Longevidade requer segurança e proteção

Fórum Internacional discute violações a direitos dos idosos em meio à pandemia

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Alexandre Kalache

Médico gerontólogo, presidente do Centro Internacional de Longevidade no Brasil (ILC-BR)​

Proteção e segurança foram os temas abordados no Fórum Internacional da Longevidade na última quinta (25/11). A palestra de abertura coube a Margaret Gillis, presidente do Centro Internacional da Longevidade (ILC) do Canadá. Sua mensagem central foi a importância de fortalecer os direitos fundamentais das pessoas idosas.

Mesmo em seu país, com um sistema de cobertura nacional de saúde abrangente, a pandemia trouxe à tona inconcebíveis violações a direitos dos idosos. Gillis citou o exemplo de instituições de longa permanência (ILPIs), cujos funcionários abandonaram residentes fragilizados e dependentes; 85% das mortes causadas pela pandemia no Canadá aconteceram em ILPIs.

idosos sentados lado a lado em uma varanda, cada um tem uma caneca colorida
Residentes do Lar Bezerra Menezes, em Sobradinho (região administrativa do Distrito Federal), fazem atividade em meio às restrições impostas pela pandemia - Pedro Ladeira - 15.dez.2020/Folhapress

Gillis tem sido uma defensora ardorosa da adoção pela ONU de uma Convenção dos Direitos das Pessoas Idosas, a que se opõem os países desenvolvidos porque temem que o reconhecimento de tais direitos se traduza em demandas por serviços que, alegam, seriam financeiramente insustentáveis.

Ecoando suas palavras, a sessão contou com Silvia Perel-Levin, presidente da Aliança de ONGs em defesa de direitos dos idosos junto às Nações Unidas em Genebra, outra vigorosa ativista para ter a convenção adotada.

Como Silvia enfatizou, esse é o único grupo etário que ainda não dispõe de um instrumento legal vinculante a nível internacional, uma forma gritante de discriminação.

Sua intervenção foi seguida pela de seis associados do Centro Internacional da Longevidade do Brasil, todos atuantes na formulação de políticas que reforcem a segurança e a proteção de pessoas idosas.

Ines Rioto, editora de livro recém-lançado sobre a temática, frisou o direito universal da moradia digna, que vai muito além de ter um teto e perpassa políticas ambientais tanto na esfera física como na social. Ela chamou a atenção para a escassez de projetos habitacionais para o grupo etário que mais cresce no país.

O empreendedor social Morris Litivak, CEO do Maturi, criado por ele em 2015, concentrou-se na relevância de oferecer oportunidades de trabalho para os 50+, o que implica políticas de aprendizagem ao longo da vida que lhes proporcionem novas habilidades e qualificações. Todos ganham quando "maturis" experientes em busca de trabalho são pareados a empresas ávidas por tal experiência.

Maisa Kairala, geriatra com vasta experiência em imunologia e envelhecimento, ressaltou a importância da prevenção, citando o calendário vacinal ao longo do curso de vida e a tradição do Brasil neste tocante, patente pela adesão massiva dos idosos à vacinação no contexto da pandemia.

O envelhecimento ativo, saudável e sustentável depende da prevenção, da qual a imunização é um pilar fundamental.

À liderança e à visão da também geriatra Karla Giacomin, vice-presidente do ILC Brasil, deve-se a criação da Frente Nacional de Fortalecimento das ILPIs no início da pandemia, impedindo uma tragédia humanitária épica caso ocorresse aqui a experiência do Canadá. Karla lembrou que "ninguém se fortalece sozinho", o trabalho em rede é essencial.

Encerraram a sessão Ana Amélia Camarano e Laura Machado, gerontólogas de reconhecimento internacional. Lembrando que a pandemia acelerou ainda mais o envelhecimento, elas alertaram que a sustentabilidade e a produtividade do país dependerão de políticas de inclusão e reconhecimento da cidadania plena das pessoas idosas.

SÉRIE DISCUTE QUESTÕES DA LONGEVIDADE

A seção Como Chegar Bem aos 100 é dedicada à longevidade e integra os projetos ligados ao centenário da Folha, celebrado neste ano de 2021. A curadoria da série é do médico gerontólogo Alexandre Kalache, ex-diretor do Programa Global de Envelhecimento e Saúde da OMS (Organização Mundial da Saúde).

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