Cães
e cantores fora do Ibirapuera
Uma antiga
cena paulistana está com os dias contados: o treinamento
de pastores alemães no parque Ibirapuera. Por ordem
judicial, os cães e seus treinadores estão sendo
despejados - e a Secretaria Municipal do Meio Ambiente comemora.
Talvez
a satisfação das crianças que assistiam
ao adestramento fosse a razão de os cães gozarem
de um raro privilégio. A Associação Paulista
de Cães Pastores Alemães ocupava, sem pagar
nada, uma área quase do tamanho do campo ao lado da
avenida IV Centenário - e, ainda por cima, cobrava
pelos serviços de adestramento.
A retirada
dos pastores alemães faz parte do plano de "acalmar"
o parque. "Já passou dos limites", queixa-se
Stela Goldenstein, secretária municipal do Meio Ambiente,
convencida de que o Ibirapuera não tem condições
de abrigar tantos eventos. "Vir ao parque, em certos
dias, virou mais um estresse paulistano."
Não
são apenas os cães que perdem espaço.
Estão na mira da secretária os shows, que atraem
até centenas de milhares de espectadores. Ao final
deles, o cenário é desolador: vegetação
destruída, árvores atacadas, lixo espalhado,
lago sujo. Na lógica da economia de mercado, os consumidores
atraem os ambulantes, produzindo ao seu redor rastros de papéis
e embalagens. "Nas segundas-feiras, o parque parece um
depósito de lixo", reclama Elizabeth Barbi, professora
do Colégio Santa Cruz.
Como muitos
espectadores se comportam como animais, Stela ordenou o fim
dos megashows, sugerindo que sejam realizados, por exemplo,
no Sambódromo ou na praça Charles Müller,
em frente ao Pacaembu.
Um parque,
na visão da secretária, é um espaço
de relaxamento, de convivência, mais adequado à
música erudita que ao rock - mas é o próprio
poder público que programa os espetáculos populares,
amparado no marketing cultural.
Devido
à aglomeração, o parque frequentemente
entra na rotina da violência, como ocorreu na semana
passada. Na noite de quinta-feira, quando saía do Ibirapuera,
o jogador de basquete Ricardo Moreira recebeu um tiro que,
segundo ele, teria sido disparado por um guarda-civil que
o teria confundido com um marginal. "Acho que acabou
minha carreira de jogador", lamenta.
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