Arena Bercy, palco de Biles, vira um enclave americano em Paris

Da estação do metrô às arquibancadas, Jogos falam inglês e torcida só grita USA, USA

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Paris

A Arena Bercy está cheia, mas ainda há filas nas entradas de VIPs, público em geral, equipes de TV, celebridades credenciadas como jornalistas e jornalistas, na ordem da cadeia alimentar que se vê em Paris-2024. A língua oficial é o inglês, desde a saída do metrô.

E o dress code é azul, vermelho e branco, não do "drapeau tricolore", a bandeira francesa, mas de quem domina o território por ali e se manifesta aos gritos de "USA, USA".

O ginásio, na região leste de Paris, abriga diversas versões do uniforme americano. Uma celebridade americana posa com fãs com uniforme da NBC, que detém os direitos das Olimpíadas nos EUA há décadas.

Simone Biles com o ouro conquistado na disputa feminina por equipes
Simone Biles com o ouro conquistado na disputa feminina por equipes - Lionel Bonaventures/AFP

A emissora, aliás, é uma espécie de estado nesse enclave americano. Tem tanta gente sob seu comando em Paris, na casa de milhares, que para evitar confusões deixa uma funcionária na saída do metrô com uma placa na mão, "NBC".

Dentro da instalação, a narração também começa em inglês, deixando a francofonia do Comitê Olímpico Internacional e dos locais em segundo plano. Tudo isso porque Simone Biles, então com apenas sete medalhas olímpicas, consta da programação da noite.

Após chocar o mundo ao desistir de competir no meio dos Jogos de Tóquio-2020 e elevar o debate sobre saúde mental no esporte, Biles, na terça-feira (30), está feliz. O público também, que a cada aceno dela para o público, dispara o "USA, USA".

A torcida brasileira, também presente e com razoável capacidade de fazer barulho, arrisca alguns "Brasil, Brasil", assim como gritos de "Rebeca". Exceções.

O ginásio só se cala quando Biles sobe aos aparelhos para suas execuções. Competições de ginástica por equipe são simultâneas, uma delicada manobra na trave precisa conviver com versões de "La Bohème", um dos clichês do solo em Paris ao lado de Beyoncé.

Tudo parece se calar, porém, quando a vez é de Biles, para logo em seguida explodir no já monótono "USA, USA". Após a primeira rotação, um bocejo. Após a segunda, uma dancinha. Entre os VIPs, maioria americana também, Serena Williams à frente, ladeada por Natalie Portman, Spike Lee e Bill Gates, entre outros.

Sunisa Lee lidera Biles na trave, 14.600 contra 14.366. As duas devem protagonizar o primeiro duelo entre campeãs olímpicas da história da ginástica. Mas a noite continuava sendo de Biles.

Por obra do destino ou da programação, o ginásio fica em silêncio pela última vez antes de sua apresentação no solo. O ouro americano, o quinto de Biles na mais brilhante história da ginástica, depende só daquela execução. Talvez depender seja o verbo errado. O estádio só precisa esperar para voltar a gritar, em alguns minutos, "USA, USA".

Bercy fica nos EUA, até Biles decidir o contrário.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.