Marajás
paulistanos
Os salários dos servidores
da Câmara Municipal são inchados por irregularidades, mantidas graças
à convivência da burocracia e dos vereadores.
É o que permite um
aposentado ganhar até R$60 mil mensais. Ou um servidor embolsar um salário
de R$25 mil, bem mais do que o vereador (R$4.500) ou o prefeito (R$6.000).
Uma investigação
encomendada pelo presidente da Câmara, José Eduardo Cardozo, que
deve ser divulgada hoje, detectou que as gratificações acumuladas
pelo funcionário não incidem no salário-base, como determina
a lei.
Os contracheques são
beneficiados por um efeito cascata. O reajuste é calculado em cima de rendimento
total, incluindo os benefícios garantidos pelo tempo de serviço
- o que, segundo o Ministério Público, é ilegal. Deveria
ser levado em conta apenas o salário-base.
O truque das incorporações
irregulares é apenas mais uma descoberta do que o presidente da Câmara
chama de "a biblioteca do Umberto Eco". No livro "O Nome da Rosa",
Umberto Eco criou uma inacessível biblioteca medieval, construída
em formato de labirinto. "Cada dia é uma surpresa", diz José
Eduardo.
Desde que tomou posse, ele
ficou de boca aberta ao ser informado de que dois dentistas estavam lotados em
seu gabinete. Seis funcionários, também lotados em seu gabinete,
abocanhavam, cada um, R$3.500 mensais, para cuidar de um painel eletrônico
das votações; um painel que quebra frequentemente.
Já há informações
públicas - e não menos assustadoras - da "biblioteca".
Cada vereador tem o direto de contratar até 21 assessores e consumir R$90
mil mensais. Alguns vereadores, desgostosos com seu salário, cobravam um
"imposto" de seus assessores.
Como os gabinetes acabam
recebendo funcionários cedidos pelo Poder Executivo, sobram indícios
de que o poder público esteja financiando fantasmas.
O PT sabe que vai mexer
num vespeiro, capaz de desagradar até a alguns de seus vereadores. Mas
também sabe que, se não moralizar a Câmara, sai desmoralizado,
depois de ficar por tanto tempo com o dedo apontado para falcatruas legislativas.
Descobrir bandalheiras sempre
traz riscos - para quem investiga ou para quem é investigado. A biblioteca
do livro "O Nome da Rosa", por exemplo, pegou fogo.
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