O
selvagem da motocicleta
Não
fosse famoso, Marcelo Fromer, guitarrista dos Titãs,
atropelado por um motociclista quando praticava cooper, seria
apenas mais um traço anônimo na estatística
de vítimas do trânsito em São Paulo.
Sinal
mais eloquente da selvageria urbana, apenas nos dez primeiros
dias deste mês ocorreram 193 atropelamentos, quase um
por hora, provocados pela imprevidência dos motoristas,
pela falta de fiscalização e pela escassez de
sinais de trânsito.
A imprudência
é especialmente visível entre os motociclistas
em geral -e, em particular, entre os motoboys, que correm
contra o relógio porque ganham por entrega, que fazem
manobras ousadas e que, muitas vezes, são despreparados.
"Tem muito motoqueiro picareta e moleque, que dirige
sem responsabilidade", conta Marco Antônio da Silva,
32, motoboy há nove anos.
Uma pesquisa
realizada pela CET (Companhia de Engenharia de Tráfego)
detectou que 31,5% dos motoboys percorrem de 150 km a 200
km por dia, acumulando uma monumental carga de estresse. "Já
cheguei a rodar 450 km em um único dia", afirma
Marco Antônio da Silva. O resultado dessa pressão
combinada com a baixa qualificação dos motociclistas
aparece aceleradamente nas estatísticas. De 1996 até
o final do ano passado, cresceu em 75% o número de
acidentes que envolvem motos na cidade de São Paulo.
Em 2000, foram 14.200 acidentes com motocicletas, que, a cada
dia, ganham mais espaço.
Em 1995,
estavam registradas 168 mil motos; até o final do ano,
esse número deve chegar a 400 mil. A Abram (Associação
Brasileira de Motociclistas) estima que, a continuar essa
tendência, até o final de 2001 haverá
uma morte de motociclista por dia.
Virar
estatística fúnebre é o medo cotidiano
de Marco Antônio. "Nossa vida é pura adrenalina.
É pressão vinda de todos os lados. É
a firma que quer rapidez, o cliente que quer a encomenda para
ontem. Para completar, só ganhamos por aquilo que entregamos.
É horrível, nosso rosto está sempre sujo",
diz, prometendo que, logo que puder, vai mudar de vida.
Para o
presidente do Instituto de Segurança do Trânsito,
Roberto Scaringella, uma medida já reduziria os acidentes
e aliviaria a tensão dos motoristas de automóveis:
proibir as motos de trafegar entre as fileiras de carros,
destinando-lhes uma faixa especial.
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