Filantropia no Brasil é tema de série que estreia no streaming

Idealizada pela família de Abilio Diniz, produção retrata trajetória de personalidades à frente de projetos sociais, como David Hertz e Neidinha Suruí

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São Paulo (SP)

A série documental "Meu, Seu, Nosso", que conta as histórias de referências da filantropia no país, começa a ser exibida na plataforma de streaming Aquarius nesta sexta-feira (16).

Os episódios, dirigidos por Marcos Prado e João Jardim, trazem nomes como Neidinha Suruí, ativista ambiental e indigenista, Bismarck Araújo, fotógrafo do interior da Bahia, e Lemaestro, rapper e skatista da zona leste de São Paulo.

Outros protagonistas são o chef David Hertz e a médica Vera Cordeiro, além de Ana Paula Mucunã, líder de um assentamento no Rio Grande do Norte, e Marcia Rolon, ex-bailarina do Mato Grosso do Sul.

A imagem mostra duas mulheres em um ambiente natural, possivelmente uma floresta. Elas estão olhando para cima, com expressões de curiosidade ou admiração. A mulher à esquerda tem cabelo escuro e liso, vestindo uma blusa sem mangas e possui uma tatuagem visível no peito. A mulher à direita tem cabelo cacheado e usa uma camiseta escura com a logo da marca Fila. Ao fundo, há vegetação densa e um céu claro, indicando que é um momento ao ar livre.
Mãe e filha Txai e Neidinha Suruí, ativistas pelos direitos dos povos indígenas, que participam da série - Divulgação/Breno Cunha

Com produção de Ana Maria Diniz e Zazen Produções, a série reúne, ainda, 16 especialistas nacionais e internacionais para analisar o tema das ações sociais, como a psicanalista Vera Iaconelli, a cientista social e política Neca Setubal e o escritor, roteirista e cineasta nigeriano-americano Uzodinma Iweala.

"O projeto surgiu de um contato que a Ana Maria Diniz [filha do empresário Abilio Diniz] fez comigo. Ela queria que eu elaborasse uma proposta de produto audiovisual que abrangesse diversas questões ligadas à cultura de doação", diz Prado, diretor-geral da série e produtor de filmes como "Tropa de Elite" (2007) e "Os Carvoeiros" (1999).

A série foi concluída após dois anos de pesquisa, produção, filmagens e edição. Para selecionar as sete iniciativas retratadas ao longo dos dez episódios, foram mapeados mais de 50 projetos em diferentes regiões do Brasil.

"O contato com esses personagens e com o trabalho que eles fazem me marcou bastante. Fiquei feliz de poder dar vida a cada um deles no cinema, para que outras pessoas possam conhecê-los. Foi realmente muito inspirador", diz Prado.

Trajetórias de impacto social

A primeira história contada é a de Neidinha Suruí, fundadora da ONG Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé. Filha de uma caçadora e de um seringueiro, a ativista dedicou a vida à proteção do povo Uru-Eu-Wau-Wau, denunciando e expulsando invasores de terra.

"A primeira coisa que o não indígena faz [ao invadir a terra] é construir uma casa no modelo não indígena. A segunda coisa é alimentação. Entrou e fez o contato, ele leva açúcar, café, arroz. Mas não leva escova de dente, fio dental. Aí você adoece e vicia o povo. Depois, não tem como voltar atrás", afirma a indigenista.

No episódio, Neidinha conta que já recebeu ameaças de morte, mas não cogita desistir de sua luta, hoje encampada ao lado de Txai Suruí, sua filha com o ex-marido cacique Almir Suruí.

"Quando a gente nasce indígena, a gente não tem como fugir dessa militância, do ativismo", afirma a jovem ativista e colunista da Folha.

A imagem mostra uma jovem indígena em um ambiente natural, cercada por folhas verdes. Ela usa uma camiseta vermelha com texto visível, um colar de folhas e uma coroa de flores. Seu rosto apresenta pinturas faciais em tons escuros, e ela olha diretamente para a câmera com uma expressão serena.
Ativista indígena Txai Suruí - Mauro Pimentel/AFP

Outro episódio narra a história do rapper Lamaestro, hoje diretor de operações da ONG Gerando Falcões, de Edu Lyra, e reitor da Falcons University, rede que busca impulsionar líderes em favelas do Brasil.

Nascido na periferia de São Paulo, Lamaestro enfrentou o vício em drogas e quase morreu de overdose. Depois de passar por uma clínica de recuperação, conheceu Lyra, e passou a acompanhá-lo em palestras da ONG. Com o tempo, começou a dar suas próprias palestras e a liderar uma oficina de skate.

"Um aluno da oficina me disse que me tinha como um pai, porque o dele o havia abandonado há seis anos, e os dois nunca mais se viram. Isso tocou minha vida", relembra.

Hoje, Lamaestro é uma das lideranças da Gerando Falcões e se sente confiante para inspirar jovens da periferia. "Não tenho mais medo de me expor nem de liderar, de olhar no olho. Minha autoestima não está mais enfraquecida. Os desafios, por mais complexos que sejam, não têm mais o poder de me parar", diz.

A imagem mostra um homem com cabelo curto e barba, olhando para a câmera. Ele está vestindo uma camiseta preta e parece estar em um ambiente com iluminação suave. Ao fundo, há uma parede com um padrão sutil e algumas sombras, sugerindo um espaço interno.
Lamaestro se recuperou do vício nas drogas e hoje faz parte da ONG Gerando Falcões - Divulgação/Breno Cunha

Em mais um capítulo da série, é retratada a trajetória de Ana Paula Mucunã, fundadora do Instituto Família Criativa do Campo, dentro de um assentamento agrícola no Rio Grande do Norte. Acelerada pela Gerando Falcões, a entidade assiste hoje a quase 200 famílias, capacitando crianças, jovens e adultos.

Ana Paula sofreu abuso sexual do pai quando criança, saiu de casa aos 9 anos para morar na rua, passou fome e usou drogas. Por meio de apresentações de artistas de rua, conheceu o teatro, que transformou sua vida.

"Saí de uma situação em que eu dormia embaixo de um trailer, com 12 anos, cheio de ratos e baratas, sem ter comida nem roupa, para viajar o país e transformar a vida das pessoas a partir da arte", relata.

Porém decidiu abandonar a companhia de teatro para ajudar as pessoas do lugar em que cresceu. "Resolvi abandonar tudo. Tinha um buffet, companhia de teatro, dava aula para o Sesc. E resolvi vir pra cá. Teatro eu amo muito, mas a vida das pessoas é mais importante", afirma.

A imagem mostra uma mulher sentada em uma rocha, olhando para o horizonte. Ela está vestindo uma roupa leve e tem o cabelo preso em um coque. No primeiro plano, há cactos desfocados, enquanto o fundo apresenta um céu claro. A luz do sol ilumina suavemente a cena, criando um ambiente tranquilo.
Ana Paula Mucunã, fundadora do Instituto Família Criativa do Campo, no Rio Grande do Norte - Divulgação/Breno Cunha

Outro capítulo destaca a trajetória do chef David Hertz, fundador da Gastromotiva e vencedor do Prêmio Empreendedor Social de Futuro em 2009. A ONG capacita jovens de baixa renda por meio de curso profissionalizante em gastronomia.

Após abandonar a graduação em engenharia e fazer um curso de gastronomia, o empreendedor decidiu criar o projeto social.

Um chef de cozinha está concentrado em preparar alimentos. Ele usa uma camisa cinza e um lenço roxo na cabeça. O fundo é escuro, com uma iluminação suave e algumas imagens desfocadas. O chef está manuseando caixas de papelão com um design circular.
David Hertz, fundador da Gastromotiva - Divulgação/Louise Botkay

"A gastronomia social é baseada em pessoas e tem o alimento como meio, não como fim. A gastronomia tradicional traz técnica, modelo de negócio, inovação e criatividade", explica.

"E a gastronomia social vê toda essa produção que está por volta, que pode oferecer oportunidades de trabalho e desenvolvimento humano, mas está focada na transformação das pessoas e de comunidades vulneráveis."

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