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Os
Osama bin Laden brasileiros
O Ministério
da Educação já recebeu indicações
do risco de fraudes, em todo o país, no uso das verbas
do programa Bolsa-Escola.
Espertalhões
associados a políticos estão de olho nos recursos
destinados aos brasileiros mais miseráveis, numa vulnerabilidade
especialmente aguda em períodos eleitorais.
Em Barro,
no Ceará, 15 pessoas próximas do prefeito -
todas com razoável poder aquisitivo - foram selecionadas
para ganhar a bolsa-escola. Entre elas, a filha do vice-prefeito,
a nora do presidente da Câmara Municipal e a mulher
do secretário da Agricultura.
Descobriu-se,
por exemplo, que entre os beneficiários do programa,
em Juatuba, Minas Gerais, está um indivíduo
proprietário de automóvel e de casa própria
equipada com antena parabólica. Chama a atenção
que o dono da parabólica seja ligado ao prefeito -assim
como outros aquinhoados na cidade que ganharam o direito à
bolsa-escola.
Resultado
de uma parceria que envolveu o PT, passando pelo PFL, até
o PSDB, num raro caso de unanimidade política, o Bolsa-Escola
é, de longe, a ação social mais importante
para amenizar os níveis de indigência dos brasileiros.
Uma mãe com três filhos pode ganhar, por mês,
até R$ 45 - quantia não-desprezível no
interior do Nordeste, capaz de delimitar a fronteira entre
passar fome e passar muita fome.
Neste
ano, estão previstos investimentos de R$ 1,7 bilhão
para 5,8 milhões de famílias, atingindo 10,7
milhões de crianças. Imagine 107 estádios
lotados do Maracanã para ter uma idéia da quantidade
de crianças beneficiadas.
O problema
essencial é que, no Brasil, temos excesso de picaretagem
e carência de fiscalização. Não
há gente suficiente nos governos para investigar os
desvios; a população, em particular a mais carente,
dispõe de escassos recursos para tornar públicas
as mazelas; somente resta confiar na disposição
da comunidade em denunciar e na celeridade da investigação
e da punição.
Difícil
imaginar forma pior de terrorismo social do que o abalo na
confiança em programas de renda mínima. O risco
para a segurança social do país, já precária
em quase todos os aspectos, é semelhante ao de termos
(e temos) versões de Osama bin Laden.
Não
se mata, como é óbvio, apenas com um revólver
ou com uma bomba. Pessoas morrem porque faltam educação,
saúde e alimento, o que acontece, em parte, por causa
da omissão, do descaso ou da irresponsabilidade pública.
Morte, aqui, tem um significado literal.
Acoplado
ao Bolsa-Escola, foi lançado o Bolsa-Alimentação,
que, até o final do ano, deverá gastar, segundo
as promessas do Ministério da Saúde, R$ 152
milhões, começando pelas 1.143 cidades atingidas
pela seca. Os recursos são voltados para crianças
de até seis anos e para mulheres grávidas e
em fase de aleitamento que estejam vivendo na miséria.
Destinado
a combater a mortalidade infantil e a desnutrição,
o Bolsa-Alimentação promete atender 2,7 milhões
de crianças e mais 800 mil gestantes.
Uma eventual
desmoralização do programa de renda mínima
não afetaria somente o governo federal.
Desde
que o PT disseminou nacionalmente o conceito de renda mínima,
experiências similares têm-se reproduzido velozmente
em todo o país, num esforço federal, estadual
e municipal. Essa fragmentação de ações,
diga-se, por si só, já traz o risco de desperdício.
Como todos sabem, desperdício é a marca registrada
da imensa maioria dos programas sociais brasileiros. Caso
contrário, já estariam no passado imagens de
pessoas famintas por causa da seca.
Os programas
de complementação de renda são, porém,
a melhor resposta disponível contra uma praga brasileira:
estudos e mais estudos mostram como os recursos sociais não
chegam aos mais pobres. Param, por exemplo, nos funcionários
inativos, com seus benefícios constitucionais. Ou no
seguro-desemprego, que, a rigor, só beneficia o empregado
no mercado formal. Também param quando o poder público
banca os custos para famílias de classe média
de ensino superior.
O Renda
Mínima tem o poder, pelo menos em tese, de ir para
os miseráveis, atuando diretamente nos reforços
à educação e à saúde.
Crianças
mais bem nutridas e com mais tempo na escola significam, em
poucas palavras, o essencial para um país democrático.
PS - O
desperdício faz parte da própria essência
nacional.
Estima-se
em até R$ 150 bilhões por ano o que se perde
por falta de cuidado e de educação nas mais
variadas atividades - de alimentos e água a energia
elétrica. Especialistas calculam, por exemplo, que
um prédio a mais poderia ser erguido apenas com o que
foi jogado fora desnecessariamente de três outros construídos.
E, por falar em renda mínima, o programa de Varejo
da Universidade de São Paulo (USP) informa que quase
3% do faturamento dos supermercados é jogado fora.
Tradução: apenas com o desperdício poderiam
ser entregues cestas básicas a 600 mil famílias
mensalmente.
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