RONALDO
VAINFAS
Os
Sertões (1902), de Euclides da Cunha (Ed. Francisco
Alves) - Não era historiador, mas com razão
é considerado um dos primeiros sociólogos brasileiros.
Pôs em cena o sertão nordestino e foi cronista
da guerra de Canudos, iluminando face até hoje encoberta
do Brasil.
Coronelismo,
Enxada e Voto (1949), de Victor Nunes Leal (Ed. Nova Fronteira)
- Um clássico sobre as relações entre
poder local e poder central no Brasil. Mostra como o primeiro
sempre foi chave, apesar da centralização política
brasileira vigente desde o Império.
Os
Donos do Poder (1959), 2 volumes, de Raymundo Faoro (Ed.
Globo) -A melhor síntese sobre a história político-institucional
brasileira desde a Colônia até a década
de 50. A segunda edição de 1975 avança
e ajuda a compreender a instauração do regime
militar em 1964.
O
Colapso do Populismo no Brasil (1967), de Octávio
Ianni (Ed. Civilização Brasileira) - Livro admirável,
entre tantos de Ianni, porque defende como ninguém
a interpretação do populismo como "pacto"
entre a burguesia e o proletariado. É antivarguista,
claro, mas ilumina uma aliança fundamental para os
trabalhadores brasileiros.
A
Revolução de 1930 (1970), de Boris Fausto
(Ed. Companhia das Letras) -Ensaio clássico sobre o
jogo de forças políticas que levou à
ascensão de Getúlio Vargas, com destaque para
a análise da "crise dos anos 20".
Liberalismo
e Sindicato no Brasil (1976), de Luís Werneck Vianna
- (Ed. Paz e Terra) - Creio ser o melhor estudo sobre a história
do sindicalismo no Brasil, porque combina informação
institucional com reflexão teórica. É
definitiva sua análise sobre a superação
do "liberalismo fordista" pelo corporativismo getulista,
baseado em Gramsci.
O
Cativeiro da Terra (1979), de José de Souza Martins
(Ed. Hucitec) -Um livro cirúrgico sobre as relações
de trabalho presentes no colonato, emblema de como se fez
a transição para o assalariamento rural no Brasil.
Teoricamente denso, é livro que ensina muito sobre
a burguesia não-capitalista do país.
1930
- O Silêncio dos Vencidos (1981), de Edgard De Decca
(Brasiliense) - Um exemplo da historiografia paulista exageradamente
antivarguista. No entanto, descortinou as alternativas revolucionárias
nos anos 20 e 30 e mostrou como as desastradas atitudes do
Partido Comunista puseram a perder o movimento operário
no Brasil.
Os
Bestializados (1987), de José Murilo de Carvalho
(Ed. Companhia das Letras) - Outro clássico de nossa
historiografia, pois mostra como o "povo brasileiro"
era mais esperto do que pensavam os adversos. Não ligou
para a proclamação da República nem para
a política institucional, percebendo-as como vis, e
foi tratar de outras coisas, resistindo à sua maneira.
A
Invenção do Trabalhismo (1988), de Angela
de Castro Gomes (Ed. Relume-Dumará) - É a grande
referência para estudar o regime instaurado entre 1930
e 37 no Brasil em contraponto à historiografia paulista,
na verdade muito opositora de Vargas. Ângela leva o
trabalhismo a sério e, sem endossar o "getulismo",
consegue explicar a longevidade do regime no campo do imaginário
político.
Leia
mais: O que falta estudar: A
velha elite paulista, por Boris Fausto
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