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Copa do Mundo 2022 Futebol Internacional

Infantino fala uma coisa, faz outra e deixa Copa fortalecido para 2023

Único candidato na eleição, presidente da Fifa adota discurso de alienação para amenizar horrores do país-sede, o Qatar

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São Paulo

"Esta foi a melhor Copa do Mundo de todas", diz Gianni Infantino, 52, em entrevista a jornalistas na antevéspera de Argentina x França, a decisão do Mundial de 2022.

Não é novidade um presidente da Fifa, quando a Copa chega ao seu final, soltar essa frase. Ele já a utilizara na da Rússia, quatro aos atrás.

A Copa mais recente sempre será a melhor, isso faz parte da diplomacia da entidade que rege o futebol com a nação que abriga o Mundial e enche seus cofres (o dela, Fifa), de (muito) dinheiro –o ciclo entre o Mundial de 2018 e o deste ano gerou US$ 7,5 bilhões (quase R$ 40 bilhões) em receitas.

Silhueta de corpo inteiro do presidente da Fifa, Gianni Infantino, na chegada dele ao Centro de Convenções do Qatar para entrevista com jornalistas sobre a Copa do Mundo de 2022
O presidente da Fifa, Gianni Infantino, chega ao Centro de Convenções do Qatar, em Doha, para entrevista com jornalistas sobre a Copa do Mundo de 2022 - Odd Andersen - 16.dez.2022/AFP

Como o lado econômico impera, a Copa do Qatar é para a Fifa compulsoriamente a melhor da história, independentemente do resultado esportivo.

É fato que o primeiro Mundial no Oriente Médio será visto como o que deu ao genial Messi o título mais almejado por todos os que jogam bola, propiciando simultaneamente o tricampeonato à Argentina, que derrotou em partida emocionante a França, neste domingo (18), no estádio Lusail.

Mas é igualmente fato que será lembrado como o Mundial em que a Fifa fechou os olhos para os horrores do país-sede em relação aos direitos humanos.

O Qatar é conhecido por oferecer condições precárias de trabalho aos imigrantes (de países pobres como Nepal, Bangladesh e Sri Lanka) que atuam na construção civil –inclusive para erguer arenas da Copa.

Organizações não governamentais sediadas na Europa e na América do Norte relataram que centenas de operários morreram no decorrer das obras, apesar de o governo qatariano negar.

E, se o governo do Qatar diz, Infantino concorda, criticando quem o critica: "Se a Europa realmente liga para o destino dessas pessoas [trabalhadores migrantes], deveria criar meios legais, como o Qatar fez, para levá-los para trabalhar na Europa e lhes dar futuro e esperança".

Mulheres e a comunidade LGBTQIA+ também são marginalizadas no país, onde os direitos e a liberdade delas são restritos e onde ter relações com pessoas do mesmo sexo pode levar à prisão ou à pena de morte.

Questionado acerca do tema, Infantino disse que "estamos defendendo valores, estamos defendendo os direitos humanos, os direitos de todos na Copa do Mundo".

Um discurso teórico que a prática tratou de desmentir, já que a entidade que Infantino comanda impediu que os jogadores, principais protagonistas da Copa, pudessem passar ao mundo a mensagem de que há problemas sérios no Qatar.

Com o dedo indicador da mão esquerda apoiado na bochecha, o presidente da Fifa, Gianni Infantino, ouve pergunta durante entrevista em Doha, no Qatar
Gianni Infantino, que comanda a Fifa desde 2016 e deve ser reeleito em 2023 para novo mandato de quatro anos, ouve pergunta durante entrevista coletiva em Doha, no Qatar - Gareth Bumstead - 16.dez.2022/Reuters

Capitães de algumas seleções europeias planejavam usar a braçadeira com a inscrição "one love" (expressão em inglês que representa unidade e inclusão) e as cores do arco-íris, ligadas ao movimento LGBTQIA+. A Fifa vetou, ameaçando punir quem fizesse isso.

A justificativa de Infantino é que o futebol não é um palco adequado para manifestações de cunho político.

"Todo mundo tem seus problemas", disse, para sentenciar que os torcedores devem se alienar de questões sérias durante os jogos da Copa. "Os fãs só querem passar 90 minutos sem ter que pensar em mais nada, [ter] um pequeno momento de prazer ou de emoção."

Os jogadores que pretendiam usar a braçadeira especial, instruídos por suas respectivas federações, acataram a ordem da Fifa, e o Mundial seguiu, tendo Infantino, com autoritarismo, evitado mal-estar com as autoridades do autoritário Qatar.

Há de se ressaltar que a eleição da monarquia absolutista Qatar para abrigar a Copa, 12 anos atrás, foi repleta de suspeitas de compra de votos de representantes da Fifa.

Nos anos seguintes, denúncias de corrupção causaram o afastamento de membros do comitê da Fifa que votaram na eleição para o Mundial deste ano e do presidente Sepp Blatter.

Com a queda de Blatter, Infantino, ex-secretário-geral da Uefa (entidade que controla o futebol na Europa), elegeu-se presidente em 2016 –é o nono da história da entidade, fundada em 1904.

Algumas supostas irregularidades na gestão do ítalo-suíço, como conflito de interesses e malversação de verbas, respingaram nele, porém as acusações não foram adiante.

Infantino, até agora, está vencendo as disputas fora do campo e também dentro dele, já que os opositores são em quantidade irrisória –meia dúzia de países europeus.

Candidato único na eleição de março de 2023, se não houver nenhum imprevisto, comandará a Fifa por mais um mandato de quatro anos, período no qual verá a realização de uma Copa do Mundo inchada, fruto de alteração em sua gestão.

O Mundial de 2026 –nos EUA, México e Canadá e cujo formato ainda será definido–, terá 48 países, ou 16 a mais do que atualmente.

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