O
primeiro grande debate nacional do ano será a flexibilização
do sigilo bancário, aprovada no Congresso, ainda aguardando
o crivo da Justiça _ estão em jogo bilhões de reais dos
sonegadores e a discussão de um princípio constitucional.
O debate provoca suspense porque, inevitavelmente, cairá
no Supremo Tribunal Federal, onde já se sabe que juizes
estão dispostos a dinamitar o projeto lançado pelo governo
e apoiado pela oposição.
Não me sinto em condições de dar uma opinião técnica sobre
a se é a flexibilização é ou não constitucional.
Posso dizer, entretanto, que não me sinto invadido em minha
intimidade nem privacidade se o governo, especificamente
a Receita Federal, tiver acesso ao extrato da movimentação
da conta bancária.
De acordo com o projeto, a Receita Federal não quer saber
onde gasta o dinheiro, se na educação dos filhos ou no motel,
mas quanto entrou em conta. Não vejo por que essa informação
deveria ser sigilosa _ afinal, o que entra na conta deveria
ser dinheiro legal e limpo.
Há nesse debate uma notável hipocrisia. As contas não são
sigilosas; são conhecidas dos funcionários dos bancos, o
que, por tabela, é do conhecimento do Banco Central. A gerente
do meu banco, assim como sua assistente, podem consultar
quando quiserem minha conta. Não me sinto invadido.
O problema, então, não é que as contas sejam conhecidas
_ mas se quem as conhece pode detectar e punir sonegação.
Seja qual for a decisão da Justiça, o poder público deve
ter recursos mais ágeis para detectar e punir condenação.
Do contrário, os pagadores de impostos _ os trabalhadores
que descontados diretamente no contracheques e os empresários
cumpridores da lei _ vão fazer indefinidamente papel de
otários.
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