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Plínio Marcos escreveu crônicas 'da quebrada' para Folha dos anos 1970

Dramaturgo santista dizia ser 'um repórter dos tempos que vivemos'

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São Paulo

O santista Plínio Marcos de Barros foi palhaço de circo, jogou como ponta esquerda no time juvenil da Portuguesa Santista, atacou de escritor, dramaturgo, ator e tarólogo.

No entanto, como disse à Folha em 1996, três anos antes de morrer, ele se considerava mesmo um jornalista: “Sempre fui um repórter dos tempos que vivemos.”

homem de cabelos embaraçados, grisalhos, usa boné posa para foto olhando fixamente para frente. ele está com as duas mãos erguidas
O dramaturgo e escritor Plínio Marcos em 1993 - Juan Esteves/Folhapress

Reconhecido como autor de peças que se tornaram clássicos do teatro brasileiro, como “Navalha na Carne”, encenada pela primeira vez em 1967, Plínio escreveu para jornais, como Última Hora, Diário da Noite, O Pasquim e Opinião, e revistas, como Veja e Placar.

Foi convidado a colaborar com a Folha em 1977 por Tarso de Castro (1941-1991), idealizador do caderno Folhetim, suplemento dominical de cultura publicado no final dos anos 1970 e ao longo da década de 1980.

O primeiro texto dele, “Faça de seu Prefeito um Atleta”, saiu em 4 de fevereiro daquele ano, com ilustração de Angeli, na Ilustrada.

Plínio assinou 215 textos de 1977 a 1980 em cadernos como Folhetim, Ilustrada e Folha Esportiva. Fazia reportagens e entrevistas; escrevia crônicas, pequenos contos, críticas culturais. E passava por diversos assuntos: futebol, teatro, circo, Carnaval, política. Dava especial atenção aos personagens, em geral, excluídos, como prostitutas, travestis e gays.

A crônica “Quando o Sol Raiar, Eu Irei a Cruzeiro" (Ilustrada de 2 de maio de 1977) levou o autor a ser intimado pela Polícia Federal três meses depois. Eram tempos de ditadura militar.

Não havia nada no texto que fosse, de fato, subversivo —Plínio criticava uma questão burocrática que havia prejudicado uma apresentação feita por ele no interior de São Paulo. Foi o suficiente, no entanto, para que tivesse que prestar depoimento e ser enquadrado na Lei de Segurança Nacional. Mas não chegou a ser preso.

Plínio foi afastado da Folha por alguns meses, mas logo o então editor-responsável, Boris Casoy, convidou-o a voltar a escrever sobre esportes. Com uma coluna chamada “Berrando da Geral”, ele manteve as colaborações por mais seis meses, até julho de 1980.

“Plínio escrevia textos escrachados, popularescos, divertidos, mas nada perigosos para a época. Não me lembro de nenhum texto que atentasse contra aqueles anos de chumbo”, diz a jornalista Helô Machado, que foi editora da Ilustrada de 1974 a 1984.

“As histórias do Plínio eram da ‘quebrada’, como ele dizia. Suas crônicas traziam o retrato de uma cidade que não estava nas páginas dos jornais”, conta o dramaturgo Oswaldo Mendes, autor de “Bendito Maldito - Uma Biografia de Plínio Marcos” (ed. Leya).

Segundo Mendes, que foi editor do Folhetim de 1979 a 1984, “Plínio não ficava só no fato, tinha uma abordagem mais humana nos textos para o jornal, o que lhe conferia universalidade e atemporalidade.”

O dramaturgo Leo Lama, um dos três filhos de Plínio com a atriz Walderez de Barros, era adolescente quando seu pai escrevia para a Folha. Ele se lembra de acompanhar Plínio até o prédio do jornal para entregar os textos, escritos a mão. Nessas ocasiões, o garoto aproveitava para observar as máquinas imprimindo os exemplares da Folha.

“O Plínio se baseava no Nelson Rodrigues para escrever, mas com uma linguagem muito própria”, diz Lama.

O dramaturgo, diretor e ator Mário Bortolotto gosta muito de um texto que foi distribuído durante o velório de Plínio e que foi publicado pela Folha em 22 de novembro de 1999, três dias depois da morte do autor. “Ensinamentos de Plínio Marcos” é o título.

“É um resumo do pensamento do grande dramaturgo. Gosto quando ele diz: ‘Para poder ver, é preciso esquecer a religião, a educação e a ideologia’.”

Plínio Marcos (1935-1999)

Nascido em Santos (SP), foi autor de peças como “Dois Perdidos numa Noite Suja” (1966) e “Navalha na Carne” (1967). Além de dramaturgo e ator, trabalhou como jornalista. Na Folha, colaborou como cronista e repórter de 1977 a 1980.

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