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bebidas alcoólicas
27/10/2003
Conscientização ajuda a diminuir o consumo

A estratégia de informar sobre os riscos do álcool foi o bastante para que um grupo de jovens diminuísse de forma significativa o número de dias em que bebem, os drinques que tomam por dia e a quantidade de vezes que exageram nas doses.

A iniciativa, no entanto, não se mostrou capaz de reduzir o número de doses que tomam quando decidem exagerar. Nessas ocasiões, eles continuam sujeitos a consequências graves, como os acidentes com automóveis.

Esse é o resumo de um ano de pesquisa com 326 alunos de vários campi da Unesp (Universidade Estadual Paulista) que fazem uso excessivo de bebida.

A intenção era testar um método aplicado com bons resultados pelo professor Alan Marlatt, da Universidade de Washington (Seatle, EUA), entre estudantes que consumiam álcool de maneira nociva. O princípio é o da redução de danos: já que os jovens continuarão bebendo, fazer com que provoquem menos danos a eles mesmos e aos outros.

O método consiste em triar os alunos que, embora não dependentes, consumam álcool algumas vezes por semana de forma a se embebedarem perigosamente. Eles passam por duas entrevistas. Na primeira, é questionado sobre seu histórico familiar, seus projetos e a importância do beber em sua vida. Na outra, é informado sobre os efeitos do álcool à saúde.

Na pesquisa, os estudantes triados foram divididos em três grupos. A reportagem compara apenas aqueles submetidos à iniciativa com um grupo de controle, que não recebeu informação alguma. O grupo que passou pela intervenção reduziu, por exemplo, o número de drinques que bebia na semana (de 11,23 para 7,30) e o número de vezes que exagerou nos últimos três meses, que caiu de 3,09 para 1,13.

O número de drinques que bebiam nesses dias, no entanto, não mudou muito: caiu de 7,46 para 6,66. O grupo que não recebeu informação, tomou em média 7,71 drinques nesses dias de "porre".

O número de acidentes envolvendo estudantes alcoolizados também caiu, mas "permanece muito alto", diz Florence Kerr-Correa, professora do Departamento de Neurologia e Psiquiatria da Faculdade de Medicina de Botucatu e uma das coordenadoras da pesquisa.

Entre os rapazes que foram submetidos à "orientação breve", o número dos que sofreram acidentes alcoolizados caiu de 12,24 por 100 para 8,78 por 100, no período de um ano. Entre as moças, a queda foi de 10,99 para 3,33. Na média, a redução foi de 11,76 para 6,7.

O acompanhamento deve seguir por mais um ano, mas Florence Kerr reconhece que, além de informação, é preciso maior rigor na fiscalização e no controle dos locais de venda. As festas de estudantes são especialmente perigosas. "É nas chamadas bocas livres, onde a bebida é de graça, que eles bebem de forma perigosa."

Nos EUA, por exemplo, onde toda a polícia é munida de bafômetro e as punições são pesadas, o número de acidentes é menor.

"É preciso agir sobre o uso agudo, abusivo, associado a abuso sexual, sexo inseguro", diz Ilana Pinsky, coordenadora do Ambulatório de Adolescentes da Uniad (Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas) da Unifesp. "A pessoa pode falar: não bebo todo o dia. Mas se, quando bebe, são oito doses, pode ser problemático."

Kerr é favorável à participação da indústria de bebidas nas campanhas de informação e orientação dos jovens. Pinsky considera as propagandas da indústria positivas. Mas aponta que os fabricantes preferem falar somente do beber e dirigir porque isso não ameaça o consumo. Para ela, é preciso refletir sobre o tom excessivamente festivo dos comerciais.


AURELIANO BIANCARELLI
Da Folha de S. Paulo

   
 
 
 

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