistiu de abrir um processo investigativo sobre a postura do piloto durante o GP da Toscana, a nona etapa da temporada 2020 da F-1.

Antes e depois da prova, inclusive no pódio, o inglês de 35 anos usou uma camiseta com a inscrição "Prendam os policiais que mataram Breonna Taylor", mulher negra assassinada a tiros em março nos EUA. Foi mais um de uma série de protestos de Hamilton ao longo desta temporada.

No ano em que atraiu todos os holofotes da F-1 enquanto superava as marcas de Michael Schumacher, até igualar o recorde de sete títulos do alemão, neste domingo (15), o piloto da Mercedes aproveitou para chamar a atenção para a luta contra o racismo.

"Ganhar um campeonato mundial é uma coisa muito pessoal, e isso não afeta necessariamente a vida das pessoas", ele afirmou antes do GP da Turquia, onde conquistou o hepta. "Algo de que tenho muito mais orgulho é tentar melhorar as condições para as pessoas em todo o mundo. Isso é o mais importante para mim."

O ano de 2020 não foi o primeiro em que Hamilton levantou bandeiras, mas sem dúvidas tornou o seu ativismo mais evidente do que nunca. Tanto que a organização da F-1 se viu convocada por ele a adotar medidas que pudessem combater discriminação racial na categoria.

A criação da campanha "We Race as One" ("Nós Corremos como Um"), com ações voltadas para a inclusão de pessoas de diferentes etnias, gênero e orientação sexual nas pistas, foi resultado da pressão do inglês.

A Mercedes, equipe heptacampeã de construtores, mudou a pintura do carro de prata para preto, também em campanha contra o racismo.

Em postagem em uma de suas redes sociais após a vitória deste domingo (15), Hamilton disse que 2020 tem sido um ano imprevisível, em razão da pandemia, e que o tempo de folga com o adiamento da temporada serviu para refletir sobre qual seria o seu propósito no mundo.

“Este ano, o que me moveu não foi só o desejo de vencer nas pistas, mas o desejo de direcionar nosso esporte e o nosso mundo para se tornar mais diverso e inclusivo. Prometo que não vou parar de lutar pela mudança. Nós temos um longo caminho à frente”, escreveu.

Na publicação, o piloto também pediu a contribuição de todos para que isso seja alcançado.

“Vamos ser mais acolhedores e gentis uns com os outros. Vamos fazer as coisas de uma forma que a oportunidade não seja algo que dependa da origem ou cor da pele.”

Na temporada, os demais pilotos do grid foram chamados a aderir aos protestos liderados por Hamilton, como se ajoelhar durante a execução do hino de cada país-sede antes dos GPs. Mas houve resistências.

No GP da Áustria, o primeiro do ano, 6 dos 20 pilotos não fizeram o gesto quando ele queria chamar a atenção para a morte do americano George Floyd, homem negro que morreu após um policial branco se ajoelhar sobre o seu pescoço, nos EUA. A adesão a esse tipo de protesto nunca foi total no grid.

Ex-pilotos também divergem sobre o ativismo do heptacampeão na categoria. O alemão Ralf Schumacher, irmão de Michael, é um deles. "Isso [ativismo] pode ter efeito polarizador. Se os pilotos falam demais sobre coisas assim, torna-se perigoso, e o esporte não merece isso", disse a uma emissora de TV alemã.

O ex-piloto Mario Andretti, italiano naturalizado americano, chamou o inglês de "militante" em tom jocoso e disse que as ações dele eram "pretensiosas."

Hamilton rebateu e declarou que críticas como essas são "desapontadoras", mas que não vão fazê-lo parar.

Ao repudiar a fala do ex-chefe da F-1 e seu compatriota Bernie Ecclestone, que disse que muitas vezes "os negros são mais racistas do que os brancos", o piloto foi ainda mais enfático: "Que m... é essa?", escreveu em seu Instagram.

Ao longo de suas sete décadas, a F-1 pouco tratou sobre o racismo estrutural na categoria. Ao se referir a Ecclestone, Hamilton afirmou que ele é de outra geração e seus comentários são "ignorantes e sem educação".

É contra isso que ele mais tem lutado desde que ganhou confiança para brigar pelas causas em que acredita. Nos seus quase 14 anos na categoria, o piloto levou a metade desse tempo até começar a falar abertamente não só sobre racismo, mas também de outras questões que o preocupam, como as ambientais.

A mudança de postura começou a ocorrer em 2013, quando ele trocou a McLaren pela Mercedes. No ambiente do time alemão, ele afirma se sentir apoiado para se expressar.​

Além de falar, em junho deste ano Hamilton foi às ruas de Londres para participar de um protesto do movimento "Black Lives Matter" (Vidas Negras Importam).

Os títulos conquistados e o status de lenda do automobilismo lhe deram confiança para bater de frente até mesmo com a FIA.

Apesar de ter desistido de investigar o inglês, a entidade mudou as diretrizes para as cerimônias no pódio, determinando que os pilotos devem usar apenas os macacões fechados até o pescoço durante a entrega dos prêmios. As máscaras de proteção contra a Covid-19 devem ter somente a marca da equipe.

Hamilton não demonstra estar preocupado com possíveis punições. "Quero que saibam que não vou parar, não vou desistir de usar essa plataforma para jogar luz sobre o que acredito ser o correto."

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