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RIO
DE JANEIRO
- Os jornais não deram destaque, nenhum deles contou a história daquele
servo-croata que passou horas detido no Galeão. Ele visitara o Corcovado,
se esborrachara naquela absurda escadaria que dá acesso ao Cristo,
teve de botar grampos metálicos na cabeça do fêmur, meses depois tentou
voltar para casa.
Ao passar pelo detector de metais, o servo-croata apitou por todos
os poros. Sem falar português, foi levado para uma sala, despido e
pesquisado. Convocaram uns cães que farejaram o cara de alto a baixo.
Sofreu horrores e mais sofreria se um policial, que fizera um curso
não sei onde, não entendesse o que ele tentava explicar.
Viajo com alguma frequência e tenho motivos para não gostar desses
detectores de metal, nem confiar neles. Alguns apitam contra mim,
denunciando-me o isqueiro, as chaves, algumas moedas no bolso, coisas
assim.
Pior mesmo é que tenho um pente que comprei há anos em Toledo, artesanato
local, tem uma parte metálica onde fica embutido o pente propriamente
dito. Uso-o no bolso da calça.
Ele às vezes apita, às vezes não. Outro dia, no aeroporto de Roma,
ele apitou com estridência - o que me valeu severa inspeção. Temi
que chamassem cães amestrados para me farejar.
Nos aeroportos nacionais, meu pente já criou alguns problemas. Mas
pelo menos viajo tranquilo, sabendo que o detector cumpriu sua missão.
O diabo é quando ele não apita.
Se não me denunciou, o detector de metais deve ter dado bobeira com
outros passageiros do mesmo vôo. Durante as viagens, costumo vigiar
os motores do avião, as asas, os ruídos, as nuvens, a cara dos tripulantes.
E acrescento um item às minhas preocupações aéreas, fiscalizando meus
companheiros de bordo. Outro dia, numa viagem da ponte-aérea, o cidadão
ao meu lado abriu sua pasta e dela caiu uma peixeira, daquelas fininhas
e compridas, que Lampião usava na cintura.
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20/4/2000 -
Companheiro de viagem
18/4/2000 -
O homem e
a roda
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