NOSSOS
COLUNISTAS

Amir Labaki
André Singer
Carlos Heitor Cony
Carlos Sarli
Cida Santos
Clóvis Rossi
Eduardo Ohata
Eleonora de Lucena
Elvira Lobato
Gilberto Dimenstein
Gustavo Ioschpe
Helio Schwartsman
José Henrique Mariante
Josias de Souza
Kennedy Alencar
Lúcio Ribeiro
Luiz Caversan
Magaly Prado
Marcelo Coelho
Marcelo Leite
Marcia Fukelmann
Marcio Aith
Melchiades Filho
Nelson de Sá
Régis Andaku
Rodrigo Bueno
Vaguinaldo Marinheiro

Carlos Heitor Cony
cony@uol.com.br
  25 de abril
  Ponte aérea
   
   
RIO DE JANEIRO - Os jornais não deram destaque, nenhum deles contou a história daquele servo-croata que passou horas detido no Galeão. Ele visitara o Corcovado, se esborrachara naquela absurda escadaria que dá acesso ao Cristo, teve de botar grampos metálicos na cabeça do fêmur, meses depois tentou voltar para casa.
Ao passar pelo detector de metais, o servo-croata apitou por todos os poros. Sem falar português, foi levado para uma sala, despido e pesquisado. Convocaram uns cães que farejaram o cara de alto a baixo. Sofreu horrores e mais sofreria se um policial, que fizera um curso não sei onde, não entendesse o que ele tentava explicar.
Viajo com alguma frequência e tenho motivos para não gostar desses detectores de metal, nem confiar neles. Alguns apitam contra mim, denunciando-me o isqueiro, as chaves, algumas moedas no bolso, coisas assim.
Pior mesmo é que tenho um pente que comprei há anos em Toledo, artesanato local, tem uma parte metálica onde fica embutido o pente propriamente dito. Uso-o no bolso da calça.
Ele às vezes apita, às vezes não. Outro dia, no aeroporto de Roma, ele apitou com estridência - o que me valeu severa inspeção. Temi que chamassem cães amestrados para me farejar.
Nos aeroportos nacionais, meu pente já criou alguns problemas. Mas pelo menos viajo tranquilo, sabendo que o detector cumpriu sua missão. O diabo é quando ele não apita.
Se não me denunciou, o detector de metais deve ter dado bobeira com outros passageiros do mesmo vôo. Durante as viagens, costumo vigiar os motores do avião, as asas, os ruídos, as nuvens, a cara dos tripulantes.
E acrescento um item às minhas preocupações aéreas, fiscalizando meus companheiros de bordo. Outro dia, numa viagem da ponte-aérea, o cidadão ao meu lado abriu sua pasta e dela caiu uma peixeira, daquelas fininhas e compridas, que Lampião usava na cintura.


Leia colunas anteriores
20/4/2000 - Companheiro de viagem
18/4/2000 -
O homem e a roda


| Subir |

Biografia
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A - Todos os direitos reservados.